Lourdes Dos Anjos | AO ANOITECER
É ao fim da tarde
que as horas correm...
Correm velozmente
como se fossem gente
ansiosa por voltar a casa
depois de longas horas de canseiras
Acendem-se as luzes
e apaga-se a escuridão
Abre-se o correio que chegou
Põe-se a mesa e contam-se os talheres
Verifica-se se, para todos, chega o pão
Fecham-se portas e janelas
não vá entrar por alguma delas
quem arranque o nosso pedaço de chão
É ao fim da tarde
que anoitece a vida de repente
e as horas correm velozmente
Ao pensamento chegam as memórias
do que se disse e do que não se fez
Matam-se os minutos um de cada vez
e sentimos mais forte o medo da escuridão
É ao fim da tarde, ao anoitecer
que temos mais vontade de viver
de sorrir, de construir, de ser feliz
É no regresso ao nosso lugar
que fustigamos a noite
e construímos muitas madrugadas
porque nelas ainda mora o sonhar,
e a vontade de crescer, sorrir e ficar
É ao fim da tarde, que queremos ser
eterno raio de sol pronto a renascer.
Lourdes dos Anjos