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BAIÃO CANAL - Jornal

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Natércia Teixeira | “Nenhum animal é tão selvagem quanto o homem quando ele tem o poder de expressar a sua raiva.”

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Proferiu esta frase Hannibal Lecter, personagem ficcional dos romances de Thomas Harris.

Sabe quem viu a magistral interpretação de Anthony Hopkins, tratar-se da história de um dos mais famosos e fascinantes psicopatas da história do cinema.

Psicopatia sendo um conceito controverso é uma designação atribuída a um individuo com um transtorno de personalidade cujo padrão comportamental passa despercebido numa sociedade para a qual a agressividade, o egocentrismo a frieza e a indiferença são condutas e recursos aceites e estimulados com vista a um determinado patamar de sucesso.

Estima-se que 2 a 4% da população, seja por predisposição genética ou vivencias perturbadoras, passível de se enquadrar nos padrões desta patologia.

Alguns cometem crimes, outros vivem paredes meias connosco e nunca matarão efetivamente ninguém.

Provavelmente nunca nos iremos cruzar com nenhuma criancinha perversa que nos matará o gato nem com nenhum médico alucinado que mate pessoas à dentada, mas a probabilidade de nos cruzarmos com “psicopatazinhos” de mochila ou colarinho branco é elevada.

Psicopatas são psicopatas e desvalorizar as suas condutas é tão mau como ignorar que estas pessoas existem e fazem vítimas.

Aprender a identifica-las é a única forma, de dentro do possível, nos protegermos daqueles que sem diagnostico clínico para problemas do foro mental, infernizam a vida de quem com eles tem de lidar.

É-me indiferente a terminologia que se lhes aplica, não sou, porém, indiferente acomportamentos reiterados,perpetradosintencionalmente com o intuito de roubar a dignidade a pessoas, quase sempre numa posição de vulnerabilidade, funcional ou emocional.

“Psicopatazinho” é o adolescente que sozinho ou em grupo, ostraciza, humilha e agride o colega de turma.

“Psicopatazinho” é o chefe de serviço que assedia moralmente o seu colaborador/a.

“Psicopatazinho” é o companheiro/a que desconsidera a integridade e a vida do outro e faz dela umparque de diversões.

Traços comuns destes indivíduos são a ausência de culpa e remorso; a mentira e a manipulação compulsivas, o encanto fingido e uma absoluta falta de empatia pelo sofrimento alheio.

Não conseguimos em muitas situações evitar estes contactos,temos porém,a obrigação de osexpor e de os combater, sejamos ou não os visados, isto para que nenhum jovem tenha de correr risco de vida ao ser atropelado a fugir de um bando de desequilibrados que o perseguem;

Ou que o nosso colega tenha de abandonar um trabalho que gosta porque um superior insano inviabiliza uma relação normal de trabalho;

Ou numa situação extrema, vejamos alguém que nos é caro absolutamente destruído porque se deixou enlear nas teias de uma relação toxica com alguém com estas características de personalidade.

Como observadora e sem ingerências em áreas que me são estranhas, constato que muito precocemente crianças e jovens dão sinais de desequilíbrios comportamentais que o fator educação não sendo alheio, não será preponderante, pelo que ajuízo que um rastreio a nível de saúde mental para identificar patologias e trata-las numa fase precoce, não seria de descartar quando isso se justifique, pelo bem do próprio, pelas vítimas, pelas organizações e por todos nós.

O primeiro artigo da Declaração Universal dos Direitos do Homem define:

TODOS os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos.

Dotados de razão e de consciência, devem agir uns com os outros em espírito de fraternidade.

A segunda parte deste primeiro artigo poderia integrar uma declaração de Responsabilidades institucionais e pessoais, que infelizmente amiúde, são desconsideradas.

Tudo se educa e tudo se aprende, começar pelo conceito de fraternidade talvez seja o caminho, não para a cura de patologias, mas para uma mudança de politicas e posturas.

Natércia Teixeira