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BAIÃO CANAL - Jornal

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Jaime Froufe Andrade | Histórias avulso

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(A pandemia pôs-nos à espera do futuro. Parados pelo vírus, talvez seja tempo para percebermos o que deixámos para trás. É essa a proposta de Histórias avulso)

Adoptivo

Logo traga gravata. Vai ao jantar da Maria Lamas. Temos de noticiar quem irá dar as boas-vindas. António Valdemar deu a ordem e vaticinou: Mestre, vai haver quem não ponha lá os pés. Com medo.

Valdemar era o chefe. Chamava-me mestre, eu estagiário na delegação de O Primeiro de Janeiro, chegado de fresco a Lisboa, tratamento que relevava a minha condição de aprendiz.

Paradela de Abreu, editor, entra apressado no gabinete de António Valdemar. Curioso, entro também. Embasbacado, olhos numas folhas que Paradela lhe mostra, o chefe. Eram as primeiras provas tipográficas do Portugal e o Futuro.

O editor, com trejeitos de cabeça, alerta que não estão sós. Valdemar levanta os olhos, encara-me. Estou a mais, percebo: não era assunto de estagiário.

Nesse tempo, relação cúmplice tinha eu com um camarada norueguês. Ficou-me grato por o ter introduzido nas pataniscas de bacalhau e no tinto do Cartaxo, num discreto restaurante das Escadas do Carmo. Confessou-me ter interrompido uma reportagem com a guerrilha na América Latina, para vir a Lisboa cobrir um golpe. Um golpe de Estado! Estranhava que eu, jornalista, nada soubesse.

A informação que recebera, dizia, era segura. Os dias passavam. Quando uma força do Exército saiu do quartel das Caldas, o norueguês assegurou: A agência com quem trabalho disse-me que ainda não chegou a hora. Sempre me interroguei que agência seria.

O dia chegou. A festa foi pródiga. No meu caso, três dias sem ir à cama, sempre a carrear notícias da rua para as páginas do jornal. Os factos sucediam-se. Todos marcantes: a História a acontecer ao segundo.

Quem é este, agora? Interroguei-me. À minha frente, Álvaro Cunhal! A chispa no olhar, a clareza do discurso, ali mesmo deram para antecipar que a gente do trabalho o adotaria como líder. Eu, adoptado já pela profissão, a vaticinar. Tal qual o chefe.

Homens de Letras: CUNHAL/100ANOS/CEM PALAVRAS

Rita Diogo | A minha liberdade

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A liberdade é um conceito social, político, pessoal, complexo e diverso. É um conceito que é sentido de forma diferente conforme as vivências de cada pessoa, consoante o que as oprime, porque só se percebe a verdadeira importância da liberdade na ausência dela. Nasci em 1975, só sei o que é viver em liberdade. Sou grata a todos os que lutaram para que hoje tenha oportunidade de estudar, de ter um emprego, de viver do meu salário, de assumir as minhas escolhas, de votar livremente...

Felizmente a única experiência de privação da liberdade que conheço é o confinamento inerente à pandemia, que contribui para esta minha reflexão. A pandemia veio evidenciar o quanto a liberdade é frágil e que não a devemos ter como adquirida. Passados 47 anos, vivemos tempos em que a liberdade está colocada em causa devido a um vírus invisível que nos obrigou a viver num Estado de Emergência, renovado sucessivamente e a sentir uma enorme limitação e mesmo supressão de direitos, liberdades e garantias. As limitações à circulação, o recolher obrigatório eram coisas que não conhecia, que não identificava como fazendo parte das minhas vivências. Acreditando num bem maior que é a saúde de todos e a proteção do nosso Sistema Nacional de Saúde, dei por mim a obedecer. Mas obedecer não significou deixar de me questionar, não opinar, não me manifestar. A pandemia faz-nos questionar se é possível aprendermos alguma lição sobre a liberdade, a igualdade e a fraternidade. Só se aprenderá com reflexão, pensamento crítico e olhar atento sobre o que nos rodeia. De todas as vezes que pensei que queria fazer algo e que não podia, surgiu a oportunidade de pensar sobre a importância de ter liberdade.

