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A Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR), a Guarda Nacional Republicana (GNR) e a Polícia de Segurança Pública (PSP) lançam amanhã, dia 31 de outubro, a Campanha de Segurança Rodoviária “Taxa Zero ao Volante”, inserida no Plano Nacional de Fiscalização (PNF) de 2023.
Esta campanha vai arrancar com duas ações de sensibilização e de fiscalização, que terão lugar na madrugada de 31 de outubro para 1 de novembro: uma, com início à 1h30 na EN-10 Acesso à Pista de Atletismo Carla Sacramento, Amora; a outra, a partir das 3H00, na rotunda de acesso à A21 na Ericeira.
A decorrer entre os dias 31 de outubro e 6 de novembro, a campanha tem como objetivo alertar os condutores para os riscos da condução sob a influência do álcool.
Um em cada três condutores mortos em acidentes de viação apresenta uma taxa de álcool no sangue igual ou superior a 0,5 g/l e três em cada quatro destes condutores apresentam uma taxa igual ou superior a 1,2 g/l.
Vários estudos científicos demonstram que conduzir sob a influência do álcool causa várias perturbações, designadamente, ao nível cognitivo e do processamento de informação, bem como alterações na capacidade de reagir aos imprevistos e descoordenação motora.
A campanha “Taxa Zero ao Volante” integrará:
Ações de sensibilização da ANSR em território continental e dos serviços da administração regional da Região Autónoma dos Açores e da Região Autónoma da Madeira;
Operações de fiscalização, pela GNR e pela PSP, com especial incidência em vias e acessos com elevado fluxo rodoviário e de acordo com o Plano Nacional de Fiscalização 2023, de forma a contribuir para a diminuição do risco de ocorrência de acidentes e para a adoção de comportamentos mais seguros por parte dos condutores no que respeita à condução sob a influência do álcool.
As ações de sensibilização ocorrerão em simultâneo com operações de fiscalização nas seguintes localidades:
Dia 1 de novembro, às 01h30: EN-10 Acesso à Pista de Atletismo Carla Sacramento, Amora;
Dia 1 de novembro, às 03h00: Rotunda de acesso à A21 – Ericeira;
Dia 2 de novembro, às 20h00: Rua da Trindade, Porto;
Dia 3 de novembro, às 16h00: EN333 – Soza e EM591-2 – Ponte da Vagueira, Aveiro;
Dia 6 de novembro, às 21h00: Largo de Camões, Faro.
A ANSR, a GNR e a PSP relembram que a condução sob a influência do álcool é um risco para a sua segurança e a dos outros:
Com uma taxa de álcool no sangue de 0,5 g/l o risco de sofrer um acidente grave ou mortal duplica;
Os acidentes que decorrem da condução sob a influência do álcool são particularmente graves;
O álcool diminui o campo visual, provocando a chamada visão em túnel. Esta perda de capacidades, bem como as alterações de comportamento que podem levar a estados de euforia e de desinibição, aumentam de forma muito significativa o risco de envolvimento em acidentes rodoviários.
Das 11 campanhas de sensibilização e de fiscalização planeadas no âmbito do PNF de 2023, esta ação é a décima. Até ao final do ano será realizada mais uma campanha, no final do mês de novembro, com ações de sensibilização e de fiscalização.
As campanhas inseridas nos planos nacionais de fiscalização são realizadas anualmente pela ANSR, GNR e PSP, desde 2020, com temáticas definidas com base nas recomendações europeias estabelecidas para cada um dos anos.
Nas nove campanhas que decorreram este ano, foram realizadas 42 ações, durante as quais mais de 3.600 pessoas foram sensibilizadas presencialmente. Quanto a ações de fiscalização, o número de condutores fiscalizados presencialmente foi superior a 445.000 e cerca de 10 milhões de veículos foram fiscalizados através de radares.
A sinistralidade rodoviária não é uma fatalidade e as suas consequências mais graves podem ser evitadas através da adoção de comportamentos seguros na estrada.
