Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

BAIÃO CANAL - Jornal

BAIÃO CANAL - Jornal

Paulo Esperança | A PROPÓSITO DE PAULO RANGEL

PAUL ESP FOTO.jpg

 

No último fim de semana a comunicação social fez parangonas com o facto de Paulo Rangel ter assumido publicamente a sua orientação homossexual.

De caminho foi lembrado que um Secretário de Estado do actual Governo é casado com um ser humano do mesmo sexo, que um antigo dirigente do CDS não permitiu que retirassem um cartaz seu onde havia uma “pichagem” que dizia que era “gay”, porque era verdade e que uma Ministra tem uma relação com outra mulher.

A barbárie da dita comunicação social, mesmo a chamada de “referência” seguiu com respeito a regra jornalística e a fórmula do Correio da Manhãe das revistas de mexericos: não interessam ideias o que conta é que este caso vai vender jornais e telejornais.

Tenho a dizer que não me agrada nada, quer seja gente vulgar ou uma qualquer figura mediática, virem a terreiro dizer que optam por isto ou aquilo quando se referem à sua vida pessoal. Isso é dar asas e potenciar essa mesma indústria instalada dos mexericos.

Eu sei que esta “rapaziada”/”raparigada” que anda na chamada vida pública precisa de exposição mediática: fazer uma cataplana no programa da Cristina Ferreira ou contar como viveu os tempos de infância com pais ausentes e avós que lhe deram o necessário colo.

Os espectadores ficam embevecidos e o ego dessa “malta” subirá ao nariz.

Até lhes pode confortar esse ego... será que essas atitudes abrirão algum caminho de futuro?

Mas Isso é com ele(a)s e não me interessa para nada! Assim como não me interessa saber se o meu Director é do Salgueiros ou se é vegetariano. Isso não conta para a verdade jornalística.

Por muito que se pense que a sociedade está mais aberta – e está – ainda há escolhos a transpor.

Ninguém questiona se o Joaquim ou a Maria são heterossexuais – porque isso é a “norma” -  mas qualquer coisa que cheire a “fora do normal” é notícia, normalmente maliciosa.

O que me incomoda é que Paulo Rangel não irá ser combatido, com honestidade, pelas suas opções políticas mas, provavelmente, em surdina, pela sua vida pessoal. E isso é inadmissível!

A sociedade fraterna só poderá ser verdadeiramente livre quando o facto jornalístico for o ser humano e as suas ideias. E nada mais que isso.

NOTA: apesar de estar na antítese da posição política de Paulo Rangel quero dizer-lhe que não hesitarei em apoiá-lo em qualquer tentativa de o combater pelas suas orientações de vida

Última hora | Acidente violento na variante do Marco de Canaveses para a A4 (Recezinhos)

Acidente acaba de ocorrer na variante (EN 211), próximo do cruzamento de Recezinhos. O trânsito está cortado no sentido de Penafiel para o Marco de Canaveses. Os bombeiros e a GNR já estão no local.

Os feridos são todos ligeiros e foram encaminhados para o Hospital de Penafiel.

 

 

Rita Diogo | Violência Doméstica e Estatuto de Vítima

Rita Diogo_1.jpg

 

A violência doméstica produz danos graves no desenvolvimento da criança, alguns podem ser irreversíveis, perdurando por mais ou menos tempo, mesmo na vida adulta. Quem, já adulto ou adulta, foi vítima de violência doméstica em criança sabe que muitas das suas decisões ao longo da vida se devem à forma como resolveram, dentro de si, os impactos deste abuso. A violência doméstica é uma experiência que costuma ter uma série de repercussões não apenas na pessoa agredida, mas em todos os membros da família que convivem direta ou indiretamente com a violência. As consequências sofridas pela convivência em contextos familiares violentos podem ser diversas e podem apresentar-se de diferentes formas, incluindo psicopatologias. Os estudos publicados mostram que as consequências da violência doméstica nas crianças e adolescentes abrangem várias dimensões, desde as cognitivas (diminuição da concentração e da memória), às dimensões da sociabilidade e sexualidade (relações afetivas, de amizade, de relacionamento com as outras pessoas), passando pela dimensão do comportamento. Estas consequências podem variar, de acordo com o temperamento e a idade da criança, de acordo com o tipo de violência doméstica que ele/a e a sua mãe ou pai sofreram e de acordo com o tempo de duração e exposição aos maus tratos.