Na verdade, ainda sinto a minha liberdade ameaçada e não é só de agora. O agora apenas me fez pensar sobre isto. Em 2021, ainda é tão difícil ser mulher que quase nos esquecemos que a revolução foi, de facto, há 47 anos. Li isto algures, transmite tudo o que eu sinto e é mais ou menos assim: “Já senti que não tinha a mesma liberdade por ser mulher. Já senti que não tinha liberdade para dizer o que penso, porque isso me trouxe consequências negativas. Já senti que não podia ser livre de vestir o que queria por atrair atenções indesejadas. Já senti que a minha expressão de opinião na política (e também noutras áreas) era minimizada por ser mulher. Já senti a minha liberdade posta em causa por comentários acerca do meu corpo, acerca de ser provocante ou de não ser, de não me maquilhar, por me maquilhar. Já senti que me julgaram arrogante por mostrar que sei algo e já me chamaram coisas menos simpáticas por apontar erros. Já senti que a minha opinião valia menos por ser mulher. Já senti que a minha independência e autonomia não agrada a uma sociedade que ainda quer, mesmo dizendo que não, mulheres submissas, cuidadoras e colaborantes. Já ouvi a minha convicção e defesa dos direitos humanos ser chamada de histeria ou de algo pior. Já ouvi ofensas e insultos serem chamados de liberdade de expressão.”

Tem sido um caminho complicado este de ser mulher, de pensar pela minha cabeça, de ter opiniões e de as manifestar em alguns contextos sociais adversos. O caminho faz-se caminhando, o caminho faz-se de luta, este é um caminho onde não cabe a resignação, o conformismo. Este é o meu, o nosso caminho!

(Crónica dedicada às minhas filhas, Gabriela e Adriana)

1° DE MAIO, DIA DO TRABALHADOR | c/ video

"Todo o trabalho é digno.

Que seja valorizado, respeitado e

incentivado"

1º de maio

 

 
Vi-te a trabalhar o dia inteiro
Construir as cidades pr'ós outros
Carregar pedras, desperdiçar
Muita força p'ra pouco dinheiro
Vi-te a trabalhar o dia inteiro
Muita força p'ra pouco dinheiro
Que força é essa? Que força é essa?
Que trazes nos braços?
Que só te serve para obedecer?
Que só te manda obedecer?
Que força é essa? Amigo
Que força é essa? Amigo
Que te põe de bem com outros
E de mal contigo?
Que força é essa? Amigo
Que força é essa? Amigo
Que força é essa? Amigo
Não me digas que não me compr'endes
Quando os dias se tornam azedos
Não me digas que nunca sentiste
Uma força a crescer-te nos dedos
E uma raiva a nascer-te nos dentes
Não me digas que não me compr'endes
Que força é essa? Que força é essa?
Que trazes nos braços?
Que só te serve para obedecer?
Que só…
Sérgio Godinho

Natércia Teixeira | “Não me esqueci de nada, mãe. Guardo a tua voz dentro de mim. E deixo-te as rosas.”

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“Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.

E deixo-te as rosas.”

Do livro,
Os Amantes sem
Dinheiro (1950)

Eugénio de Andrade.

 

Comemora-se no nosso país, como é sabido, no próximo domingo o dia de homenagem à figura materna.

A comemoração remonta à Grécia antiga e às festividades do início da Primavera, comadoração formal à deusa Rhea, mãe dos deuses.

Popularizou-se nos Estados Unidos por iniciativa de uma mulher cujo objetivo seria homenagear a própria mãe, uma ativista que lutou no seu tempo pela criação de uma data de memoração pelas preocupações das mulheres/mães relativamente à mortalidade infantil e às condições dos feridos de guerra…” seus” filhos.

A idealizadora reconhecida da iniciativa, acabou ela própria por se desvincular do movimento quando se deu conta da desvirtuação dos objetivos e do crescente mercantilismo associado à data, passando mesmo a promover a abolição do feriado instituído à data.

Entre nós, sendo Portugal maioritariamente católico, foi definido o primeiro domingo de Maio, mês de Maria, mãe de Jesus, para comemoração do dia da Mãe.

Progenitora é por definição um elemento do sexo feminino que gera uma vida.

Mãe, excede definições.

Mãe ama...incondicionalmente.

Mãe cuida…protege…educa.

Mãe…vive com o coração fora do peito.

A minha consideração por todas que escolhem conscientemente a maternidade.