A D de Ancede na sua deslocação a Rans, para defrontar o Croca, empatou a Zero!
Consulte reultados e classificação
A AD de BAIÃO recebeu e venceu a ADC VÁRZEA DOURO por 2-0 , com golos de Eusébio e Rafa! Com este resultado a AD Baião subiu ao segundo lugar, com 12 pontos, a 4 pontos de Cête, primeiro classificado
Consulte resultados e classificação
A AD Baião recebe a ADC Várzea do Douro!
Será mais um jogo de forte motivação para os bravos de Baião, de recordar que os homens de Várzea são segundos, com mais 2 pontos (11) que os Baionenses (9) que ocupam a quarta posição!
Apoia a tua equipa! O teu apoio é importante
No próximo domingo, dia 29, 15:30, a AD de Ancede vai medir forças frente ao A.C. Croca! O jogo será no Complexo Desportivo de Rans
O colectivo Ajaquemdiga, do Núcleo AJA Norte, convida todos e todas a juntarem-se a esta sessão, celebrando em fraternidade a palavra embrulhada em poesia.
Prova do ACP da Taça do Mundo FIA de Bajas arranca amanhã com 415 equipas inscritas, de 20 nacionalidades. A 37.ª edição, que decorre até sábado conta com Nasser Al-Attiyah, cinco vezes vencedor do Dakar e bicampeão do Mundo de Rally-Raid.
Na cerimónia de partida, quinta-feira à noite, vão passar pelo centro de Portalegre 415 equipas, distribuídas pelas categorias de Automóveis (112), Motos (99), Quads (36), SSV (84), Promoção / Hobby (59) e Mini Baja (25).
As chuvas fortes das últimas semanas podem aumentar o grau de dificuldade do percurso de 439 quilómetros cronometrados para os automóveis (num total de 668,9 quilómetros), de 368,1 quilómetros cronometrados para as motos, SSV e quads (total de 524,2 quilómetros), e de 183,7 quilómetros para as categorias Promoção e Hobby (240,3 quilómetros no total). Como é habitual, a competição começa com o popular Prólogo de 3,7 quilómetros na Herdade das Coutadas, na manhã de sexta-feira, que antecede um setor seletivo com 61,8 quilómetros cronometrados. No sábado, os automóveis têm mais dois setores seletivos (que perfazem 373,5 quilómetros), enquanto as motos, SSV e quads percorrem um setor único, com 303 quilómetros de extensão.
O parque de assistência e o centro operacional da prova estão localizados no NERPOR, que também recebe a conferência de imprensa final, prevista para as 18h00 de sábado, e a cerimónia de entrega de prémios, às 20h30.
O regresso de Nasser Al-Attiyah
A Baja Portalegre 500 é a antepenúltima prova da Taça do Mundo FIA de Bajas, antecedendo as rondas no Dubai e na Jordânia. Pontuável para a competição mundial de pilotos, co-pilotos, equipas, pilotos T3, pilotos T4 e equipas T4, esta é também a mais importante ronda dos Campeonatos de Portugal de Todo Terreno da FPAK e da FMP.
Na lista dos automóveis, destaque para Nasser Al-Attiyah, o atual líder da Taça do Mundo de Bajas, que recentemente se sagrou bicampeão do Mundo de Rally-Raid, no Rali de Marrocos. O cinco vezes vencedor do Dakar vai estrear-se ao volante de um Prodrive Hunter, precisamente o carro com que Sébastien Loeb tem brilhado no Mundial de Rally-Raid e que, pela primeira vez, vai estar em ação, em Portugal. Apesar do ilustre palmarés do piloto e príncipe do Qatar, que inclui títulos mundiais nos ralis, TT e uma medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Londres em 2012, Al-Attiyah nunca conseguiu vencer a Baja Portalegre 500.
