Escrito por José Pereira (
zedebaiao.com), em 19.03.21 (dia do pai)
Se uma pessoa tem uma posição discordante, raramente se discute com ela, com argumentos. É mais fácil censura-la e bani-la.
"Somos programados para pensar só o que está à nossa frente"
Mas afinal o que é que quer dizer "co"?
Noutros tempos, poderia querer dizer cooperação e partilha intergeracional. Mas, hoje, dizem que representa a ideia de solução inovadora da habitação e dos modos de vida e de trabalho.
Mas que casa, que vida e que trabalho?
Segregadora e com pouco ou nada de humanização e de socialização intergeracional?
Talvez fosse útil refletir-se sobre a segregação dos jovens e dos velhos.
Uns encaixotam-se em lares (os velhos) e outros (os jovens) em espaços "co-living" de luxo. É a nova moda inovadora.
Quanto às famílias, essas, há muito que andam a ser encaixotadas em espaços habitacionais que dizem ser sociais, mas envoltas em pobreza.
Numa conversa com Boaventura Sousa Santos, que podem ler no SAPO24 (https://bit.ly/30Z8AFe 10Março2021), designadamente sobre os temas que dominam a atualidade e o futuro, referiu o sociólogo que:
"A PANDEMIA FOI O PRIMEIRO GRANDE ENSAIO A NÍVEL GLOBAL DE COMO SE PODE CONTROLAR POPULAÇÕES";
"A VELHICE PASSOU A SER UM ESTIGMA NA NOSSA SOCIEDADE, E MUITAS MEDIDAS SUPOSTAMENTE PROTETORAS ATACAM A AUTOESTIMA"
"É NESTA DICOTOMIA ENTRE A ALTA ARROGÂNCIA TECNOLÓGICA E A IMENSA FRAGILIDADE HUMANA QUE ESTE SÉCULO SE VAI CARACTERIZAR"
"UMA ECONOMIA DE MERCADO É TOTALMENTE LEGÍTIMA, UMA SOCIEDADE DE MERCADO É REPUGNANTE DO PONTO DE VISTA MORAL"
"NO PRINCÍPIO DO SÉCULO A DIFERENÇA ENTRE O SALÁRIO MAIS ELEVADO DO DIRIGENTE DE UMA EMPRESA E O TRABALHADOR ERA DE DEZ, AGORA É DE DOIS MIL"
"SOMOS PROGRAMADOS PARA PENSAR SÓ O QUE ESTÁ À NOSSA FRENTE, DEIXAMOS PARA A RELIGIÃO O INVISÍVEL"
"EU PENSAVA QUE ERA BRANCO, MAS QUANDO CHEGUEI AOS ESTADOS UNIDOS CHEGUEI À CONCLUSÃO DE QUE NÃO ERA BRANCO, ERA LATINO"
Mas é preciso contextualizar, não basta ler "as gordas". "Em Portugal, se uma pessoa tem uma posição discordante, ou se insulta ou se ignora, raramente se discute com argumentos", referiu o sociólogo.
E foi a desfilar sobre diversos temas da atualidade e do futuro, do ambiente à mulher, da velhice à regionalização, das vacinas à justiça, da fé às desigualdade sociais, que foi conduzida a entrevista com Boaventura de Sousa Santos, que vale a pena ler.
Mas por agora, foco-me nas seguinte questões:
- Por que motivos se encaixotam os jovens em "co-livings" de luxo, os velhos em lares e as famílias em bairros sociais?
- Será que os jovens representam tudo do melhor para a sociedade e os idosos já não representam nada? Ninguém será eternamente jovem, e a juventude passa depressa!
- Será que a inovação e o conhecimento advém da nascença e dos 20 ou 30 anos de juventude e de estudos pré-formatados?
- Será que uns são os ativos e outros os inativos?
- Será que os velhos não têm uma imensidão de conhecimento e de sabedoria para ir passando aos jovens?
Ao contrário do que acontece em algumas sociedades, em que os mais velhos são os depositários da sabedoria, porque é neles que está a história do país, a cultura, nós entrámos no culto de juventude. Por isso perdemos tanto tempo a tentar disfarçar a velhice, com gel, com exercícios, com jogging, e o melhor disfarce de todos é esconder os velhos, pô-los em lares.
Funciona bem para a sociedade, não funciona bem para eles, que têm de perder muita auto-estima para ir para aqueles espaços.
Eu não acredito que as organizações privadas venham a solucionar as problemáticas sociais e de habitação. Tem de ser o Estado a fazê-lo, para o bem comum.
Fizemos da necessidade uma opção e começámos a pensar que era melhor estar longe dos idosos.
Valerá a pena estudar, viver, trabalhar e envelhecer assim, sem valores e sem qualidades humanas e sociais, intergeracionais?
A velhice não pode continuar a ser um estigma na nossa sociedade, e muitas medidas supostamente protetoras atacam a autoestima das pessoas.
E fazem-no de uma maneira mais ou menos leviana, por lógicas de eficácia económica.
Criou-se um certo egoísmo social, que em meu entender não é inclusivo, de maneira nenhuma.
Como refere o sociólogo,
Isto é um alerta imenso.
Escrito por José Pereira (zedebaiao.com), em 19.03.21 (dia do pai) Educador Social/Técnico de Ação Social Escolar