Nos últimos tempos, mais acentuadamente desde o início da pandemia, o termo burnout entrou na nossa linguagem quotidiana, no nosso léxico mental. É um termo que vem da língua inglesa e que podemos traduzir por “queimar até ao fim”, que usamos para denominar uma perturbação psicológica causada pelo stress excessivo que decorre de uma sobrecarga com a qual não se consegue lidar. O termo foi usado pela primeira vez nos anos 70, começando por estar associado a profissões em que é necessário cuidar dos outros, mas está atualmente generalizado a quase todas as profissões onde se conjuguem estes sintomas: exaustão mental e física, despersonalização manifestada na falta de empatia ou afetividade no contacto com os outros e uma baixa realização profissional.
A crescente incidência do burnout, já reconhecido pela Organização Mundial de Saúde, tem graves consequências no sofrimento das pessoas e no funcionamento das organizações. Sabemos que alguns fatores desencadeadores mais relevantes deste problema são os contextos de trabalho que combinam elevados níveis de stress, resultantes de enormes solicitações funcionais com exigências de responsabilização e de resultados exageradas e que envolvem permanentes sobrecargas de trabalho. Os contextos de trabalho com deficiente clarificação dos propósitos, objetivos, papéis e funções, a comunicação insuficiente ou disfuncional, a escassez de recursos, o reduzido envolvimento dos trabalhadores, a baixa autonomia e controlo sobre o trabalho e o reduzido suporte social (da organização, dos líderes/gestores e dos pares) são fatores precipitantes de situações de burnout. As pressões temporais excessivas, as longas jornadas de trabalho e horários noturnos, atípicos ou por turnos, que limitam a compatibilização da vida profissional com a vida pessoal e familiar, bem como a insegurança no trabalho e sentimento de injustiça nas relações laborais são também determinantes.
Todos nós dispomos de mecanismos de coping, mais ou menos adequados e adaptados, para lidar com o stress e com as situações da vida diária, todos os dias resolvemos problemas, todos os dias respondemos a solicitações, isto faz parte do nosso dia a dia. Para tal acontecer usamos determinados recursos internos que conjugamos com a quantidade de estimulação externa. Assim, devemos encarar o burnout como um problema organizacional e pessoal, tentando implementar mudanças assentes na prevenção destas situações na vertente da organização e também na dimensão do indivíduo.
Muitas vezes espelhamo-nos em casos de sucesso e baseamo-nos nas histórias de vida de outras pessoas, assim criamos metas e expectativas que podem não corresponder à nossa realidade. Algumas pessoas têm mais sorte, outras mais possibilidades, algumas atingem determinado sucesso mais jovens e outras mais velhas, somos diferentes e no trabalho também. O facto é que cada um de nós possui a sua própria história, que é única, com diferentes adversidades e conquistas. Devemos parar de fazer comparações, parar de romantizar o trabalho, deixar de colocar no trabalho uma energia desproporcional ao que é exigido. O espaço para a vida afetiva, familiar, social, pessoal deve existir, coexistindo de forma saudável com o trabalho.
As férias não resolvem situações de burnout mas podem ser fundamentais na sua prevenção. Desligar do trabalho, do email profissional, ter tempo de qualidade para fazer o que dá prazer, quebrar a rotina é fundamental mas o regresso ao trabalho, muitas vezes, traz pilhas de assuntos para resolver. Assim, reflita sobre o seu trabalho, pense nos aspetos que mais gosta no local onde trabalha e nas suas funções. Defina o seu propósito no seu trabalho e analise o que lhe traz ou poderia trazer motivação. Aproveite as férias para pensar sobre como se sente no seu local de trabalho, como se sente consigo mesmo, para fazer um balanço pessoal e profissional. Se sentir que não consegue fazer esta análise de forma independente ou que esta análise lhe traz desconforto, recorra a ajuda de um profissional e lembre-se que o burnout afeta muito mais do que a sua produtividade, afeta a sua saúde. Estas férias cuide da sua saúde mental! Boas férias!
Rita Diogo, Psicóloga Especialista em Psicologia Clinica e da Saude