Um dos principais adversários de Al-Attiyah promete ser João Ferreira, que, em 2022, se tornou o mais jovem vencedor de Portalegre e de uma prova da Taça do Mundo FIA, surgindo agora ao volante do Mini JCW T1+ com motor alimentado a biodiesel. O ex-campeão nacional e europeu, que recentemente venceu o Rali de Marrocos na categoria T4, com Filipe Palmeiro, já conhece bem as Toyota Hilux T1+ a gasolina, onde estão nomes como o saudita Yazeed Al-Rajhi, navegado por Timo Gottschalk, ou os campeões nacionais Tiago Reis e Valter Cardoso, que chegam a Portalegre motivados pela conquista do seu terceiro título no CPTT. Com uma vasta experiência em Portalegre, João Ramos (navegado por Jorge Carvalho) e Miguel Barbosa (com Paulo Fiúza) são também candidatos aos primeiros lugares, também com as Hilux T1+.
No ano passado, os SSV da categoria T3 ficaram a escassos 21,7s de um inédito triunfo à geral em Portalegre, por intermédio de João Dias e João Miranda (Can-Am), que este ano voltam à carga, tal como Luís Portela de Morais e Tomás Neves (ORT3), que fecharam o pódio absoluto em 2022. Nesta categoria há vários candidatos a um lugar de destaque, como Armindo Araújo e Luís Ramalho (Can-Am), que chegaram a liderar a prova à geral no ano passado e que atualmente comandam o CPTT nos T3. Ricardo Porém, único piloto a vencer a Baja Portalegre 500 quatro vezes seguidas (entre 2014 e 2017), estreia-se nos T3 com um Can-Am, a caminho da sua 15.ª participação! E o que dizer das 33 participações (em 37 possíveis) de Carlos Silva, consagrado navegador que este ano acompanha o jovem algarvio Francisco Barreto, numa Toyota Hilux T1+…
Títulos em aberto
Nas motos, não será reeditado o emocionante duelo que opôs António Maio e Simão Ventura no ano passado, decidido a favor do pluricampeão nacional por uns incríveis 0,1s após 414,2 quilómetros. Simão Ventura lesionou-se recentemente, mas a lista das motos tem um plantel extenso, de qualidade e com o título nacional TT3 ainda por decidir. António Maio (Yamaha) já renovou o seu título de campeão absoluto e parte em busca da nona vitória em Portalegre, num fim de semana onde Sebastian Bühler regressa às provas nacionais, com a Hero oficial. Outros destaques são os pilotos Honda - Gustavo Gaudêncio, Fábio Magalhães, João Duarte, Gonçalo e Salvador Amaral -, da Husqvarna - Bruno Santos, Miguel Castro e Daniel Jordão - e ainda Bernardo Megre (KTM), David Megre (Kawasaki), Tomás Dias (Fantic) ou André Sérgio (Beta). O título TT3 será discutido entre Bruno Santos e Fábio Magalhães.
Nos quads, João Vale venceu o ano passado e surge em Portalegre com o Can-Am Renegade XXC, mas este ano a luta pelo título de campeão envolve Luís Fernandes (Yamaha), líder do campeonato após três vitórias, e os jovens Rafael Carvalho (Yamaha) e Rodrigo Alves (Yamaha).
A lista de candidatos à vitória nos SSV é extensa e inclui três ex-campeões nacionais que estão em luta direta pelo título: João Monteiro, Pedro Santinho Mendes e Roberto Borrego, todos em Can-Am. Gonçalo Guerreiro, o campeão em título e vencedor das últimas duas edições em Portalegre, lidera a ofensiva dos Polaris, com o seu irmão Tiago Guerreiro, enquanto Luis Cidade, Hélder Rodrigues e Nelson Caxias, todos em Can-Am, também têm argumentos para lutar pela vitória. No campeonato Stock o título será decidido entre Nelson Saramago (Polaris), Rui Serpa (Can-Am) e Paulo Fernandes (Yamaha), sendo este o representante português na SuperFinale Europeia da Taça Yamaha YXZ1000R, que pela quarta vez se realiza em Portugal.
