Volto a escrever aqui sobre ser mulher e dedico, novamente, a todas as mulheres da minha vida e “da minha alma” (tal como Isabel Allende em Mulheres da Minha Alma). Tenho duas filhas, de 15 e 19 anos, que levam muito a sério as questões da igualdade entre homens e mulheres, percebendo o quanto este conceito emana da liberdade e da não descriminação. Entendem que esta igualdade significa aceitar e valorizar de igual modo as diferenças entre mulheres e de homens e os vários papéis que desempenham na sociedade e que isto de traduz a essência do movimento feminista. O caminho que fizermos será aquele que lhes permitirá, a elas e todas as raparigas e mulheres, serem livres de desenvolver as suas aptidões pessoais, de prosseguir as suas carreiras e de fazer as suas escolhas sem limitações impostas por estereótipos, preconceitos e conceções rígidas dos papeis sociais atribuídos a homens e mulheres. A igualdade entre mulheres e homens é considerada uma questão de Direitos Humanos e uma condição de justiça social, necessária para que as sociedades se tornem mais modernas e mais equitativas. É, por isto, um requisito para o desenvolvimento e uma condição para o exercício efetivo e pleno da cidadania. Infelizmente, a desigualdade existe, por isso prosseguimos num caminho de luta.
Celebrar o dia 8 de março é celebrar os direitos que as mulheres conquistaram até agora, mas também relembrar que ainda há muito por fazer. Causas como o direito ao voto, igualdade salarial, maior representação em cargos de liderança, a proteção em situações de violência física ou psicológica, ou ainda o acesso à educação continuam atuais. Há mais de um século, o Dia Internacional da Mulher é um símbolo das lutas e reivindicações pelos direitos das mulheres. O 8 de março é um momento de reflexão sobre as conquistas das mulheres, mas também um momento de reafirmação da luta contra o sexismo e as desigualdades de género. A Organização das Nações Unidas incorporou, em 1975, esta data no calendário internacional.
Durante os dois anos de pandemia que vivemos, foram a mulheres as primeiras a perder o emprego e/ou a serem transferidas para novos níveis de precariedade. Foram as mulheres as mais sobrecarregadas, acumulando funções em teletrabalho com os cuidados aos filhos, e que sentiram as maiores dificuldades em conciliar a vida profissional com a familiar e pessoal. Assistimos ainda aos níveis avassaladores de violência de género, com destaque para as elevadas denúncias do crime de violência doméstica e o aumento das agressões sexuais e o assédio contra mulheres. Ser mulher ainda significa ser mais vulnerável. Em tempos de guerra, como se vive na Ucrânia, muitas mulheres fogem dos seu país, trazendo os seus filhos, dando origem a números assustadores de mulheres e crianças refugiadas que requerem particular atenção. Outras mulheres, na Ucrânia, preferiram ficar no seu país, lutando, protegendo a sua comunidade e defendendo ativamente a liberdade e a independência, em atos de grande resiliência.
A mudança efetiva tem-se mostrado difícil e lenta para a grande parte das mulheres e raparigas do mundo. Muitos têm sido os obstáculos que permanecem inalterados na lei e na cultura de muitos países. As mulheres continuam a ser desvalorizadas, algo que se traduz, entre outras coisas, nos seus salários: de acordo com a ONU, atualmente, as mulheres continuam a ganhar menos 23% que os homens. Mais graves ainda são os números relativos à violência sexual contra as mulheres: 1 em cada 3 mulheres já sofreu algum tipo de violência física ou sexual; e mais de 200 milhões de mulheres e raparigas foram vítimas da mutilação genital. As violações de direitos, as desigualdades e a violência contra as mulheres são várias, complexas, distintas e tantas vezes invisíveis. Por tudo isto, é tão importante continuar a marcar datas como o 8 de março, Dia Internacional da Mulher. Por tudo isto, continua a ser fundamental combater toda e qualquer forma de discriminação, desigualdade, desrespeito, violência contra as mulheres. Não quero flores neste dia, quero que lutem ao meu lado!