Apesar de sabermos tudo isto, só agora, em 2021, através da Lei 57/2021, de 16 de agosto, o Estado Português concede à criança e jovem menor de 18 anos o direito a usufruir do estatuto de vítima, isto é, a possibilidade de acesso aos direitos das vítimas, entre eles o direito à proteção e segurança ou o apoio na sua recuperação. Até há pouco tempo, pensava-se que, se a criança não fosse alvo direto da violência, isto é, se o agressor não agredisse, física, psicológica ou sexualmente a criança, esta não seria vítima de violência doméstica. Enfim... Basta pensarmos que é no seio familiar que a criança ou jovem se deveria sentir mais segura e protegida, que são os seus pais as pessoas que deveriam transmitir-lhe amor, carinho, segurança e, quando tudo isto não acontece, existe uma grande possibilidade de a violência doméstica ser normalizada, de o uso da violência ser banalizada como resposta, caso se não se faça um trabalho sólido no sentido da sua proteção, recuperação emocional e psicológica, apoio e segurança.

Assim, após tantos apelos e diversas discussões sobre o tema, esta Lei vem alargar a proteção das vítimas de violência doméstica e tornar legalmente inequívoco que a exposição das crianças e jovens à violência doméstica é, por si só, uma forma de vitimação. Se, de facto, for aplicada e no espírito dos direitos das crianças e das mulheres, estas alterações legislativas podem constituir também um avanço na prevenção da violência doméstica e do femicídio nas relações de intimidade. Porque mais vale tarde do que nunca e porque tarde é o que nunca chega, sou da opinião que nos devemos felicitar, enquanto sociedade, por esta regulamentação vertida em Lei no passado mês de agosto.

Não esqueçamos que a violência doméstica assume a natureza de crime público, o que significa que o procedimento criminal não está dependente de queixa por parte da vítima, bastando uma denúncia ou o conhecimento do crime para que o Ministério Público promova o processo.

Rita Diogo (Psicóloga)

Jaime Froufe Andrade | Histórias avulso

jaime_froufe_andrade.jpg

 

(A pandemia pôs-nos à espera do futuro. Parados pelo vírus, talvez seja tempo para percebermos o que deixámos para trás. É essa a proposta de Histórias avulso)
 
 
Mais nada...

O tempo tudo leva. Só as recordações ficam. Hoje, numa caminhada pela zona da Circunvalação, fronteira de terra e mar entre Porto e Matosinhos, recordei-me de um domingo que me deixou marcas. Andava pelos 17 anos e o Verão tinha acabado. Mas o mar chamava-me. Obediente, fui ao seu encontro. Manhã cedo, estava já preparado para o primeiro mergulho. 


Não fui o primeiro a chegar à praia. Um grupo de homens preparava-se para um jogo de futebol. O número de jogadores era pernão. Eu vinha mesmo a calhar para acertar a conta. Foi assim que dei início a uma esforçada carreira de jogador de futebol de praia. Acabara de ingressar, a custo zero, no glorioso Sport Enrola na Areia. 


Outros clubes também ali jogavam. Era o caso do Inter da Circunvalação ou do Barça da Areosa, mas nenhum tinha, obviamente, a nossa classe. Talvez só o Maré Vaza Futebol Clube, por quem sentíamos justificado ciúme.


A disciplina e o trabalho são a base do sucesso de qualquer equipa. No Sport Enrola na Areia os dois quesitos abundavam. Era tudo levado muito a sério. A época ia do início do Outono ao fim da Primavera e os jogos, com a duração de duas horas, começavam pontualmente às nove da manhã. 


Em escala rotativa, quatro jogadores compareciam meia hora antes para retirar da areia o lixo trazido pelas marés, fazer as marcações do campo e montar as balizas. Era num anexo do Caninhas Verdes, restaurante popular situado junto a um canavial em frente à praia, onde a bola e as balizas ficavam guardadas.


Para mim, jogar no Sport Enrola na Areia tratava-se de assunto da máxima importância. O domingo demorava sempre a chegar, tal a ânsia de entrar em campo. Mesmo assim, não posso dizer que sentisse amor à camisola, jogava em tronco nú, tal como os outros. Isso poderá até passar por vantagem. Mas resultava em pesadelo nos domingos invernosos, quando sobre nós desabavam impiedosas cargas de granizo. (Mais apropriado seria talvez dizer que choviam picaretas) De mãos na cabeça à laia de capacete, corríamos então para o mar. Cobertos de água até ao pescoço, era esse o modo de nos abrigarmos.


