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BAIÃO CANAL - Jornal

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Aníbal Styliano |OS PEQUENOS TAMBÉM SÃO GRANDES (6) | Futebol de rua

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Hoje é dia de regresso ao passado para reforçar a memória futura.                                         

De região para região, surgiram novas regras com a mesma intenção: jogar futebol.

Jogoscom fortes emoções, jogadas geniais e quando alguém consegue fintar, o aplauso é geral.

Depois, sem interferência de adultos, a liberdade do jogo. Sem transmissões televisivas, sem troféus mas com o reconhecimento e “fama interpares”, não há pais, nem treinadores, a discutir mas lideranças espontâneas… onde, apesar de poder sair de qualquer boca um palavrãozito imparável desconhecem-se palavras difíceis, como corrupção ou suspeição. Tudo é transparente.

A bola cria um mundo novo, um sonho, um tempo único que não nos sai da cabeça e provoca um sorriso diferente,com autenticidade.

As regras do futebol de rua podem servir como uma estratégiade treino nos escalões mais jovens. Uma vez por semana: por sorteio, escolhe-se um jogador; ele levará a bola para o centro; depois marcam-se as balizas com dois sapatos/chuteiras/ténis; escolhem-se dois capitães e, cada um na sua vez, escolhe um jogador, num processo que só termina quando todos estiverem escolhidos. O jogo termina quando uma equipa conseguir 10 golos, ou ao fim de 30 minutos. Se a bola for para um lugar afastado, quem a enviava era quem a teria de a ir buscar. Treinador observa e toma notas de processos e de pormenores. O jogo não tem árbitro, decorre naturalmente.

 

Regras gerais da minha infância (e de muitas outras e com testemunhos afins):

1- O Guarda-redes é quem se voluntariar; caso ninguém queira ir para a baliza, faz-se um sorteio.

2- O jogo muda aos 5 e acaba aos 10 (ou quando todos estão cansados).
3- Mesmo que uma equipa esteja a vencer por muitos, se alguém disser “quem marcar o último golo, ganha”, assim será.
4- Nunca há árbitro.
5- Só se marca falta e livre, se tiver sido um lance que todos viram, ou se alguém se magoar e chorar.
6- Não existe o fora-de-jogo.
7- Se o dono da bola se zangar, pega nela e acaba o jogo. Os outros tentam arranjar logo outra bola.
8- Os melhores jogadores, para não desequilibrarem as equipas, jogam como adversários e são eles que escolhem o resto da equipa; para isso, colocam-se frente a frente, a uma distância marcada por uma linha no solo e vão colocando um pé encostado à frente do outro, alternadamente e em linha, até se tocarem. O primeiro a tocar o pé do adversário é quem começa a escolher.
9- Os últimos a serem escolhidos são os que jogam menos bem.
10- Na marcação dos livres, a barreira fica sempre perto da bola (2 passos no mínimo)
11- O jogo interrompe-se quando passa um adulto ou uma senhora com um bebé.
12- A partida pára quando a bola entra num quintal vizinho ou parte um vidro de alguma casa, ou quando passa um camião, autocarro ou carro. Se forem motas ou bicicletas, pode seguir o jogo.
13- São “adversários ferrenhos” os jogadores do bairro mais perto (a não ser que se mude de residência e nesse caso pode acontecer “transferência”).

14- Os que não sabem dar um pontapé na bola, são suplentes, defesas ou guarda-redes.
15- Pode haver moradores que tentem impedir o jogo (ameaçando que ficam com a bola, ou que vão chamar a polícia).
17- Joga-se como uma final.
18- As balizas são duas pedras, latas, peças de roupa, sapatos e uma equipa vai sempre tentar conseguir ter uma baliza mais pequena.
19- Quando uma equipa marcar um golo por cima do guarda-redes, a equipa adversária vai gritar “FORA”(para que o golo não seja validado).
20- Os “foras” podem são marcados com o pé, ou com as mãos e é possível atirar contra um adversário, árvore ou outro qualquer objecto e seguir a jogada (só é fora se for impossível jogar nesse local).

21- Os muros, árvores e outros obstáculos, podem ser utilizados para tabelar.
22- Num penálti, o guarda-redes sai da baliza e quem vai tentar defender é o melhor jogador.

23- Durante o jogo, quando o resultado começa a ficar desequilibrado, a equipa que vence envia um jogador seu (ou mais que um) para a outra equipa (para dar “forra”, ou seja, para equilibrar o jogo).

24- Todas as bolas são autorizadas (plástico, couro, borracha, papel, meias e outros materiais) e os jogadores podem jogar descalços ou calçados.