O meu respeito para aquelas que por opção ou força das circunstâncias, abraçam e levam adiante sozinhas, essa responsabilidade.

A minha admiração por todos que são “Mães de coração”.

Gratidão à minha:

Não esqueci de nada, Mãe!

Trago a tua voz dentro de mim…

Fui com as aves e deixei as rosas.

Mas nunca me perderei de ti… Mãe.

 

Natércia Teixeira

DUAS DE LETRA | Lourdes dos Anjos | MAIO, MAIAS , MÃE E MARIAS

Lourdes dos Anjos

 

Maio - aí está o mês de maio.
O meu tempo de nascer de novo em cada ano que passa. O tempo de recordar as Mães que me deram colo, as Marias com quem partilhei a vida e o perfume forte das maias.
Aí está maio, perfumado, atrevido, vaidoso e convencido que é o mais bonito de todos os irmãos. E foi. Foi lindo esse maio primeiro que uniu as vozes deste povo nas praças, sem bandeiras e de corpo inteiro num sonho de liberdade.
Foi lindo o 1º primeiro de maio, quando todos sorriam a todos e todos fomos um só.
Foi lindo esse tempo de esperança , esse dia de sol… já lá vão 47 anos e parece que foi ontem...
Foi lindo. Maio foi lindo!
Maias- ei-las, as maias.
As maias de amarelas flores que enchem o norte de cor e fazem inveja às papoilas vermelhas do Alentejo.
Gosto do seu perfume forte, mesmo forte, sem meias medidas nem meias tintas, à nossa moda.
Gosto da sua forma arredondada parecendo contas dum rosário onde se reza pela mãe natureza, pela primavera sempre em festa, pela fertilização das terras que serão o celeiro do povo que respeita o seu chão e acredita no seu céu.
Mãe – aí está o mês da minha mãe. O meu, o seu, o nosso mês, minha mãe.
Hoje, neste ano, apesar dos meus 71 anos e dos seus 101(os últimos 6 festejados lá longe...), ainda sei que sou a sua CATRAIA a mais nova, a que lhe copiou o rosto e os gestos, a luta e a vontade de estar e morrer de pé.
Mulher Livre e Verdadeira até ao fim; certa nos passos e certeira nos tiros que teve de dar para viver em paz com a alma inquieta que tem.
Mãe, a minha mãe que no Hospital de Santo António, recusou um tratamento que lhe daria mais e melhor vida mas que a privava de falar durante cerca de sete horas diárias.
Disse ao médico que rejeitava aquele aparelho porque queria morrer em liberdade...sem açaimes Chamadas as filhas, apenas nos informaram que tanta inteligência e tanta lucidez proibiam o médico de usar tal tratamento e não permitia que as filhas fossem suas tutoras. Morreria mais cedo, mas livre porque era essa a sua vontade.E cumpriu-se a sua vontade.
A minha mãe lutadora até ao fim.Uma das pessoas de quem me orgulho muito.
Como deve estar sorrindo o meu pai, e repetindo para os seus vizinhos de “habitação” que realmente ela foi a mulher mais linda que ele conheceu.
Obrigada minha mãe. Amo-a muito mas ainda tenho vergonha de lhe dizer isto assim…olhos nos olhos...nós que temos as duas os OLHOS COR DA ESPERANÇA...
Esses olhos cor de mar que as bisnetas reclamam como herança. Como tenho saudades deles cheios de lágrimas quando me dizia que amava MUITO os netos e tinha muito medo de morrer.
Depois quando eu lhe perguntava: e as suas filhas minha mãe? Dizia-me com um sorriso de escárnio que "essas saíram "mal amanhadas, coitaditas"
AI MINHA MÃE COMO EU A ENTENDO...OS NETOS SÃO OUTRA LOUÇA...SÃO VISTA ALEGRE COM CERTIFICADO E TUDO...
Marias - o mês das Marias mulheres, mães e amantes. Das Marias cristãs e das outras que nunca aprenderam a escrever o nome do homem que “enganou” uma outra Maria e partiu, silenciosa e cobardemente.
Maria de Jesus Loureiro, a velha MIQUINHAS, a minha velha ama, a mulher que sempre desafiou a autoridade da minha mãe, quando me deixava sujar na relva e na terra do quintal ou me mandava dar uma mijadela trás das dálias, “sem a tua mãe ver, para ela não ralhar uma tarde inteira”, segredos guardados como se " A NOSSA PATROA" fosse uma madrasta velhaca...
A companheira de um homem enlouquecido pelos gazes da 1ª guerra mundial, empregada na casa dos meus pais,meu anjo protetor nas horas de guerra maternal, senhora do seu nariz quando a julgavam pela sua humilde condição financeira, mulher com todas as letras da palavra coragem e também carrejona de serviço de muitas oficinas da rua do Bonfim, transportando fardos enormes à cabeça para a estação de Campanhã ou para as carreiras de Braga para ganhar mais uns tostões que pagassem a renda da casita que habitava numa ilha que tinha o nome do sua cruz: A “Ilha” do Esgazeado.
Maria, a nossa Miquinhas, que arregalava os olhos de alegria sempre que lhe cheirava a meia sêmea com fígado de cebolada empurrada por uma pinga verde branco fresquinho, na hora do lanche.
Maria,a Miquinhas do senhor Amadeu Esgazeado – a mulher pequenina de corpo mas de enorme alma que não gostava de usar cuecas porque era moda das senhorecas e o seu pássaro não era de gaiola…era livre! A mesma Maria que se recusou morrer, no Hospital de Santo António, antes nascer o meu filho.
Queria vê-lo, pegar-lhe ao colo e saber que ele ia dizer o nome dela, um dia qualquer!
Maria, a mulher que nunca deixou vago o canto aconchegado que conquistou no meu coração.
Um xi apertadinho para as minhas MARIAS que hoje, lá longe juntas vão recordar as nossas chaladices e o amor que nos une.
Maias, Mãe e Marias.
MAIO - mês de maravilhosas memórias…o mês que é também o MEU MÊS DE RENASCER.
Lourdes dos Anjos
 


