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BAIÃO CANAL - Jornal

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Rita Diogo | Sexo ConSentido

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Contra vários tabus, estereótipos e preconceitos a sociedade evoluiu e evolui em termos de educação sexual, de aceitação das diferenças e identidades. Foi um caminho longo este, durante anos sentimos que não se saía do sítio, que falávamos numa linguagem estranha e que, para muitos, soava a libertina e promíscua. Atualmente, a educação sexual existe em todas as escolas, existem escolas que vão mais longe, outras que dão passos mais curtos, mas todas têm avançado e isto deve ser dito. Em casa, na família também se aborda este assunto, com mais ou menos à vontade. O caminho faz-se caminhando e a verdade é que temos caminhado alguma coisa.

A sexualidade faz parte integrante da vida de cada um de nós. As crianças e os jovens têm o direito de receber informação fiável, científica e abrangente neste domínio. Deram-se passos muito importantes nas últimas décadas, de forma a ir além da biologia e da reprodução e “equipar” as crianças e jovens com conhecimentos sobre o seu corpo e os seus direitos, informando-as sobre a igualdade de género, a orientação sexual, a identidade de género e as relações saudáveis, tendo por base o respeito e a forma como as suas escolhas afetam o seu próprio bem-estar e o de outros e ainda compreender e assegurar a proteção dos seus direitos ao longo da vida.

Quando a educação em sexualidade é abrangente e assenta nas várias dimensões da criança ou jovem torna-se num meio eficaz de combater a violência, os abusos e a discriminação e de promover o respeito pela diversidade. A educação sexual é hoje mais necessária que nunca, pois a maioria das crianças pode obter informação por outras vias, em particular através da internet e das redes sociais. Estas fontes de informação podem ser úteis e apropriadas, mas podem igualmente transmitir uma imagem deformada da sexualidade e deixar de lado alguns dos aspetos ligados aos seus direitos e à dimensão afetiva. Vale a pena sublinhar que a educação sexual nas escolas visa complementar, e não substituir, o que os pais possam transmitir em casa.
A educação sexual deve pois contribuir, desde o início da escolaridade, para fazer passar mensagens fortes a favor da igualdade entre mulheres e homens, para promover papéis de género não estereotipados, para educar para o respeito mútuo, o consentimento das relações sexuais, a resolução não violenta dos conflitos nas relações interpessoais e o respeito da integridade pessoal.
A questão do consentimento das relações sexuais, por exemplo, não é um tema suficientemente aprofundado, nem na escola nem na família. Continuam a surgir casos em que a relação sexual acontece sem consentimento. Continuo a ouvir, na prática clínica, histórias de jovens para quem a relação sexual foi indesejada, irrefletida e muito negativa. O consentimento deve ser claro. A promoção da assertividade no campo da privacidade e da intimidade exige minúcia e destreza nas conversas. Explicar a uma criança ou jovem que “não é não”, que não deve aceitar fazer ou dizer aquilo que não quer, nem fazer ou coagir outros a fazerem o que não querem é mais complexo do que possa parecer. Falar sobre consentimento é falar sobre limites, respeito, compreensão e autoconhecimento. Ajudar um ou uma adolescente a tomar consciência de si mesma não é tarefa fácil e deve começar na infância. O gosto pelo risco, pela adrenalina e a vontade de testar limites deve ser tema de conversa, ajudando a compreender a importância do consentimento.
A educação que promove uma sexualidade saudável é aquela que se sustenta na aprendizagem e reflexão acerca dos nossos direitos e da importância de respeitar os direitos dos outros, que permite a proteger a saúde física e mental e que adota uma atitude positiva relativamente às questões sexuais e relacionais. Permite igualmente adquirir competências úteis para a vida, tais como a autoconfiança, o pensamento crítico e a capacidade de tomar decisões informadas.

Rita Diogo

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