Assim nascem sonhos únicos, amizades para a vida e talentos que encantam.

 

Aníbal Styliano (Professor e Comentador)

Dia 22 de setembro... Marque na sua agenda!

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"José Afonso - O triângulo mágico na sua vida e obra"

É já no próximo dia 22 de setembro que Paulo Esperança apresenta o seu livro, na Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto. A apresentação contará com a presença de Mário Correia, Judite Babo, Paulo Esperança e Ana Afonso (Momento musical).

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Aparece 

Museu do Aljube Resistência e Liberdade

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Últimas semanas para visitar a expoisção “REVOLUÇÕES: Guiné-Bissau, Angola e Portugal (1969-1974)”, curadoria de Elisa Alberani, Miguel Cardina e Vincenzo Russo. A história de uma viagem feita de várias viagens, composta por 56 fotos, algumas inéditas, outras publicadas em Itália em catálogos fotográficos na década de 1970 ou em revistas e jornais europeus da época, constituem apenas uma amostra do vasto acervo de imagens de Uliano Lucas.

Santo Tirso – Prisão preventiva por violência doméstica

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O Comando Territorial do Porto, através do Posto Territorial de Vila das Aves, no dia 23 de agosto, deteve em flagrante um homem de 46 anos, por violência doméstica, no concelho de Santo Tirso.
Na sequência de uma denúncia de violência doméstica, militares da Guarda deslocaram-se rapidamente para o local onde apuraram que o agressor, um homem de 46 anos, injuriou e ameaçou, com recurso a uma arma branca, as vítimas, sua companheira e filha de 60 e 18 anos. No âmbito das diligências policiais o suspeito foi detido e a arma branca foi apreendida.
O detido, com antecedentes criminais por crimes da mesma natureza, foi presente ontem, dia 24 de agosto, no Tribunal Judicial de Matosinhos, onde lhe foi aplicada a medida de coação de prisão preventiva.
A violência doméstica é crime público e denunciar é uma responsabilidade coletiva. Se precisar de ajuda ou tiver conhecimento de alguma situação de violência doméstica participe:
• No Portal Queixa Eletrónica, em queixaselectronicas.mai.gov.pt;
• Via telefónica, através do número de telefone: 112;
• No Posto da GNR mais próximo à sua área de residência

Mais uma vez roubado ao Francisco Chico da Emilinha

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E NUM TIRO ! ! !

Certa vez um miúdo resmungava com o Pai, que meu Amigo era, e é, queria um chocolate, como o Pai lhe dizia que não o catraio atira-lhe com um VOU CHORAR, respondendo o PAI, OK então CHORA !
O Chavalo que era fresco, ainda é felizmente, afinou, bateu com um pé no chão e atira . – E NUM CHORO ! ! !
Lembrei-me do episódio e já lá vão uns anos, pelo que me aconteceu no “parque de estacionamento” das maleitas, no velhinho ( mais sou eu ) Hospital de Gaia.
Tinha uma entrevista marcada e à hora lá vou falar com o SE DÓTOR, que me diz:
- Sais, viras à direita ( nunca esperei o semelhante, fiquei logo agoniado ) e esperas que te chamem junto da segunda porta.
Não demorou muito lá me chamam, dizendo-me o enfermeiro:
- Pode-se sentar na MARQUESA ( Não… Não era a que batia com elas em cima da mesa )
Perguntei-lhe logo se me podia deitar, visto ter como lema---- Nunca estar de pé, se puder estar sentado, nem sentado se puder estar deitado - - - ao que ele disse que sim, esteja à vontade.
Nisto entra o SE DOTOR e todo lampeiro e a matar manda:
- ORA VAMOS LÁ A ISSO ! ! !
Aqui o enfermeiro, que estava a preparar o que não sei eu, diz para mim:
- TIRE AS CALÇAS, SE FAZ O FAVOR ! Teve como resposta:
- E NUM TIRO ! ! !
O rapaz continuava de costas a tratar do que me era destinado e insiste:
- TIRE LÁ AS CALÇAS ! !
Respondi na mesma:
- E NUM TIRO ! !
Ficou logo por ali a cena, pois o SE DOTOR logo percebeu, dizendo com um sorriso:
- O homem está de CALÇÕES ! ! !
OK PRONTOS eu tiro os CALÇÕES, dizendo o SE DÓTOR:
- Não precisa de tirar as cuecas ! !
Aqui ri-me eu, pois como os Calções eram umas calças de ganga que cortei, I(ficou uma perna maior do que a outra, mas não há crise, pois tenho umas pernas LINDAS e ninguém nota) já há uns tempos, foram mais uns tempos atrás em com as de ganga não andava de ECAS, mas andava com o cu e continuo a andar.
VIRE-SE PARA LÁ E FIQUE DE LADO - diz o MAIOR
Aqui a coisa não me agradou lá muito, pois estavam já dois gajos atrás de mim e eu nem os via, de hoje em dia todo o cuidado é pouco , num me pus a adivinhar como a senhora do Napoleão, até porque por ali não havia sabonetes, nem eu me estava a abaixar, mas que carago, para não dizer caralho, pois há quem borre a pintura toda ao querer dizer uma coisa e disfarce muito mal dizendo outra que quer dizer o mesmo, que não queria dizer mas disse, he he .
Senti uma picadela de ladeiro, um estremecer, por o gajo não me ter avisado, num se ponham já com merdas e a coisa lá se correu sem problemas.
Vais tomar este anti-inflamatÓro que também é Analgésico ( deve ter a BER com as NALGAS), aí dois a três dias e de 12 em 12 horas, logo à noite, põem gelo. Perante o tom tão afirmativo acatei as ordens e vim embora, faço tal qual o HOMEM que deve saber me disse.
Não me dói nadinha na ANCA direita, mas ficou a ideia que dói mais a esquerda, antes era equilibrado, doía dos dois ladeiros, mas em Outubro vou ter o mesmo tratamento na esquerda, até é melhor pois pelo que recebi hoje pelo correio, dei por ela que é já depois das eleições e oxalá a esquerda não precise de nenhuma INFILTRAÇÃO – da droga que me enfiaram, para se aguentar de PÉ !
É que dantes os gajos do pontapé na bogalha, levavam desta merda e ficavam finos, embora hoje e passados anos, andem todos fodidos das articulações, mas se comigo se aguentar mais uns anos sem dores, já é fixe, num jogo, mas ao menos poderei andar na BOA.
OXALÁ E OXACÁ
 