 
 
 

Manuel Cardoso (Paradela) | Música Programática 

Manuel Cardoso

Sintetizando, programática será a música descritiva, que tem como motivo apelar á imaginação do ouvinte a chamar ideias ou imagens extra-musicais na imaginação do ouvinte, representando musicalmente uma cena, uma imagem, ou estado de espirito.

Na realidade só há música programática “quando os meios musicais são empregados, não segundo uma lógica musical mas segundo uma lógica extra-musical” (W.Fischer).

Portanto o elemento mais característico será sempre uma certa capacidade descritiva, porém, não implica que uma música descritiva deva produzir música programática, dado que esta para ser autêntica deverá sempre evocar acontecimentos  extra-musicais por meios musicais. Aliás a expressão música descritiva é em si mesma antagónica ao bom senso, dado que a música por natureza não tem capacidade de descrição como a palavra, apenas podendo ser imitativa e sugestiva.

É com Richard Strauss que o estilo programático atinge o apogeu das suas possibilidades, embora as suas preocupações descritivas houvessem sido levadas a um excesso de realismo.

Como exemplo aqui deixo obras Richard Strauss para o leitor ouvir que são pura música programática. Sinfonia Doméstica; Sinfonia Alpina, bem como D. João ; Morte e Transfiguração.

Só como aparte, e para melhor entendimento do leitor menos atento, por certo já reparou nas novelas que vão passando pelos canais das diversas televisões. Os realizadores associam uma música ligeira ou uma frase musical aos diversos atores do elenco, o que leva o espectador a associar de imediato a música ao personagem, a ponto de não se estar a ver o personagem em cena mas ele já estar a ser introduzido pelo tema musical. Isso é música programática.

E por hoje, para não aborrecer mais, fico-me por aqui.

Até ao Próximo.

Manuel Cardoso (Paradela)

OS PEQUENOS TAMBÉM SÃO GRANDES | Aníbal Styliano | OS PEQUENOS TAMBÉM SÃO GRANDES (7) | Renascimentos sucessivos

