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BAIÃO CANAL - Jornal

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Rita Diogo | Mais um dia 8 de março...

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Mais um dia 8 de março que se aproxima. Mais um Dia Internacional da Mulher. Mais um dia de luta para todas nós. Este ano ainda mais importante porque somos chamadas a votar no próximo domingo e vamos votar como mulheres que somos, com vozes que jamais serão silenciadas. A luta das mulheres é uma luta de iguais. A igualdade é a voz, é a expressão da democracia.

Hoje escrevo na pele de candidata pelo Bloco de Esquerda, escrevo como mulher de esquerda. Ser mulher e ser de esquerda é, para mim, indissociável pois todos os dias sentimos a desigualdade, a descriminação, o sobressalto sobre a nossa posição na sociedade. Só poderia ser de esquerda e feminista, não poderia ser de outra forma, não poderia acreditar numa outra coisa, ter outros valores. Esta mulher de esquerda sou eu! Tenho consciência de que, por estar na posição política em que estou, sou a voz de muitas mulheres, sou o rosto de muitas mulheres, sou a luta de muitas mulheres e isso é algo que vou honrar sempre. Muitas conquistas tivemos pela luta contra o conservadorismo, sustentadas na força da esquerda:

Há 17 anos, a despenalização da interrupção voluntárias da gravidez foi aprovada e tantas mulheres tiveram a certeza de que não se sentariam no banco dos réus por terem feito um aborto, tantas mulheres ficaram mais seguras, pois puderam fazer uma interrupção voluntária da gravidez em segurança e em condições de salubridade, vendo a sua saúde garantida. O aborto ilegal penalizava claramente as mais pobres, que se sujeitavam às piores condições, às maiores humilhações. Estive em todas estas lutas, eu e tantas mulheres e homens nos mobilizámos para instituir um direito, não esquecendo jamais que os direitos não nos obrigam a nada, só nos protegem. As mulheres vão continuar a fazer as suas escolhas e vão continuar a fazê-las livremente porque é assim que evolui um país. Não estamos seguras, apesar da lei. Alguns hospitais portugueses “amigos dos bebés”, ainda negam às mulheres o acesso ao aborto consagrado desde 2007. Por isto, só poderia ser uma mulher de esquerda, inconformada com a injustiça e com a discriminação.

A aprovação da violência doméstica como crime público foi outro passo gigante na consagração dos direitos das mulheres. A sociedade torna-se mais justa quando se defendem direitos. A violência é um problema da sociedade e é a sociedade que a deve conter através de leis. Evitar mortes, afastar agressores, trabalhar na educação dos mais jovens, na prevenção, é este o caminho. A violência tem rosto, o do agressor. O criminoso é quem agride e a vítima nunca tem culpa. Mais de 20 vítimas de violência doméstica morreram no ano passado, quase todas mulheres, apesar da lei. É preciso melhorar, melhorar sempre a segurança das mulheres. Também pela segurança de todas nós sou uma mulher de esquerda.

Em todas as guerras e momentos delicados da nossa história fomos nós as mais vulneráveis, as que mais sofremos atentados aos nossos direitos. Mantermo-nos resilientes é algo desafiante e constante nas nossas vidas. A igualdade entre homens e mulheres é mesmo uma questão de Direitos Humanos e uma condição de justiça social, necessária para que as sociedades se tornem mais modernas e mais equitativas. É, por isto, um requisito para o desenvolvimento e para o exercício efetivo e pleno da cidadania.

O caminho que fizermos será aquele que permitirá às raparigas e mulheres serem livres de desenvolver as suas aptidões pessoais, de poderem ser exatamente quem são, de prosseguir as suas carreiras e de fazer as suas escolhas sem limitações impostas por estereótipos, preconceitos, e conceções rígidas dos papéis sociais atribuídos a homens e mulheres. O 8 de março é um momento de reflexão sobre as conquistas das mulheres, mas também um momento de reafirmação da luta contra o sexismo e as desigualdades de género. A mudança efetiva tem-se mostrado difícil e lenta para a grande parte das mulheres e raparigas. Por mais que sejam os direitos que já alcançamos, estes nunca devem ser tidos como garantidos. Estamos a viver um período, política e socialmente, instável e, por isso, este ano o meu texto tem este teor. Precisamos de continuar a lutar por muitos motivos. Deixo-vos alguns exemplos apenas: 

- As mulheres continuam a ganhar menos do que os homens, apesar de serem mais qualificadas. As mulheres ainda são preteridas nos lugares de decisão.

- 1 em cada 3 mulheres já sofreu de violência física ou sexual.
Muitas vezes culpabilizadas pela própria violação, pelo que vestem, por andarem sozinhas neste ou naquele sítio, por beberem de mais ou “por não se saberem comportar”.

- As mulheres fazem telefonemas falsos pela rua à noite, enquanto caminham com as chaves enfiadas por entre os dedos prontas para se defenderem.

- Mais de 200 milhões de mulheres e raparigas foram vítimas de mutilação genital.

- Ao chegarem a casa do trabalho, as mulheres ainda têm muito do trabalho doméstico a seu cargo (em média mais quatro horas).

- Há mulheres que não têm a possibilidade de se fazer ouvir porque estão sempre a cuidar de outros: dos filhos, do pai ou da mãe doente ou idosa.

- As mulheres, menstruadas todos os meses, mas muitas delas, aqui e em todo o mundo, sem dinheiro para comprar artigos de higiene menstrual.

A luta é linda e somos nós quem a fazemos!!! Estas mulheres somos nós!!!

 

Cinquenta anos do 25 de Abril | Associação Homens de Letras

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O DIA MAIS LINDO
Conversa com César Príncipe, Fernando Alves e Jorge Campos, dia 14 de março, 18h15, na AJHLP
Que lembranças guardam os jornalistas dos acontecimentos revolucionários ocorridos no dia 25 de Abril de 1974? Onde estavam há 50 anos e como reagiram a algo verdadeiramente novo, luminoso, libertador, no país do arco-íris de uma só cor? César Príncipe, Fernando Alves e Jorge Campos vão contar-nos as suas memórias pessoais de O Dia Mais Lindo, 14 de março, a partir das 18h15, no auditório da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto .
Um jornalista da rádio, outro dos jornais e outro da televisão. Fernando Alves, em 25 de Abril de 1974, estava em Angola, trabalhava com Emídio Rangel numa rádio no Lubango. Tinha vinte anos. César Príncipe era repórter do Jornal de Notícias, no Porto. Jorge Campos chegara poucos dias antes à redação da RTP-Porto.
O Dia Mais Lindo é uma iniciativa integrada no programa É Bom Ser Livre, tributo aos cinquenta anos da Revolução de Abril. Terá mais duas sessões, em maio e junho, com as participações já confirmadas de Germano Silva e Jaime Froufe de Andrade.
Ilustração de Marta Nunes