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BAIÃO CANAL - Jornal

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ENTREVISTA | António Eça de Queiroz, bisneto do escritor, em entrevista ao Baião Canal | Jornal

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António Benedito Afonso de Eça de Queiroz, bisneto do escritor Eça de Queiroz, desagradado e crítico, com a possibilidade de trasladação do seu bisavô para o Panteão Nacional e com a forma como o processo foi conduzido aceitou falar sobre esta situação ao Baião Canal/Jornal.

 BC/J – Estando em andamento o processo que poderá culminar com a trasladação dos restos mortais do seu bisavô, pode dizer-nos se a família foi ouvida sobre o projeto político de trasladação para o Panteão? Qual a posição dos familiares? É consensual?

 AEQ - A família, os descendentes mais próximos de Eça de Queiroz - os bisnetos, portanto - foram confrontados com uma "decisão" unilateral por parte da Fundação Eça de Queiroz, onde o seu presidente e meu primo Afonso Eça de Queiroz Cabral nos dava conta do andamento do processo; não conheço a posição de todos os bisnetos vivos (que são 22), mas eu e os meus três irmãos, sendo que o mais velho, José Maria d'Eça de Queiroz, é também o decano dos descendentes, estamos absolutamente contra.

BC/J – É conhecedor que a vontade da Sr.ª Dona Maria da Graça Salema de Castro, fundadora e Presidente da Fundação Eça de Queiroz até à data da sua morte, foi no sentido de que os restos mortais e o espólio do Eça ficassem em Baião?

 AEQ - Sobre o espólio não pode existir qualquer dúvida: a Fundação Eça de Queiroz foi criada exactamente com essa finalidade, e toda a família foi instada a contribuir de alguma forma, maior ou menor - evidentemente, a maior contribuição foi a da minha Tia Maria da Graça, pois a Quinta de Vila Nova (Casa de Tormes) pertencia-lhe; sobre os restos mortais do escritor, não só ela quis isso como também as suas cunhadas, netas de Eça então vivas, decidiram no mesmo sentido.

BC/J - Que tem a dizer sobre a tomada de decisão política com vista à trasladação?

AEQ - Considero-a objecto de promoção pessoal dos seus promotores, e um equívoco global da Assembleia da República; parece que se esqueceram do que o escritor disse dos seus "antepassados" profissionais, e acho que pensarem que assim iriam "honrar" o escritor deve ser entendido ao contrário: os políticos empenhados em tal manobra querem fundamentalmente erguer um "troféu" - como já o tentaram antes e com outras personalidades. Aliás, eu considero o Panteão um mecanismo maioritariamente político - como se viu com o artista Zeca Afonso, que também não foi para lá por vontade de familiares e amigos.

BC/J – Dona Maria da Graça Salema de Castro era dos poucos familiares que visitava a campa, em Lisboa.  Durante cerca de 90 anos essa mesma campa esteve, praticamente, votada ao abandono. O que nos diz sobre isto?

AEQ - O mausoléu onde Eça foi sepultado originalmente pertencia aos Condes de Resende - ou seja, à família da esposa de Eça e também do marido da minha tia-avó Maria Eça de Queiroz de Castro. Sei que a Dona Maria da Graça foi lá - particularmente aquando da transladação para Santa Cruz do Douro. Dos outros familiares não posso falar porque não sei - eu não fui.

BC/J – Ao que sabemos Dona Maria da Graça Salema de Castro tudo fez para transladar os restos mortais de Eça de Queiroz, de Lisboa para o jazigo de família existente em Santa Cruz do Douro. A doação do espólio à Fundação Eça de Queiroz, com sede em Baião, foi condicionada ao enquadramento institucional a dar continuação à divulgação e ao estudo da obra de Eça de Queiroz, bem como à promoção e desenvolvimento de toda uma gama de iniciativas culturais, de âmbito nacional, internacional, ou de incidência mais estritamente regional. Isto é a realidade?

AEQ - Tudo fez e conseguiu, nem havia maneira de impedir tal acção: o jazigo em causa (em Lisboa) fora vendido e era preciso, digamos, esvaziá-lo. Sei que na altura houve uma tentativa do Estado o levar para o Panteão - o que foi recusado pela família. Se isso seria concomitante com a criação da Fundação Eça de Queiroz parece-me improvável - pois a ideia fundacional existia desde o tempo de Dona Maria Eça de Queiroz de Castro, a primeira herdeira da Quinta de Vila Nova/Casa de Tormes. Quanto à "incidência mais estritamente regional" da Fundação Eça de Queiroz, essa é uma matriz do comportamento de Dona Maria da Graça Salema de Castro, pois ela sempre dedicou uma boa parte da sua vida ao desenvolvimento e apoio local no Município de Baião. Lembro-me de há talvez 60 anos visitar com ela algumas escolas onde se estavam a dar os primeiros passos na implementação da Telescola (esta é uma memória bem distante pois eu teria uns oito ou nove anos) - mas sei que a sua acção se estendeu por várias outras áreas.

BC/J – Dada a sua posição relativamente a todo este processo está disposto a encabeçar uma petição contra a trasladação dos restos mortais de Eça de Queiroz para o Panteão?

AEQ - Certamente que sim.

BC/J – Em meu nome pessoal e do Baião Canal/Jornal, agradeço a disponibilidade e a prontidão com que nos recebeu.

Carlos Magalhães

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