Aníbal Styliano | OS PEQUENOS TAMBÉM SÃO GRANDES | Os jogos com Veteranos
Eram sempre dias de festa, de encontro de famílias, de adversários que forjaram grandes amizades, sem esquecimentos, de convívios com memórias, sentidas de modo diferente, nunca opostas mas complementares. Mal a pandemia seja vencida, aí estaremos de novo para sentir os tempos que nunca se perdem. Durante alguns anos, participei pelo FC Porto, pelo Sport Progresso e pelo SC Salgueiros em jogos particulares, festas de futebol e amizade, com momentos inesquecíveis. Acumulei jogos pelo FC Porto e pelo SC Salgueiros, embora quando os dois clubes se defrontavam a minha participação era mais para a fotografia, porque nem podia ser de outra forma. Durante alguns anos, o meu grande amigo e companheiro de equipa, Zé da Costa e eu coordenamos a seção de Veteranos do Salgueiros, com registosde presença em treino semanal, no cimento atrás da baliza junto aos balneários do Vidal Pinheiro. Foram muitos os convites, muitos os jogos, sempre sem campeonatos, mas como convívios. Encontramos vários adversários e no fim, o lanche/jantar de quem recebia, tornava-se um momento especial que trazia memórias de jogadas, de golos, de malandrices. Sempre com ex-árbitros que mantinham a solenidade imprescindível. Dois episódios que merecem evocação entre outros. O clube que, além do FC Porto mais jogos realizou com o Salgueiros foi o União de Lamas que nos recebiam sempre com muito carinho e bom repasto. Pelo FC Porto a minha estreia foi para substituir o Leão de Génova (Virgílio Mendes) que por ele nunca sairia do jogo. Aos 10’ entrei, para outra posição, numa equipa de grandes amigos, companheiros e craques (Séninho, Gualter, Custódio Pinto, Francisco Nóbrega, José Rolando, Festa, Tibi, Valdemar e muitos outros) passando para médio e refazendo a tática. Jogar pelo FC Porto implicava sempre um jantar com autarcas das terras onde íamos (inclusive àilha da Madeira) e umas memórias partilhadas com emoção. Pelo Salgueiros, com o Benfica em Vidal Pinheiro, a equipa era construída em função das presenças ao treino de 2.ª feira. Ora para jogar tinha de ter presenças. Aconteceu que o jogo foi divulgado na Comunicação Social o que atraiu mais gente ecolegas. Como estava estipulado que só quem treinasse jogava, fizemos uma votação para decidir a participação dos que nunca treinaram. Foi decidido acolher todos, E assim, cumprindo as regras mas aceitando exceções, tudo correu muito bem. Tão bem que arranquei com a bola pelo corredor esquerdo, o saudoso Camolas atrás de mim e, junto à área, rematei sobre a barra. Comentei em casa que fiz uma jogada das antigas. Porém, o vídeo é terrível e a cassete revelou dois jogadores a correrem devagar e o da frente a rematar após esforço estóico. Os vídeos deveriam ser proibidos! A partir daí, no aniversário do Salgueiros conseguimos organizar jogos anuais com o FC Porto e os com mais idade, cederam o lugar aos mais novos, nos Jogos da Amizade. Como jogador jovem profissional, integrei seleção de amigos para homenagear jogadores de clubes distritais. Mais do que o jogo, a festa, os aplausos ao jogador que se despedia, a emoção que os adeptos partilharam foi inesquecível, porque esteve presente o essencial do futebol: a amizade com disponibilidade. Gente simples que tanto deu aos clubes, que uniu populações e que construiu família alargada. Para nós foi sempre linda a festa, mas para o jogador que abandonou foi momento único, ser aplaudido por todo o estádio com sorrisos de gratidão.
Nesses jogos, trocavam-se memórias de lances e havia um regresso que supera o tempo e destaca o essencial: jogar com prazer e dando tudo o que se consegue. Vestir uma camisola de um clube, por mais modesto, era atingir o topo do futebol porque havia adeptos que os apoiavam e acompanhavam para todo o lado. Esse futebol, com balneários simples, com bolas contadas e sorteios para arrecadar receita extra para reduzir despesas, nunca pode ser esquecido. Mais, tem de ser apoiado porque aí reside a paixão do jogo, a identidade das regiões, a partilha da amizade. Aí nascem os talentosque os grandes clubes vão buscar e, também por isso, merecem apoios maiores porque só quem tem espírito de sacrifício, de dedicação à comunidade, de constante empenho para criar condições e conseguindo pagar despesas, deveria ser prioridade para a FPF e respetiva Associação Distrital de Futebolreconhecer o mérito, apoiar muito mais e reduzir bastante os encargos. As autarquias são também parte interessada e imprescindível.
Prioridade: Apoiar sempre o clube da sua localidade.
A proximidade é valor a cultivar com disponibilidade e colaboração.
Neste momento, cumpro o meu minuto de silêncio pelos amigos que já partiram, mas que nunca serão esquecidos!
Aníbal Styliano (Professor e comentador)
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