Mini Baja a olhar para o futuro
A prova do ACP inclui a categoria de Mini Baja, destinada a jovens pilotos dos 8 aos 16 anos de idade, divididos pelas classes Infantis, Iniciados e Juvenis. Integrada no Campeonato de Mini TT da FMP, é um momento importante quem aspira seguir as pisadas das estrelas nacionais do TT e Rally-Raids que fizeram história em Portalegre e no Dakar. Domingos Cunha (Yamaha) e Bernardo Caiado (Gas Gas) lideram as classes Juvenis e Iniciados, enquanto Francisco Porto Nunes (Yamaha) já é campeão entre os Infantis.
O percurso da Mini Baja inclui uma passagem pelo Prólogo, na sexta-feira, e um Setor Seletivo com cerca de 85 quilómetros (e paragem a meio para reabastecimento) no sábado.
Baja Portalegre 500 é Ecoevento
A Baja Portalegre 500 conta com um Plano de Sustentabilidade Ambiental que confere o estatuto de “Ecoevento” à prova do ACP. Em parceria com a empresa Valnor e com os municípios de Portalegre, Ponte de Sor, Nisa, Gavião, Crato, Chamusca, Alter do Chão e Abrantes, a organização pretende atingir objetivos mensuráveis de sustentabilidade ambiental ao longo do evento, em linha com os códigos ambientais da FIA e da FIM.
Tal como em anos anteriores, o trabalho desenvolvido com a Valnor aponta à redução da quantidade de resíduos produzidos, à separação de embalagens e à recolha seletiva e encaminhamento para reciclagem dos resíduos. Nos diferentes locais onde o evento se realiza, em particular nas zonas de maior afluência de público (NERPOR, Prólogo e Zonas Espetáculo), são disponibilizados contentores e ecopontos para a triagem dos resíduos, sendo os participantes, equipas de assistência e espectadores incentivados a contribuir para a correta separação dos resíduos. São ainda promovidas ações de formação e de sensibilização locais, para divulgar as melhores práticas de reciclagem.
No final do evento, o valor determinado pela recolha dos resíduos produzidos durante o evento, entregue pelo ACP à Valnor, reverterá na íntegra para os Bombeiros Voluntários de Portalegre.
A Câmara Municipal de Baião vai apresentar, no dia 26 de outubro, pelas 18h00, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, o projeto de Gestão de Biorresíduos sob o lema “O Resto No Lugar Certo”. Trata-se de uma campanha de recolha seletiva de biorressíduos (restos de comida), incentivando a maximização e valorização deste recurso que permite a produção de biogás e de composto orgânico para fertilização dos solos, além de diminuir a quantidade de resíduos enviada para aterro.
Sobre o projeto a implementar no concelho na sequência da aprovação da candidatura do município ao Fundo Ambiental, no âmbito do Programa de Apoio à Elaboração de Estudos Municipais para o Desenvolvimento de Sistemas de Recolha de Biorresíduos, o vereador do pelouro do Ambiente, Henrique Ribeiro, sublinhou que “é mais um passo importante, em linha com as políticas ambientais e de sustentabilidade do concelho, rumo a um futuro cada vez mais verde. No caso dos biorresíduos, ao fator ambiental acresce o económico, aproveitando-se para rentabilizar os resíduos na produção de energia e de fertilizantes orgânicos 100% naturais, além de diminuirmos a deposição em aterro. Todos temos a ganhar. Por isso, estou certo de que os baionenses darão uma resposta positiva”, frisou o autarca.
Empenhado no sucesso desta campanha, o município vai oferecer aos baionenses um balde ou contentor para facilitar a separação, fazendo a divulgação do modo correto de contribuir – separando a comida deixada no prato, comida fora de prazo de validade, restos da confeção das refeições (cascas de ovos, legumes, fruta, saquetas de chá, borras de café…). Em pontos específicos do concelho, junto aos aglomerados populacionais, serão instalados novos contentores onde deverão ser depositados os biorresíduos, com recurso a um cartão de acesso disponibilizado pela autarquia.
