Acabadinha de chegar da Escola, sento-me para escrever esta missiva, dirigida aos colegas
professores e professoras, para lhes dizer obrigada. Hoje fizemos história e mostramos que
unidos somos muito mais fortes e que exigimos respeito.
É, também, dirigida aos alunos e alunas que, hoje, na minha escola, a Escola Básica do Sudeste de Baião, viram o seu dia e as suas atividades letivas interrompidas logo pela manhã. Tiveram que se levantar cedo, para nada. Os professores estavam em greve e a Escola teve que encerrar. Não é fácil, sobretudo numa escola de 2º e 3º Ciclo.
Já agora é, também, dirigida aos pais e encarregados de educação que, tiveram que alterar as
suas rotinas, e vir buscar os filhos e/ou aguardar que o transporte de regresso a casa fosse
assegurado.
Criou transtorno? Muito. Mas não podia ser de outra forma.
Questionava-me um grupo de meus alunos, quais os motivos da greve? Expliquei-lhes e. No
meio destes, estava o filho de um professor que, calmamente, ia dizendo: “exatamente o que
aconteceu ao meu pai, e que ainda hoje continua a acontecer”. E eles entendem.
Tínhamos trabalhos, nomeadamente do Ecoescolas, que têm prazos, e meninos que se
propunham ir para casa e regressar, à tarde, para trabalhar. Expliquei-lhes que a Escola iria
encerrar e, por isso, não os poderíamos ter lá, mas que nós nos encarregaríamos de lhes
adiantar as coisas para que não ficassem de fora do concurso. É para eles e por eles que
trabalhamos. E foi isso que aconteceu.
Ser professor/a não é uma profissão qualquer. Temos nas mãos a vida presente e futura das
crianças e dos jovens e, no fundo, da sociedade. Temos sido desrespeitados pelos sucessivos
governos, com políticas absurdas, com experiências avulsas, roubando-nos carreira, dinheiro,
dignidade e vida. E só porque somos muito estranhos e bastante loucos continuamos... E,
sobretudo, porque gostamos muito daquilo que ainda vamos fazendo, mas que teimam em
nos querer roubar.

 Por isso vamos à luta. Uma luta que é justa e que vai continuar. Em defesa da Escola, de uma escola que não esteja ao serviço de interesses e de outras agendas que não seja, a de formar pessoas e dar conhecimento aos alunos e às alunas. Uma escola democrática e de excelência.
Por tudo isto, pais, professores e alunos, estamos do mesmo lado.
Por tudo isto, a Escola EB 2,3 de Santa Marinha do Zêzere esteve, hoje, encerrada porque os
professores fizeram greve.
Muito orgulho em pertencer a esta família SMZ.

Maria Odete Souto
Professora SMZ