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BAIÃO CANAL - Jornal

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25 Abril | Exposição "Revolução: 50 anos 50 artistas"

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Integrada na 5ª Bienal de Arte Internacional Gaia 2023, foi inaugurada, no passado dia 8 de abril, a exposição "Revolução: 50 anos 50 artistas", antecipando as comemorações do 25 de abril de 1974, que tem a curadoria de Ilda Figueiredo, em representação do Conselho Português para a Paz e Cooperação.
Pode ser visitada na Quinta da Fiação, em Lever, Vila Nova de Gaia, de terça-feira a domingo, entre as 14h30 e as 19h, até dia 8 de Julho.

500 Milhas ACP: Clássicos espalharam charme na maior estrada da Europa

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A Estrada Nacional 2 recebeu, este sábado, a 18.ª edição das 500 Milhas ACP, uma das maiores provas de Regularidade histórica na Península Ibérica, que levou 65 equipas a percorrer a ligação entre Faro e Chaves. Prova do ACP Clássicos estendeu-se por 740 quilómetros e 16 horas, numa maratona de História e resistência. 

 

Todos os anos, as 500 Milhas ACP são um desafio para largas dezenas de equipas, aos comandos de automóveis produzidos entre as décadas de 50 e 70 do século passado. Na edição deste ano estiveram em prova 65 exemplares clássicos, numa maratona que atravessou Portugal continental de sul para norte, entre Faro e Chaves, num percurso pela Estrada Nacional 2 que totalizou 740 quilómetros. 

 

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O apelo das 500 Milhas ACP voltou a atrair diferentes gerações, pois no pelotão abundaram os casos de pais e filhos, de avós e netos, unidos pelo gosto dos Clássicos e das provas de Regularidade. Exemplo disso, o caso de Ricardo Seara Cardoso, navegado pelo pai, Carlos Seara Cardoso, num belo Bond Equipe GT, exemplar construído em 1971 por um pequeno fabricante inglês. Além de vários modelos históricos da Porsche, Jaguar, Mercedes-Benz ou Alfa Romeo, as 500 Milhas ACP também tiveram três Alpine A110, um raro AC Aceca de 1960, um Fiat 600 Derivazione Abarth 750 (de 1959), ou um Austin Healey de 1954, o carro mais antigo em competição. 

 

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As equipas concentraram-se em Faro, na tarde de sexta-feira, para as verificações, com o primeiro concorrente a arrancar da cidade algarvia na manhã seguinte, logo pelas 06h01. Seguiu-se a travessia do território continental português, num périplo que passou por Ferreira do Alentejo, Mora, Abrantes, Sertã, Tondela, Lamego e Santa Marta de Penaguião. Pelo meio, a caravana fez uma paragem em Constância, no distrito de Santarém, onde máquinas e pilotos puderam recuperar energias para a segunda metade da maratona. Durante a tarde, a caravana parou na cénica Barragem da Aguieira, que antecedeu a última secção, com os 218 quilómetros finais, rumo a Chaves. A chegada à histórica cidade transmontana aconteceu já de noite, depois das 22h00, culminando uma competição com 19 classificativas de Regularidade, com as equipas divididas em três categorias (consoante o ano de fabrico dos automóveis). 

 

Emoção até ao último quilómetro 

 

E apesar de ser uma prova com mais de 700 quilómetros, a discussão pelos primeiros lugares em cada categoria foi muito renhida, o que atesta a qualidade e a preparação das equipas.

 

Sancho Ramalho e António Caldeira venceram a Categoria G e foram também a formação que menos penalizou em todo o percurso, com um Alfa Romeo 2000 GTV. A escassos 3,5 pontos ficaram Ricardo e Carlos Seara Cardoso, no Bond Equipe GT, num duelo que gerou incerteza mesmo até à entrada em Chaves, até porque Miguel Ferraz de Menezes e Rui Rola Martins também ficaram a apenas 7,5 pontos do vencedor, num Alfa Romeo Junior Zagato. 

 

Na Categoria F, Pedro Manso Pires e Luís Caetano (Austin Mini Cooper S) receberam em Chaves o troféu do primeiro lugar, mas Carlos Brízido e António Costa (Porsche 911 E) ficaram a apenas 5,2 pontos, com Pedro Black e Suzana Freire D'Andrade (Volvo 122-S) a completarem os lugares do pódio. 

 

Já na Categoria E, reservada aos automóveis mais antigos, os Jaguar Mk2 monopolizaram as primeiras posições, com o triunfo de Pedro Carregosa e Ekta Sureschandre, na frente de Frederico Valsassina e Vasco Mendes, enquanto o Porsche 356 de Fernando Carpinteiro Albino e Xavier Albino ficou logo atrás.

 

Para Luís Cunha, secretário-geral do ACP Clássicos, a competitividade da prova e a resistência de máquinas e pilotos foram os grandes destaques desta 18.ª edição das 500 Milhas ACP: "Continuamos, felizmente, a ter uma parte significativa do nosso pelotão composto por automóveis dos anos 50 e 60, mas vemos também automóveis cada vez mais bem preparados e equipas com um grande nível desportivo. Foram registadas pouquíssimas falhas mecânicas, o que é de realçar num percurso de 740 quilómetros realizados num único dia. Atravessar a Estrada Nacional 2 é sempre um desafio especial, pela diversidade de paisagens e pelo apelo da condução”, afirmou Luís Cunha. 

