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BAIÃO CANAL - Jornal

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CULTURA | UNICEPE | Rui Vaz Pinto

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UNICEPE, 1963-2020: 57 anos!

Em 24 de março de 1963 foi criada no Porto – Rua da Maternidade, nº 29 –, a “República” 24 de março, que em 24 de março de 2013 celebrou os seus 50 “séculos”, com a edição do livro MEMÓRIAS DA REPÚBLICA 24 DE MARÇO.

Ali nasceu a ideia de criar uma cooperativa que permitisse reduzir o preço de aquisição dos livros e o acesso a outros que não havia à venda, proibidos pela censura. Nasceu então, a 19 de novembro desse mesmo ano, a UNICEPE – Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, SCARL (em 1981, com o Código Cooperativo, alterada para UNICEPE – Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, CRL), que começou a funcionar nessa mesma Rua da Maternidade.

Depois de breve passagem pela Rua José Falcão, fixou a sede na Praça de Carlos Alberto, 1º andar do nº 128-A, na esquina com a Praça Gomes Teixeira (vulgo “Praça dos Leões”), onde ainda continua.

O facto de se situar mesmo em frente à Universidade do Porto facilitava a vinda dos estudantes, de tal modo que em 24 de abril de 1974 o número de associados já atingira 3810.

Naturalmente, aqui se trocavam ideias e foi onde muitos estudantes começaram a adquirir consciência do país em que viviam. Era a resposta organizada à perseguição movida às Associações Estudantis.

Por vezes, aparecia a polícia com mandados de apreensão de livros ou discos. Outras vezes, levava-os mesmo sem mandado, não respeitando as suas próprias leis. Em ambos os casos, prejudicando a cooperativa. E agora, 57 anos volvidos desde esses sinistros dias, custa a crer que essas apreensões incluíssem, por exemplo, os discos de José Afonso, com as maravilhosas canções de que se gosta mais e mais, cada dia que passa…

Porque o espaço era reduzido, as sessões abertas ao público eram efetuadas em cooperação com a Cooperativa ÁRVORE, o Clube Português de Cinematografia – CINECLUBE DO PORTO ou a COOPERATIVA DO PORTO PORTUENSE. A esta, veio falar, por exemplo, pela primeira vez durante o exílio em França, António José Saraiva. Armando Bacelar, Armando de Castro, Augusto da Costa Dias, Ferreira de Castro, Jofre do Amaral Nogueira, Mário Sacramento, Óscar Lopes, por exemplo, estavam sempre disponíveis. A divulgação também se fazia por publicações: “Boletim”, “Estante”, “Rodaviva” (que também foi programa de rádio, inovador com entrevistas telefónicas), “Latitude”.

Depois do 25 de abril de 1974, já com liberdade e sem censura, a UNICEPE continuou a crescer, não só em número de associados, como na realização de atividades. Muitos poetas, escritores, músicos e outros artistas já passaram pela cooperativa para tertúlias, encontros com muito diálogo e passagem de testemunho histórico e emocional. José Saramago foi um deles. Esteve aqui em 1984, ano e meio depois de ter lançado O Memorial do Convento. A sala estava a abarrotar… Aqui anunciou O ano da Morte de Ricardo Reis. Foi uma noite memorável.

Em 1993, coordenado por Viale Moutinho, tivemos um ciclo semanal, que se chamou Primeiro Encontro Porto-Galiza, a que vieram vários poetas galegos. E também Isaac Díaz Pardo (Santiago de Compostela, 1920-2012), presidente da Cerâmica de Sargadelos, que veio inaugurar uma grande exposição-venda. Recentemente foi criada a página www.isaacdiazpardo.gal/gl dedicada ao centenário.

Além de muitas apresentações de livros e exposições de pintura e de cerâmica (com oleiros do Alentejo a trabalhar no passeio) e algumas viagens culturais, desde 1996 temos desenvolvido atividades calendarizadas:
– Jantar de Amizade UNICEPE: já efetuámos 193, sobre os temas mais heterogéneos, com convidados de Japão, Timor, Moçambique, Angola, Guiné, Cabo-Verde, Argentina, Chile, Brasil, Cuba, Panamá, Porto Rico, EUA e Espanha.
– Memórias da Música: Audição de cantores ou temas, com explanações de Jorge Ribeiro.
– Noites de Poesia e Música, com apresentação de José Silva e poesia dita pelos “anónimos” presentes, intercalada pela voz e guitarra de cantora(e)s amiga(o)s.
– Encontros de Escritores Portuenses, igualmente com apresentação de José Silva e leituras pelos “anónimos” presentes, também intercaladas por canções de amiga(o)s.
– Roda de Choro (a primeira do Porto).
– Receções a galegos alunos de Português na FLUP, no programa aPorto, a quem oferecemos canções e poesia. Já recebemos 30 turmas.
– Cursos de Esperanto e de Latim.
(Todas as atividades são anunciadas em www.unicepe.pt  e por e-mail, se no-lo pedirem para unicepe@net.novis.pt).

Por motivos especiais, também temos editado alguns livros. Apenas 34 em 57 anos. A lista pode ser consultada em www.unicepe.pt/edico.html 

Embora Baião esteja a 70 km, o facto de o Porto ser a “grande cidade” mais perto determina que muitos Baioneses aqui se desloquem com alguma frequência. Basta aproveitar e abastecerem-se de livros na UNICEPE. E para as atividades culturais, quando forem do agrado, juntando-se 4 ou 5 amigos torna económica a deslocação. Há associados que vêm de Coimbra, Aveiro, Viana do Castelo, Braga, Guimarães, Vila Real, etc., e dizem que vale a pena.

Desde o início já se inscreveram na cooperativa 7718 associados. Além de livros, a oferta da UNICEPE passa por revistas, música e arte. As vantagens dos associados são imensas e a quota mantém-se em apenas 7,50 euros por ano. E para isso basta adquirir o mínimo de 30,00 euros de capital. Com 14 anos já se pode ser associado. É uma magnífica prenda a familiares e amiga(o)s. Façam parte da cooperativa de resistência e afetos!

Rui Vaz Pinto