Chico da Emilinha
Arquivo
 

AD de Baião bom ensaio frente ao Soalhães

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A Associação Desportiva de Baião em mais um jogo de preparação venceu o Soalhães por 4-0. Os golos foram marcados por :  Lima, Henrique, Pedrinho e Cavani.

No próximo dia 10 de Setembro, terá inicio o Campenato, com a AD Baião a deslocar-se a F.C. Vila Boa Bispo.

Apoia a tua equipa! O teu apoio é importante

 

 

O DOMADOR DE PALAVRAS | Eduardo Roseira

Eduardo roseira

Mário Viegas, actor de génio e coragem

            Qual tipo “dois em um” e de forma a evocar o dia Mundial do Teatro que se comemorou a 27 de Março e o Dia das Mentiras no dia 1 de Abril, quero falar-vos de uma pessoa que a brincar, a brincar, levou a vida a sério, daí que lhe dedique este poema de Brecht, antes de falar dele:

 

“Há homens que lutam um dia e são bons
Há outros que lutam um ano e são melhores
Há outros que lutam muitos anos e são muito bons
Mas há os que lutam toda a vida.
Esses são imprescindíveis.”

            Há vinte e cinco anos, no dia 1 de Abril de 1996, fazia madrugada e um tipo que tinha nascido em Santarém, em 1948, resolveu pregar-nos uma partida própria do Primeiro de Abril.

 

            Para alguns, ele era um tipo assim a atirar para o “esquisito”, pois sempre foi ligado a fazer CENAS; PEÇAS e outras coisas que tais e às vezes até fazia FITAS.

 

            Porque não era gajo para andar só, não esteve com meias medidas e “arranjou” uma…. duas…. três… COMPANHIAS.

 

            Concerteza que não foi pelas CENAS, FITAS, PEÇAS ou mesmo até pelas COMPANHIAS que passados estes anos após a sua morte, poucos, muito poucos, são os que dele se lembram, ou será que se sentiram magoados com um gajo que resolveu morrer no dia das mentiras,….se calhar é verdade. Foi por isso?!...

 

            Era um de Abril, já lá vai um quarto de século, que muito ao seu jeito de “bom/mau da fita”, o actor Mário Viegas resolveu pregar-nos uma partida de Abril e rumou destino a outras paragens, sem se despedir cá da malta.

 

            Mário Viegas, actor, declamador, Homem de coragem, fundou três COMPANHIAS de Teatro. No palco interpretou, entre outros, Beckett; Tchekov, Beckett, Pirandello, Beckett, sempre Beckett, se a memória não me atraiçoa, pelo menos sete vezes o seu adorável Beckett.