Esses domingos de intempérie obrigavam-me a ir de guarda-chuva para a praia. Findo o jogo e depois de um ou dois mergulhos, - o frio da água não dava para mais - não era fácil vestir a roupa que ficara guardada em sacos de plástico, com uma pedra a fazer peso, não fosse o vento pregar uma partida. No domingo seguinte, lá estava  eu de novo para deixar tudo em campo, tal como os outros. 


Faltar a um jogo era uma vergonha. Havia multas pesadas para quem cometesse falta tão grave. No final da época, o dinheiro dos infractores ajudava a custear um almoço de confraternização. Nem a doença servia de desculpa. Só se o atleta mostrasse atestado médico. 


O regulamento interno do clube previa apenas duas situações. Assim, estava escrito no dito regulamento: Só é permitida a não comparência do atleta a um jogo por morte de homem ou casamento de filha. Mais nada.

 
Jaime froufe Andrade

DUAS DE LETRA | Lourdes dos Anjos

10847291_997387586956351_6566550614060763002_o.jpg

 

Quando a vaidade cega o juízo...

Há alguns meses atrás, foi amplamente noticiado que um casal de idosos ficou sem cinquenta mil euros que tinha em caixas , enterradas num curral porque as mostrou a um casal de "senhores doutores médicos" que lhe bateram à porta para falar de cascas d'alho e água fria fervida...
Pois entendo muito bem que a pouca ou nenhuma confiança em bancos e cadeiras do poder, ande novamente por aí à rédea solta e o dinheiro durma no curral dos animais em paz e sossego.
Na verdade, o tempo que vivemos faz com que cada um de nós, sobretudo os mais velhos,desconfiem até da camisa que vestem Mas... claro que há sempre quem ainda acredite no pai natal e até há quem pense que as cegonhas são aviões especiais com vôos económicos entre Paris e Portugal e ...trazem bebés pendurados na ponta de um preservativo furado.
Mas, por favor...até a santa inocência tem limites...
Passo a contar mais uma "estória da carochinha": muito verdadeira...
Há uns meses atrás, estava na caixa do supermercado Intermarché de Estarreja, pacientemente esperando pela minha vez e ...logo na minha frente "um marido e esponja" bem mais velhos do que eu com meia dúzia de compras numa cesta.
O total a pagar era cerca de 40 euros e o senhor marido, abre a samarra, saca da carteira "im pele da boua" lambe o dedo e puxa por uma nota de 500 euros, muito fresquinha...
A funcionária da caixa pergunta se não tem uma nota mais pequena e a resposta foi pronta..."Não tenho não senhora. PROQUÊ!?"
Então a menina pede desculpa mas tem de chamar uma colega para ir buscar troco porque na gaveta não tem tanto dinheiro.
Aqui a porca torceu o rabo...
O senhor idoso e vaidoso fica espantado...Então uma casa destas não tem 5oo euros na gaveta?
"Ó menina olhe que na minha casa , notas como essa, de quinhentos "aéreos" é coisa que num falta ...cum catano!"
E o senhor idoso e peidoso continuou a sua telenovela perante uma funcionária caladinha e admiradinha mais uma velha do Porto aflitinha por falar...
De repente, vem o troco para o cliente que continuava a botar faladura sobre riquezas e notas de 500 euros.
Vai daí a tal senhora do PORTO que esperava e continuava mortinha por desabafar pousa as compras no tapete que anda e diz para o senhor rico:
" Muito obrigada por nos dar a saber a sua fartura de notinhas em casa.Eu tomei nota e agora posso informar que conheço uma quadrilha que rouba gente rica em conversa e pobre em juízinho e que já tem dificuldade em correr atrás de uma lambreta...
Se for assaltado logo á tardinha, foi alguém que por aqui o ouviu e portanto...prepare-se meu rico senhor."
A menina da caixa abanou a cabeça, a "esponja" do senhor marquês ralhou com ele e o homem coitado..ainda informou que não viviam sós... ele era "um home prebenido" e até tinha em casa duas caçadeiras, uma pistola carregada e uma catana ao pé da lareira...e "dois cães, treinados, de raça cara no jardinhe"
A senhora do Porto riu-se e avisou :"PRONTO MEU AMIGO, EU DIGO AO CHEFE DA QUADRILHA PARA LEVAR A METRALHADORA...FIQUE DESCANSADO"
E pronto fiquei a saber que há por aí muitos Salgadinhos encobertos mortinhos por serem assaltados...e, como diz a cantiga... pela boca morre o peixe, quem te manda amor falar!?
Santa parolice.Maldita gabarolice.Que pariu ...tanta pobreza de juízinho.

