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BAIÃO CANAL - Jornal

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“ÁGUAMINHA”

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 Na busca de uma teoria geral da Saúde/Doença e na eterna interrogação sobre o funcionamento global dos seres humanos, há conceptualizações biomédicas que se encontram no limite da consistência e que a prática clínica inquestionavelmente põe em causa.

O isolamento do  órgão, a independência do corpo, a separação da mente, são disso flagrantes exemplos, nesta era em que o conhecimento da unicidade de exercício se encontra  num estado idêntico ao das infecções antes de Pasteur: apenas obliquamente se apercebe e se cuida, apesar das suas irrefutáveis evidências.

 

Pasteur foi uma figura de tal dimensão na História da Medicina que, mesmo sem darmos por isso,   continua modelarmente presente.

Todos simbolicamente procuram as malvadas “bactérias” que provocam a Doença, na intenção de as elidir e na inteligência de as extirpar, esquecendo que essa mesma Doença resulta, por norma, de perturbações internas teoricamente dispensáveis e de  “escolhas”   não susceptíveis de antibiograma.

 

A Medicina e a Psiquiatria ensinaram-me o que era a Doença.

A Psicanálise ensinou-me o que era a Saúde.

Nem a Medicina, nem Psiquiatria, nem a Psicanálise, me ensinaram como se conjugam as funcionalidades humanas. Não me ensinaram porque não sabiam, obviamente.

Honradamente me compendiaram biologias, fisiologias, sistemas, ingerências, equivalências, terapêuticas, cirurgias, mas ficaram-se por aí, acrescentando-lhes entretanto uma escola dita Psicossomática que fez a sua época mas se encontra completamente esgotada nos seus princípios e nos seus fins.

Mais de cinquenta anos de longas escutas e de tentativas de compreensão das pessoas,  ensinaram-me a pensar na singularidade  das queixas, no dinamismo das oficinas,  no processamento das corporizações.

 

Nestes terrenos da Saúde/Doença há desenvolvimentos científicos, laboratoriais, tecnológicos, antropológicos, jurídicos, filosóficos e assistenciais que incessantemente fornecem excelentes descobertas e brilhantes certezas, mas continuam centrados na dualidade que importa desconstruir e ocasionalmente se alarga a tertúlias de misticismos,  destinos e inexplicáveis ocorrências. Mas a agregação final é sempre bastante mais complexa do que a soma das partes e bastante mais “humana” do que as esquemáticas leituras.

 

As ciências médicas, psicológicas, sociológicas, epistemológicas, terão de esclarecidamente cruzar-se no futuro próximo.

Terão de  enquadrar-se,  compaginar-se, interligar-se, em paradigmas investigacionais muito diferentes dos até agora reverenciados, porque a subjectividade, a misteriosidade, a depressividade, entroncam-se na Doença no Sapiens e dela jamais serão apenas uns meros “influencers” emocionais, como habitualmente se diz.

 

A teorização daquilo a que chamo “ÁGUAMINHA” (o fluxo da subjectividade no corpo, em canais que adivinhamos mas por agora desconhecemos), baseada nos indícios que na clínica fui recolhendo, nas observações que fui interpretando e nas razões que pouco a pouco fui discernindo, constitui um ponto de vista …

… sobre o qual valerá a pena reflectir, em minha opinião.

 

Jaime Milheiro