            Interpretou alguns dos mais importantes papéis em peças de Baal, Hamm, Krapp, Vladimir, Wang, entre outros. Encenou peças de Eduardo de Fillipo, Bergman, Tchekov, Strindberg, Pirandello, Peter Shaffer e Beckett – sempre e inevitavelmente, Beckett!

            Viegas adorava – e revia-se – tanto no estilo dramático do autor de “À Espera de Godot” que chegou a encenar oito peças deste Prémio Nobel.

 

No cinema, fez uma dezena e meia de filmes, estreando-se com “O Funeral do Patrão” de Eduardo Geada, mas os seus maiores sucessos foram “Kilas, o Mau da Fita” de Fonseca e Costa, “A Divina Comédia” de Manoel de Oliveira e “Afirma Pereira” de Roberto Faenza, onde contracenou com Marcelo Mastroiani, também já desaparecido.

 

            Fez também muita rádio e televisão, onde se destacaram os programas de poesia. Poesia que amou, disse e divulgou, tanto a de autores estrangeiros como especialmente a de poetas da lusofonia. Para além de a divulgar, ensinou-a.

 

            E foi na madrugada do Dia das Mentiras – O actor Mário Viegas morria na Unidade de Infecto-Contagiosas do Hospital de Santa Maria em Lisboa.

            António Mário Lopes Pereira Viegas era natural de Santarém, onde nasceu em 10 de Novembro de 1948.

 

Amante da Poesia, Mário Viegas gravou cerca de duzentos poemas em catorze discos, onde o podemos ouvir dizer Luís de Camões, Cesário Verde, Camilo Pessanha, Almada Negreiros, Fernando Pessoa, Jorge de Sena, Alexandre O’Neill, Pablo Neruda e muitos outros.

Tendo assumido a responsabilidade de divulgar poetas e humoristas, tais como Mário-Henrique Leiria, Luiz Pacheco e Pedro Oom.

Além-fronteiras, Viegas deuespectáculos em Moçambique, Macau, Espanha, Bélgica e Holanda.

 

Um episódio caricato marca o ano da Revolução de 1974:

- Filipe La Féria e Mário Viegas decidem levar à cena a peça “Eva Péron” de Copi, no Teatro da Feira da Ladra. Durante os ensaios Viegas é chamado à Embaixada da Argentina, onde lhe disseram que este país ameaçava cancelar as exportações de carne de vaca e de milho, caso a representação se concretizasse. “Por motivos de interesse nacional”, a estreia de “Eva” foi cancelada e a companhia dissolveu-se.

 

O seu percurso foi alicerçado no seu imenso amor pela cultura, o que lhe granjeou diversos prémios de prestígio e popularidade da imprensa. Em 1993, a Câmara Municipal de Santarém atribuiu-lhe a Medalha de Mérito da Cidade, em 1994 o então Presidente da República, Mário Soares, ordenou-o Comendador da Ordem do Infante D. Henrique, enquanto a Câmara Municipal de Lisboa, deu o seu nome, com ele ainda vivo, à sala-estúdio do Teatro de S. Luiz.

 

Apesar de tudo, passados vinte e cinco anos sobre a morte de um “actor de absoluto génio”, poucos tem sido os que fazem por recordá-lo. Até porque, como Viegas disse um dia:

“- Dos poemas, dos escritores, ficam os livros editados, as palavras escritas; dos actores fica a memória, mas essa morre com as pessoas!”

 

As próximas palavras são dirigidas a ele:

            - Mário, agora que andas a fazer cenas noutras paragens, espero que me ouças bem:

         - Olha, deixa-te de merdas! Fica sabendo que ainda restam por cá muitos gajos com memória que não se esquecem de ti e dizem mesmo, que quando fizerem parte do teu “novo círculo eleitoral”, vão votar em ti, assim tu te candidates!

         Um abraço e até um dia destes!...

         - Ah, já me esquecia, não gastes o “GIN TÓNICO” todo, guarda algum para nós.

 

            Agora, peço-vos que imaginem a ironia e os gestos, como se estivéssemos a escutá-lo a dizer este poema:

 

                                      FÁBULA

 

                                  O lobo foi ter

                                com a galinha

                                 e disse-lhe:

 

                      “Devíamos conhecer-nos

                        melhor para vivermos

                      com amor e confiança.”

 

                     A galinha achou bem

                        e foi com o lobo.