OS PEQUENOS TAMBÉM SÃO GRANDES | Aníbal Styliano

styliano.png

E tudo a memória guarda…

Ter ou não ter sapatos era indiferente. Tudo começava numa bola que até podia ser resultado de cooperativa instantânea. Depois aperfeiçoava-se com insistência e talento. Aos domingos, dia de jogos, criando rotinas únicas, hoje subvertidas pela publicidade e dependência económica dos clubes que garantem transmissões televisivas como negócio imparável de milhões.

O caminho é para a frente e assim se começa a jogar em clubes. Sempre ao domingo. Havia um tempo de trabalho, de rotinas,de obrigações e depois vinha o outro tempo, o especial, o da utopia sem prazos, o tempo do ócio e do jogo das nossas vidas. Nunca outra atividade tinha conseguido estabelecer essa ligação tão completa entre jogadores, clube e bola. E claro os adeptos, onde os mais jovens aprendiam o que significavam aqueles emblemas, aquelas cores e até o o hino do clube, ouvido antes dos jogos, com palavras simbólicas que aumentavam o ritmo cardíaco. Era inexplicável porque sentido. Os dirigentes mais antigos, eram presença notada, admirada, reconhecida. O diálogo praticava-se numa linguagem familiar e num tratamento de afeto. Por vezes, os mais idosos, contavam episódios de quando eram crianças (o que para nós era difícil de imaginar porque ainda não sabíamos as regras do tempo) e a atmosfera à nossa volta mudava completamente. Mensagem aprendida.

Assim se fundiram memórias que nos aproximavam e nos tornavam uma grande família. Depois, conhecemos jogos grandes, com os heróis das revistas antigas (Ídolos, Sport e outras publicações) e vestíamos a pele da personagem que mais admirávamos: durante a minha infância fui Hernâni Ferreira da Silva. As minhas arrancadas sem perder o controlo da bola, com passes precisos, com remates fantásticos e penáltis a enganar o guarda-redes, davam-me minutos em que a personagem estava tão ligada à realidade que só no fim do jogo, se voltava do sonho à realidade. Conseguíamos dividir o tempo às fatias e sobravam prolongamentos para outros jogo e brincadeiras ou ida sigilosa à fruta para partilha secreta.

Mas a bola estava sempre no imaginário. Quando entravamos na sede do clube, local mítico, com um ambiente especial, porque ali estava a alma do clube, pertencíamos a esse espaço. Só lá íamos acompanhados pela família ou quando já jogadores assinavam pelo clube. Essa sensação, mesmo como profissional, nunca se reduziu, pelo contrário. O tempo avança por essas memórias, pelas imagens dos amigos e dos ambientes que a urbanização, sem planos integrados, destruiu sem cuidados, para haver ruas sem saída, como espaço de preparação para se poder entrar para dentro das quatro linhas, em estádios sonhados.

Por vezes, quer em comentários de programas de televisão, em fóruns ou sessões formais, no reencontro com antigos companheiros de meninice, além dos nomes que voltavam a ser diminutivos ou alcunhas (o linguiça, o jaburu, o orelhas, o granjola…) continuei sempre como Hernâni, quando afinal sou Aníbal. Tenho saudades com esperança de que os mais jovens de hoje mantenham essa oportunidade de fazer amizades indestrutíveis, sempre presentes para ajudar a resolver qualquer problema, de forma instantânea, que tudo supera. Hoje ouvimos muito falar em Bullying e quando conversocom mais jovens conto-lhes que no tempo em que era miúdo, não conhecíamos essa palavra, embora por vezes alguns mais velhos nos tentavam amedrontar. Nessa altura, defendíamos em equipa. Quando surgiam zangas, quem agarrasse o outro e o conseguisse prender, bastava responder à pergunta decisiva: “rendes-te?”. E o outro dizia: “Rendo-me”. Com um abraço final tudo voltava a ser como sempre. Os mais frágeis eram sempre mais protegidos. Eramos uma família construída na rua e sempre com uma bola debaixo do braço. Ainda hoje, em reencontros fugazes, usamos os apelidos e as saudações no código inesquecível. E tudo começou no primeiro pontapé na bola!

 

Aníbal Styliano (Professor e comentador)

Pág. 2/2