Associação Salgueiro Maia

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D. Celeste Caeiro
Em Lisboa, o dia 25 de abril de 1974 parecia um dia normal, com muito trânsito e muita gente apressada, na rua, logo de manhã. A nota discordante era a excessiva presença de tropa, em atitude de se exercitar para a guerra urbana. Este inusitado panorama prendia a atenção dos transeuntes, que abrandavam o passo e paravam mesmo, para satisfazer a curiosidade.
Seria um exercício? Seria um treino para projetar uma força no estrangeiro? Seria um filme? – perguntavam-se entre si e até abordando os militares, completamente equipados e compenetrados no cumprimento da missão que os levara ali: o derrube do regime ditatorial.
– Ah! Afinal é uma revolução – comentavam incrédulos – A sério?! Eh, malta: é mesmo uma revolução! É uma revolução! Desta vez é que isto vai dar a volta.
E crescia o rumor, espalhando pela cidade o entusiasmo de que, finalmente, estava a acontecer aquilo por que tanto ansiavam há tantos anos e que a Primavera Marcelista parecia ter querido debelar, para, afinal, ter ficado só pelo “parecer”.
Na Rua Braancamp, junto ao Marquês de Pombal, a empregada de mesa do restaurante “Franjinhas” acabava de ser dispensada pelo seu patrão que, avisado sobre a revolução, resolveu muito sensatamente não abrir o estabelecimento, precisamente no dia em que comemorava um ano de abertura e tinha encomendado imensos cravos, vermelhos e brancos, para oferecer à clientela.
Celeste Caeiro saiu do restaurante com uma braçada de flores, sem saber muito bem o que lhes faria; mas o frémito da alegria popular não sugeria o regresso a casa, antes o participar no que quer que estava a acontecer. Tantos carros com tanta tropa! Tantos mirones vidrados nas fardas! Armas a sério, empunhadas por homens a sério. Movimento. Alegria. Entusiasmo. Partilha.
– Senhora! Por acaso tem um cigarro que me dê? – atirou-lhe um soldado, para fazer conversa.
– Não. Não fumo – e quase corou, pesarosa de não poder dar algo de si a quem se estava a dar em pleno, ao país, ao povo, sem nada pedir… ou talvez apenas um cigarro, para sedar a tensão do momento, da incerteza que envolvia a aventura de mudar o regime, de conquistar a liberdade.
De repente, por instinto, por gratidão, por amor, Celeste separou um cravo do molho e estendeu-o ao soldado. O quê? Em 1974? Uma mulher oferece uma flor a um homem, à frente de toda a gente? E o homem aceita? Como é que, com a Revolução ainda mal começada, estes dois já perceberam que vem aí a liberdade e a igualdade de género? A vida parece um romance, não é?
O soldado colocou o cravo no cano da sua espingarda, inutilizando o seu poder de tiro, mas, ao mesmo tempo, demonstrando a vontade de não a disparar; e o gesto foi repetido pelos outros soldados, até onde o molho de cravos da Celeste pôde chegar.
São gestos que ninguém planeia, mas que vivem cá dentro da gente e explodem de repente sem bem se saber porquê, como fogo de artifício que se espalha no ar e ilumina a noite. Também as floristas do Rossio, sabendo do caso, aderiram à loucura de distribuir cravos por soldados e populares sem cuidar do destino da sua fazenda, ou cuidando bem que estavam vivendo momentos de euforia irrepetíveis que bem as compensava da perda. É assim o povo em ação! Generoso, responsável, valente, altruísta,
Chovia gente de todo o lado, escorrendo de enxurrada pelas ruas estreitas do Carmo. Era impensável promover alguma ação militar com fogo real no meio da multidão; mas a multidão era a mais adequada arma para derrubar o regime. Nem mesmo a estupidez dos sicários da polícia política conseguiu manchar a alvura dos acontecimentos. O povo saiu à rua. Veio aprovar e agradecer a Revolução dos Cravos. Ninguém tinha dúvidas de que começara ali uma nova era. Respirava-se fraternidade, liberdade, civismo, amor. Que bom seria distribuir medalhas a este povo, como se distribuíram os cravos.
Mas se não é possível condecorar todo o povo, é sempre possível condecorar um símbolo desse povo e da sua entrega generosa à revolução, como argumento decisivo que a fez triunfar; e se há uma pessoa que pode simbolizar a multidão, na sua simplicidade, humildade, lhaneza é, por certo a D. Celeste Caeiro, que protagonizou o gesto que deu nome à revolução, que deu ao país aquilo que podia dar, como fizeram os heróis desse dia, uns que já receberam o justo galardão, outros que ainda esperam por um sinal do nosso reconhecimento. O tempo urge. Celeste nasceu em 1934.
De: Fernando Frederico
Associado ASM