De acordo com o programa do Fundo Ambiental, a campanha vai ser implementada no território de forma faseada, em função da dimensão populacional, devendo, posteriormente, alargar-se à totalidade do concelho.
- Todos os resíduos que não reciclamos têm um custo ambiental e económico.
- Abraçar a sustentabilidade é uma responsabilidade de todos.
- Dê valor ao que ainda pode valorizar.
- Para mais informações relativas ao projeto, poderá consultar o site www.cm-baiao.pt ou contatar através do telefone 964 501 216.
- Junte-se a nós em direção a um futuro mais verde e sustentável.
A Redacção vivia dias empolgantes, mas também ansiosos. Trabalhava-se com afinco e entusiasmo, na preparação de um novo jornal. Em tempos de ditadura, o velho "Diário do Norte" , vespertino do Porto, acabara a sua publicação. Defensor patético do regime, tornara-se da cor da cinza, deixando de interessar os próprios leitores situacionistas. Em sua substituição, preparava-se um jornal novo, a expensas de um banco da Invicta.
Para director foi convidado o Dr. Alberto Uva, um algarvio que fez carreira de professor na capital do Norte. Era homem afável, um gentleman de escrita elegante. A Redacção
que dirigiu ancorava em jornalistas de reconhecida competência. Era o caso do
Rodrigues Alves que assumiu a chefia, do Abílio Valle Fernandes, do vibrátil Arsénio
Mota a quem se deve a belíssima tradução do "Confesso que vivi" de Pablo Neruda.
Alguns jornalistas do extinto "Diário do Norte" foram também repescados. Foi o caso do Devesas, do Sarrasqueiro ocupado com a Secretaria, e de um ou outro humilde
plumitivo. Numa mescla bem urdida, o corpo redactorial integrava ainda jovens
universitários, homens e mulheres, vindos directamente da Faculdade de Letras do
Porto.
Acima de todos, até do próprio director, pairava a figura de Metzner Leone. Homem de
extrema direita, dele se dizia, não sei se com verdade ou não, ter sido espião duplo
durante a segunda guerra mundial. Brilhante na escrita, brutal no trato, conhecedor
profundo do jornalismo, que cultivou durante anos no Brasil, ditador por vocação,
trabalhador eficiente e deficiente no carácter, assim ele era. Inspirava, simultaneamente,
admiração e medo. Foi com ele que me defrontei, no dia em que decidi tornar-me
jornalista.
Entrei cedo nas instalações do jornal, localizadas na Rua Álvares Cabral, um pouco a baixo da antiga sede do velhinho Salgueiros, simpático clube de bairro da cidade. Disse ao
porteiro ao que ia. Momentos depois tinha Metzner Leone pela frente. Alto, grisalho,
carrancudo, trovejou: «Não há vagas, a Redacção está completa. Mas se quiseres há
uma hipótese na Revisão». Com a guerra colonial ainda à flor da pele, fiquei em brasa.
Decidi-me por um golpe-de-mão. Imperioso era apanhar o inimigo de surpresa.
Com falsa modéstia aceitei a proposta para revisor. Diante de mim tinha agora um texto
enxameado de gralhas para detectar e corrigir. Com espanto, uma jovem jornalista
encarregada de vigiar a prova, viu-me pôr de lado o texto das gralhas e sobraçar uma
resma de folhas A4, os chamados linguados, ou laudas, na gíria do jornalismo.
Inebriado pela adrenalina, lancei-me numa escrita desenfreada, num ataque feroz à
forma como fora recebido. Perorei também sobre os maus caminhos que o País teimava
em trilhar e das pessoas que, colocadas em lugares-chave, ajudavam a manter vivo todo
esse desvario...
