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BAIÃO CANAL - Jornal

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Natércia Teixeira | “O politicamente correto..."

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“O politicamente correto, continua a ser o melhor disfarce para o intelectualmente estupido”

Guilherme Fiuza

O conceito descreve expressões, políticas e ações que evitem ofender, excluir ou marginalizar pessoas ou grupos que são vistos como diferentes ou desfavorecidos.

É indiscutível obenefício de códigos de conduta que promovam princípiosde respeito por todos, convém no meu entendimento, não nos deixarmos estrangular por regras, ao ponto de nos tornarmos obtusos.

Assisti incrédula no passado dia 1 de Abril, tradicionalmente designado por dia das “mentiras” a uma indignação bastante expressiva, tanto em número como em tom, pela supostaapologia de um comportamento, obviamente errado.

Recuando ao sec. XVI, depois da adoção do calendário gregoriano em que o início do ano ocorre a 1 de Janeiro, alguns franceses continuaram por teimosia ou convicção a comemora-lo a 1 de Abril como era tradição até 1564.

Para ridicularizar os casmurros, alguns galhofeiros,engendravam planos para os convidar nessa datapara festas que não existiam, daí se passar a designar o dia 1 de Abril como o Dia das Mentiras.

Como se percebe, a génese, da agora controversa data assenta afinal de contas em brincadeiras absolutamente inofensivas.

Não tão inócua parece-me ser a confusão instalada sobre a fronteira que separa uma ofensa de uma brincadeira…onde começa uma e termina a outra.

Contribui para esta falta de discernimento quanto aos limitesum crescente e generalizado, mais ou menos hipócrita, excesso de suscetibilidade e um não tão hipócrita e pouco abonatório,estreitamento da capacidade salutar e inteligente de nos rirmos uns com os outros e de nós mesmos.

Suponho que nisto como em tudo o bom senso é um bom fiel da balança.

Acredito também que o défice generalizado de sentido de humor se prende muito poucocom as condições adversas que vivemos globalmente ou com as que cada um carrega particularmente e muito mais se poderá atribuir ao espartilhamento mental a que somos induzidos e a que estamos sujeitos.

Somos, desde muito cedo formatados para a seriedade e chegamos à idade adulta, velhos e sem sentido de humor.

Temos a sorte de a vida nos dar oportunidade e por regra tempo para reconsiderar a postura…aprender, treinar e aprimorar…chegar à meia-idade com sabedoria suficiente para perceber que o caminho para a felicidade passa pornão nos levarmos demasiado a sério.

Partindo desse principio talvez seja de maior inteligência esquecer moralismos inúteis e brincar como se brincava no tempo em que a única preocupação era apelar à criatividade para engendrar a melhor patranha.

Pessoalmente não constatei ter havido dano no colega que há uns bons anos atrás foi mandado à papelaria comprar tinta para o selo branco, nem tenho conhecimento de trauma na colega estagiaria que foi induzida a ir ao gabinete da presidênciaporque supostamente a teriam lá chamado para a repreender por uma qualquer gafe.

Também não tenho memória de nesse tempo alguém se lembrar de considerar impróprio existir um dia dedicado à chalaça…talvez porque não existia o politicamente correcto…existia o correcto, o incorrecto, o inteligente e o estupido….sendo certo que desseultimo não há politica que nos salve.

Natércia Teixeira