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Com o avançar do tempo e após a criação e regulamentação das Ligas Profissionais, os problemas surgiram de imediato. Em vez de criar legislação com base na nossa realidade,adaptou-se o que outros fizeram. Houve países onde foi decidido um perdão fiscal aos clubes, para se poderem preparar para as exigências da nova legislação, mas nessa área, Portugal não fez o mesmo. Espanha e outros definiram princípios que tinham de ser cumpridos. Em Portugal, as adaptações às novas exigências, não permitiram perdão fiscal, aumentando as dificuldades. Eram exigidas garantias bancárias para assegurar compromissos salariais, média de espectadores nos estádios, espaços desportivos assegurados e outrosaspetos que não cumprimos. Por cá, as dívidas acumuladas não permitiram solidez económica e portanto, com as necessidades de reforço da capacidade competitiva, os clubes com menor capacidade finaceira, foram acumulando passivos que se tornaram invencíveis e que atingirama insolvência. Por esse facto, sem a devida transição que permitisse a sustentabilidade, veio o caos. Para tentar controlar esse adversário, os clubes “refundaram-se” e tentaram recuperar. Não se conseguiu construir um consenso para a nossa realidade. Surgiu a SAD e a dicotomia clube/SAD que, em algunscasos, alterou completamente a herança acumulada em décadas,com perda sucessiva do património. Estádios vendidos ou hipotecados e descidas de divisão. Os clubes mais poderosos, mesmo com elevados passivos são sempre “marcas” com valor que permitemgerircontextos, com o mercado de transferências e as receitas das transmissões televisivas. Ainda tarda a gestão uniformizada das receitas televisivas (agora com promessa para o ainda longínquo 2027/28), os apoios extraordinários para situações de recurso, as receitas de bilheteira porque a pandemia do covid-19 impediu adeptos nos estádios.Por outro lado a FPF, em função dos títulos obtidos em provas internacionais, dos apoios estatais e mesmo da UEFA e da FIFA, vive uma situação desafogada e confortável. A maior parte dos clubes luta para sobreviver, o que se torna um paradoxo.

Há vários anos, os clubes tinham equipas de várias categorias seniores (da primeira à quarta categoria). Surgiram depois as camadas jovens, com jogos que se disputavam aos domingos de manhã e os de seniores (independentemente da divisão) jogavam-se nas tardes de domingo. Transmissões televisivas eram raras e sempre à noite para não prejudicar o futebol no seu todo. Grupos de adeptos mobilizavam-se para acompanhar sempre as suas equipas. O futebol envolvia a economia do país, em cada domingo. Na Associação de Futebol do Porto, por iniciativa do Presidente Edison de Magalhães (ex-Presidente do Leixões SC) criaram-se campeonatos de amadores,destinados a clubes que não possuíam campos próprios e que aos sábados participavam em campeonatos específicos. Tempos de crescimento do número de jogadores e de clubes. Depois veio o novo tempo, que privilegia lucros e desinveste nos apoios aos dirigentes benévolos. Após décadas, a tendência foi a redução de clubes, porque os encargos económicos se tornaram barreiras impossíveis de ultrapassar. Inscrever uma equipa sénior no distrital são milhares de euros que só por milagres anuais se conseguem concretizar.

Alguns clubes foram considerados insolventes e extintos: as despesas aumentavamcom “taxas e taxinhas” e os lucros inexistentes cavaram fosso profundo. Alguns renasceram com nome similar acompanhado de uma data ou uma pequena diferença nominal. Mas nunca mais se recuperaram os valores civilizacionais. As sedes dos clubes serviam, nos meios mais carenciados, como sala de visitas ou salão de festas ao dispor da comunidade: aniversários, casamentos e muito mais. O movimento associativo, por dedicação e muitas horas de entrega, tornou-se uma escola de cidadania. Os tempos mudam, e hoje temos um futebol concentrado nos clubes mais poderosos, cativando adeptos em muitos países. Raros são os que ainda mantêm a proximidade como prioridade.O Sport Comércio e Salgueiros é um bom exemplo. Depois de morte anunciada, a “Alma” porque imortal, reconstruiu o clube, com tradição e plano estratégico de crescimento progressivo, sem dar passos maiores do que a perna. Assim se construíram universos diferenciados: os que envolvem muitos milhões e concentram, diariamente, o negócio das transmissões televisivas e apostas desportivas no centro do jogo; e ainda os que conseguem preservar o futebol e outras modalidades, com a mística que os menos jovens continuam a transmitir. Vivemos um tempo em que as televisões só libertam espaço para os gigantes do futebolinternacional, para os salários e negócios das mil e uma noites.E as crianças mais pequenas, qual o seu lugar: aprender a ser espectador dos grandes talentos distantes ou aprender a jogar em equipa, construindo amizades, sem fundamentalismos?