Também deixei conselhos: que nunca mais ali voltem a impedir alguém de fazer provas
para jornalista sob o argumento de o quadro estar completo. E se aparecer um
predestinado, conforme era o meu caso? Terminei a demolição da coisa de forma
surpreendente: anunciei a minha disponibilidade para integrar a Redacção. Ao fim de
dez minutos raivosos, levantei-me, entreguei as folhas à estupefacta jornalista e saí de
queixo levantado.
Ao entrar em casa, deram-me a notícia chegada pelo telefone: «Um senhor com voz de
importante mandou-te estar às oito horas da manhã, no "Diário do Norte" ...» O golpe- de-mão, fulminante como eles se querem, tinha resultado. Afinal sempre iria fazer
provas para jornalista.
Passado o primeiro entusiasmo, uma dúvida: não seria aquilo um ajuste de contas? Uma
oportunidade para uma troca de palavras azedas testemunhadas por algum informador
da Pide? Naquele tempo era assim que se pensava. Mas fui...
«Anda comigo». Senti-me como rês a caminho do matadouro. Levou-me para a
Redacção, àquela hora repleta. Os jornais vespertinos começavam a laborar muito cedo.
Começou por dizer. «Ouçam o que este chico esperto nos escreveu». E pôs-se a ler o
meu texto, enfatizando as partes mais gravosas. No final, deu-me razão naquele ponto
em que eu entendia nunca se dever negar provas a candidatos a jornalistas. Depois
passou ao ataque, informando-me que me iria sujeitar a três testes. O objectivo não o
escondeu: «Como não gosto de chicos espertos quero ter o gozo de te ver falhar e pôr-te
no olho da rua...»
Os testes eram provas práticas: uma notícia que fosse "cacha" com pouco tempo, diga-se, para a descobrir e redigir; uma entrevista também com apenas uma manhã para a
realizar e escrever, e a terminar, uma crónica em quinze minutos. A minha necessidade
de vencer a soberba daquele brilhante e intratável senhor revelou-se superior às
dificuldades das provas. Na guerra dizia-se que a sorte protege os audazes. Também
dela beneficiei. Diria que, pela primeira vez, Metzner Leone me olhou a sério ao dizer-me em tom solene: «És dos nossos. Ficas cá».
Passei então a integrar a Redacção e a dizer aos amigos, com vaidade, que era jornalista.
Fiquei na secção chefiada pelo Abílio Valle Fernandes que, pacientemente, me
ministrou preciosos ensinamentos sobre o ofício. Entretanto, íamos fazendo o chamado
jornal-piloto de que eram impressos reduzido número de exemplares. E que fantásticos
eles eram! Como essas edições-piloto não vinham para a rua, não passavam pela
censura. Deslumbrados, sobretudo as e os jovens jornalistas, escreviam à vontade sobre
o triste fadário de um país atrasado e acabrunhado.
Durou pouco esse meu primeiro contacto com a profissão. De forma inesperada,
confrontámo-nos uma manhã com um comunicado da administração a informar que se
encontrava suspenso o projecto do novo jornal. Machadada terrível na vida das pessoas
que, iludidas por melhores remunerações, se despediram dos antigos empregos. Nessas
horas de frustração e até desespero, lembro-me do conselho do Arsénio Mota, o tal do
"Confesso que vivi": «Foge disto. És novo, arranja outra profissão. O jornalismo é uma má amante», conselho que afinal não segui. Entretanto, teria de dizer aos amigos, agora
sem vaidade, que já não era jornalista.
Exumei esta história de passado distante no dia do nascimento do "Baião Canal Jornal".
Não foi por acaso. Quis estabelecer um paralelo de um Portugal de dois tempos.
Lembrar aos outros e a mim próprio de como são incomparáveis essas duas eras.
Valorizar a diferença que existe entre ditadura e obscurantismo e liberdade de
pensamento e de expressão.
Numa época em que forças de extrema direita se movimentam à luz do dia, a valorização e a preservação dessa diferença essencial é, seguramente, meta para este
novo meio de comunicação que hoje nasce.
Jaime Froufe Andrade ( Jornalista, escritor )
O autor não escreve segundo o novo acordo ortográfico