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BAIÃO CANAL - Jornal

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EDUCAÇÃO | Escola e Famílias em tempos de pandemia | Maria Odete Souto

Odete Souto“Vem vamos embora que esperar não é saber, quem sabe faz a hora não espera acontecer” - Geraldo Valdré

Estamos num tempo de emergência sanitária, comunitária, social, económica e mais do que nunca, nas nossas vidas, se impõe sentido de solidariedade, de missão e de responsabilidade individual e social.

Estamos no meio de uma tempestade sem fim à vista. E não, não estamos todos/as no mesmo barco. Há quem esteja a enfrentar isto num iate, num cruzeiro, e quem esteja numa jangada. As condições são diferentes, mas é necessária uma cabeça de comando e organização. Compete à tripulação ser ordeira e cumpridora, opinar se for para ajudar, e seguir as orientações, sob pena de afundar as embarcações.

Não é o tempo para avaliar as decisões. É o tempo de salvar vidas e de sobreviver com os menores danos possíveis. É o tempo de nos focarmos e nos reinventarmos. É o tempo de dar as mãos.

Confesso-me cansada de ouvir “papagaios” que tudo sabem, preditores/as das maiores catástrofes, arautos da desgraça, como se já não bastasse aquela que vamos vivendo. O medo excessivo paralisa e mata. E mata tanto ou mais que o COVID-19. É preciso manter a esperança para que nos possamos manter à tona.

A suspensão das atividades letivas (sim, porque as escolas mantêm-se abertas e o pessoal docente e não docente a trabalhar) foi necessária, dado os números galopantes da pandemia. Seria, para mim, uma situação limite, porque nada substitui a escola com aulas presenciais. A situação tornou-se insustentável e o confinamento geral, em boa verdade, implica o “encerramento” das escolas.

Discute-se “pentelhices” de saber se se deveria passar imediatamente a ensino a distância, se as escolas estavam preparadas, se o governo falhou, se, se e se…

É meu entender que, logo que possível do ponto de vista da evolução pandémica, se deve voltar às aulas presenciais, não tanto por aquilo que os/as alunos/as vão aprender ou não, enquanto currículo escolar, mas muito mais por outras dimensões de vida das escolas e das pessoas que habitam os/as alunos/as.

No regresso à escola, em setembro, as nossas crianças e jovens vinham, na sua maioria, com marcas negativas enormes do confinamento anterior. Muitos deles/as viciados em jogos online, que “colmataram a sua solidão”, outros/as confinados com os seus algozes… Muitos e muitas com problemas emocionais imensos e, na sua maioria, não queriam voltar a confinar.

Se recuperaram aprendizagens das diferentes disciplinas, é minha convicção que não. Recuperaram outras coisas fundamentais, que a escola também cumpre. E relembro aqui um email por mim recebido, às 23 horas, de uma menina de 12 anos que dizia “Tive que preparar o meu psicológico para fazer isto. Não pode arranjar um tempinho, fora do seu horário e do meu, para falar comigo? É que o ano passado falava comigo fora das aulas e fazia-me bem.”  E claro que o tempo nunca me faltou porque nunca me prometeu. E ela contou e comigo…

Não sabemos como e quando esta situação pandémica vai ser revertida, mas a vida não para, não se suspende.

É o tempo de assumirmos que o ano letivo, no sentido tradicional do termo, está comprometido como esteve o anterior. E não posso esquecer aquilo que ouvi de alguns dos meus alunos e algumas das minhas alunas que, em seu entender, todos/as deveriam ter ficado no mesmo ano letivo.

Não sei se é esta a solução. Não vem mal ao mundo por isso.

A minha geração teve ano propedêutico, serviço cívico, e não perdeu nada com isso. E não estávamos em contexto pandémico.

Acho que é um tempo em que as famílias precisam de se reinventar, não tanto para colmatar o papel da escola e dos/as professores/as, mas para estreitar relações, partilhar tarefas, entreajudas, aprofundar valores de solidariedade, de respeito e de afeto. Criar laços e ajudar a crescer como pessoas. Deixar de ter príncipes e princesas e passar a ter filhos e filhas.

É um tempo em que a escola precisa de se reinventar também. Não tanto para encontrar no digital a solução de todas as coisas, porque o não é, mas para se repensar em termos de currículo e de estratégias de aprendizagem inter e transdisciplinares. O conhecimento constrói-se de muitas formas e, se formos criativos, conseguimos caminhar sem este sentido de aula tradicional. Mas isto implica coragem e honestidade intelectual por parte de todos: pais, professores/as e tutela.

Pode ser um tempo profícuo, assim cada um saiba cumprir a sua parte.

Sigamos com esperança e responsabilidade.

 

Maria Odete Souto

 

 

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