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BAIÃO CANAL - Jornal

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DUAS DE LETRA | Lourdes dos Anjos | CACHOPAS , MOÇOS E AVÓS (2004)

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Quando a vida não era mãe nem fada madrinha
Quando as cachopas nasciam mulheres
com direito a dois furos nas orelhas e uma linha.
Quando os moços nasciam homens
de mãos calejadas sem direito a meninice
quando o choro era dor e nunca uma perrice
quando o pai era dono, rei e senhor
quando a mãe era só parideira sem direito ao amor...
eram tristes tempos de vidas cheias de pobreza
onde a primavera não tinha data para nascer
e era pecado recusar a cruz e o sofrer.
Hoje as crianças já nascem crianças
com direito a berço feito de mimo e amor
com pai e mãe partilhando o parir , a alegria e a dor.
Mas com tão rápida e enorme mudança
vive-se um fantástico e efémero "faz de conta"
compra-se uma vida feita á pressa e meia pronta
inventam-se tempos com algum tempo d'ilusão
e esquecem-se a honra ,a moral, e a retidão.
Deixa-se pelo caminho o equilíbrio e a humildade
enquanto se destrói o sonho de natural igualdade
As cachopas e os moços dum tempo sem meninice
são , hoje, avós mergulhados na negra noite da velhice
e muitos dias sem abraços, sem sol, sem esperança
num retorno doloroso ao seu tempo de ser criança
E enquanto os que tudo tem sempre exigem mais
morrem de solidão os velhos PAIS DOS SEUS PAIS.