Claro que mediatização embeleza, atrai, vicia e cria sonhos impossíveis. No entanto, há clubes que todos os dias inventam espaços, estratégias e movimentam jovens para cumprir um sonho fantástico: jogar futebol. Aí reside a escolha: ser só adepto e espectador, ou ir mais além e praticar atividade desportiva. Os quesabem para onde ir e com quem, esses são os Grandes porque nunca desistem.

Aníbal Styliano (Professor e Comentador)

 

PCP | A alienação parental em pandemia

PCP

A Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Protecção das Crianças e Jovens não dispõe de dados concretos ou registos fiáveis sobre o número de casos no nosso País de alienação parental, pois este problema incrivelmente não é considerado como uma tipologia de perigo, embora seja ponto assente que tende a aumentar com o crescimento dos divórcios e estes, sim, passaram desde 1961 até 2019 de 1,1% para 61,4% por 100 casamentos.
Para a APIPDF-Associação Portuguesa para a Igualdade Parental e Direitos dos Filhos, o mais importante para os filhos é ter a relação com ambos os pais e a família alargada, assim evitando situações e queixas como «passo meses sem o(a) ver» ou «não vejo os avós há muito tempo», amarguras para as crianças e jovens, mas também para os outros elementos das famílias.
Os tribunais e as leis são contra esta situação, mas, como não funcionam bem, muitas vezes existem crianças que ficam afastadas dos pais ou das mães durante bastante tempo, sem poderem preparar actividades em conjunto ou pensarem em programá-las para o próximo encontro como se fosse um tempo de festa por ser raro.
Quando os pais se separam, mesmo por mútuo acordo, mas mais por separação litigiosa, ficam magoados um com o outro e com egoísmo exacerbado colocam essa cirunstância acima do sofrimento dos filhos, quantas vezes levando-os a pensar que os pais se separaram devido a culpa deles.
A situação de pandemia que vivemos nos dias de hoje contribuiu para maior visibilidade deste preocupante problema em virtude do aumento do desemprego, do emprego precário e da emigração forçada.
Relatos de lavagens cerebrais, raptos e falsos abusos em situações de divórcios litigiosos não faltam, infelizmente, em guerras a dois e com os filhos usados como armas de arremesso sem qualquer vislumbre de pudor ou respeito pelas crianças.
Promover a criação de legislação adequada à realidade actual inerente ao divórcio, bem como a novas formas de conjugalidade, designadamente por uma maior celeridade processual e medidas coercivas quanto ao incumprimento das decisões referentes à Regulação das Responsabilidades Parentais, procurar igualmente incluir na legislação formas objectivas de determinação da Pensão de Alimentos dos menores, desenvolver acções necessárias junto das instituições competentes com vista ao cumprimento dos direitos dos filhos, nomeadamente, após separação do casal, procurar manter ambos os pais como responsáveis pelos seus filhos e promover a figura da Guarda Conjunta como um dos principais instrumentos para a igualdade parental e harmonioso desenvolvimento da criança de casais separados, são alguns dos objectivos da APIPDF.
A residência alternada deveria ser uma normalidade e, dizem os psicólogos, contrariamente ao que muitos pais pensam, a criança facilmente se adapta a esta partilha mais saudável, quer para pais, quer principalmente para as crianças, assim os pais honestamente o desejem.
Ainda exste um caminho longo a percorrer, nomeadamente na nossa ordem jurídica, dado que os tribunais, com algumas excepções, ainda são pouco receptivos a esta mudança de paradigma, existe ainda muita resistência à mudança, mas o caminho em princípio deverá ser este, pois se a norma ou uso frequente fosse a residencia alternada, a conflitualidade entre os pais teria tendência a diminuir drasticamente.
Não podemos esquecer, nem o que se passa hoje com o regime sionista e a forma abominável como trata as crianças palestinianas, separando-as das famílias e prendendo-as, nem o tratamento adoptado pelas autoridades norte-americanas em relação às crianças mexicanas que atravessaram o muro da vergonha construído na fronteira entre Estados Unidos e México, acantonando-as isoladas dos familiares, nem tão pouco o que se passou nos campos de concentração nazis, onde um dos objectivos era isolar as crianças e separá-las dos pais, para destruir os vínculos familiares e vulnerabilizar o grupo social, sendo também proibida toda e qualquer forma de correspondência com os familiares, colocando os presos em total fragilidade, abuso moral e tortura psicólogica.
A máxima «o melhor do mundo são as crianças» deve, pois, estar no cerne desta questão que atravessa o nosso mundo transversalmente.

PCP/Baião

JSD | Era uma vez... a propaganda e o desenvolvimento

JSD

Não é preciso um grande esforço de memória para que, cada um de nós, facilmente recorde as correrias e os sprints dos autarcas socialistas de Baião em véspera de eleições. Sem saber muito bem qual a razão de fundo para tal, parece evidente, que já há muitas décadas esta pequena ideia de propaganda política, faz com que estes agentes acreditem que, na tentativa de mostrar obra aos eleitores a poucos meses das eleições, julguem que, nessa, também pequena bolha de pensamento, vão assegurar mais quatro anos de mandato.

Ora, permitam-me que o diga de forma muito direta e objetiva: hoje a obra que precisamos não é só de betão! Não são mais estradas, parqueamentos, ruelas alcatroadas ou obras cujo planeamento nem sequer atinge a mera nulidade.

O desenvolvimento anda de mãos dadas com o planeamento que, suportado em políticas públicas sustentáveis e estruturadas garantirá a qualquer região perseguir um sentido de futuro e de crescimento continuado. Será este um raciocínio tão penoso de atingir?

Utilizemos uma pequena fábula infantil para explica-lo, talvez, quem sabe, até permita aos nossos pequenos autarcas de Baião atingir esta que parece ser uma árdua fórmula de resolução. Olhemos para a história da lebre e da tartaruga: a primeira, arrancando com toda a vontade e determinação, acabou por adormecer, diga-se, na sombra, enquanto que a segunda, num ritmo firme, moderado e sério, acabou por ganhar a corrida. A política autárquica poderá ser analisada deste mesmo modo, uma vez que, aqueles municípios que arrancaram os seus mandatos com toda a exuberância e vigor, são aqueles que no presente dia, em total descontrolo, procuram cumprir aquelas que foram as suas promessas e os seus programas políticos.

Naturalmente, Baião não é exceção, sendo que a publicidade e a propaganda política estão presentes no dia a dia da autarquia. Aliás, entre vídeos, anúncios e pretensos instrumentos de medição, nem entre os cravos conseguimos ser poupados destas desafortunadas investidas.

No entanto, olhemos afinal para aquela que é a realidade efetiva e não apregoada ou publicitada por instrumentos camarários, cuja base estatística se encontra bem guardada nos cofres escondidos no largo do rato.

Repare-se que, nos últimos meses adensou-se a poeira no ar, as máquinas nas ruas, o alcatrão nas estradas e os paralelos nas calçadas, nesta efervescente agitação que tem levado Baião para as capas dos jornais, uma vez mais, pelas piores razões!

Não podemos ignorar que, numa das maiores freguesias do nosso concelho(Ancede), em plena luz do dia, se atropelam as regras, ignorando tramites legais e até, refira-se, se assiste a um claro desvio na estratégia de marketing político do Partido Socialista que, em manifesta incoerência de ação, se esquece que Baião é uma terra de vida natural. Ora, se assim o é, não nos esqueçamos de cumprir aquelas que são as regras e as normas de proteção ambiental. Afinal de contas, as nossas serras, os nossos rios e as nossas paisagens não podem servir apenas para vídeos publicitários,utilizados pelos nossos dirigentes nas ruelasda capital! Vejam o que está a acontecer com uma lixeira a céu aberto, patrocinada pela autarquia, onde plásticos, restos de obras e de limpezas de vias públicas são colocados alegremente no mesmo espaço.

Não basta dar uma voltinha boa para que tudo se resolva! É preciso estratégia, visão e, sobretudo,é necessário rejeitar comportamentos assentes no ego e nos interesses pessoais, substituindo-os por algo bem maior: o bem-estar dos baionenses!

Não queiramos ser a lebre desta história! Optemos pelo crescimento e pelo desenvolvimento, não pela propaganda e pela falácia!

 

Rui Pedro Pinto

Presidente da JSD Baião