               Foi por isso que as suas

                penas ficaram espalhadas

                         por todo o lado.

 

Mário Viegas, mais do que actor e declamador, foi um verdadeiro “Domador de Palavras”!

 

Eduardo Roseira

 

Fernando Pimenta sagra-se campeão do mundo em K1 1000

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Este sábado a medalha de ouro em K1 1000 metros dos Mundiais de canoagem, que decorrem em Duisburgo, na Alemanha, foi conquistada por Fernando Pimenta.

O atleta Português completou a prova em 3.27,712 minutos, com este resultado o canoísta o canoísta apurou Portugal para os Jogos Olímpicos de Paris 2024.

Nem mais uma vítima! Por Maria Odete Souto

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Depois do choque, de respirar, incrédula, resolvi escrever. Pela Carla e por tantas vítimas que vão tombando às mãos daqueles que lhes juraram amor eterno.
A Carla Fonseca, morta a tiro pelo ex-marido, em Felgueiras, no início desta semana, era professora e foi minha colega na Escola de Santa Marinho do Zêzere, a família SMZ. Era uma mulher bonita, simpática, viva e de sorriso aberto e franco e uma excelente profissional. Nada faria prever que, por trás disto, estivesse uma vítima de violência doméstica.
Sabia que o companheiro era mais velho que ela 14 anos, mas tudo indicava que viviam bem, pelo menos no tempo em que fomos colegas e privamos. Tinham um filho lindíssimo, de seu nome Lourenço, atualmente com 11 anos.
Fiquei em choque com a notícia da sua morte. Porque foi mais uma mulher que foi morta, vítima de violência doméstica, e foi a Carla.
Por essa razão decidi escrever. Para que a morte dela não tenha sido em vão. Ninguém pode ficar indiferente e precisamos de encarar a violência doméstica como um desígnio nacional.
Precisamos de acordar para estas realidades e perceber que todos somos responsáveis. Na forma como educamos, na indiferença que vamos tendo em relação áquilo que nos rodeia, nos julgamentos fáceis e no fingimento. E isto revolta!
Impõe-se avaliação célere das situações e intervenção adequada, impõe-se empoderamento das vítimas e tratamento dos agressores. Impõe-se educação. E claro, impõe-se mão pesada.
A violência doméstica é um flagelo que atravessa todas os grupos sociais e todas as faixas etárias. Não tem raça, não tem credo, não tem classe social. E a pressão social asfixia, muitas vezes. O medo e a vergonha de ser vítima e se assumir como tal, o julgamento social, os filhos, enfim, um sem número de questões que vão destruindo a pessoa e perpetuando a violência. Até à morte.
Todos os dias se vão construindo relações tóxicas, violentas, desrespeitosas e as pessoas vão-se enredando e matando lentamente. É preciso acordar para esta realidade e perder o medo e a vergonha. É preciso denunciar e agir. É preciso saber que isto não é amor. Pelo contrário, estas são relações de poder e não de companheirismo. Estas são relações abusivas que não devem ser permitidas em nome de nada. Ninguém é de ninguém!
Um agressor é um cobarde, um triste que não consegue caminhar lado a lado. Não raras vezes é alguém que já viveu contextos violentos e reproduz o comportamento. Daí que seja necessário, também, tratar os agressores. E punir.
Voltando, ao caso em apreço, o homicida matou-a e depois suicidou-se. Deixou uma comunidade em choque, um filho sem pai nem mãe e com um fardo insuportável. Deixou a família dela destruída e a dele também. E os alunos dela, particularmente os mais recentes, no Agrupamento das Taipas. E os colegas e os amigos. Tanta destruição que precisa de ser evitada a todo o custo. 
É preciso educar para a paz, para o respeito, para a compaixão. É preciso educar melhor. É preciso amar e saber o que é o amor. Quem ama não maltrata! Isto não é amor.
Ao Lourenço, o filho da Carla, espero que consiga aguentar este fardo imenso. Não tenho dúvidas que o tentarão ajudar. E que lhe fique sempre o exemplo da grande Mãe que teve.

À família e aos amigos as minhas condolências e que saibamos honrar o nome da Carla Fonseca, encetando uma batalha sem tréguas, contra a violência doméstica, para que não haja mais vítimas.
Por último, é claro que não há apenas violência doméstica contra as mulheres, mas os números não enganam. É preciso por cobro a isto.
Não se calem! Denunciem! A violência doméstica é crime público. Não tem de ser a vítima a denunciar. Falem, partilhem e nunca olhem as vítimas de lado.
Até sempre, Carla!

Maria Odete Souto

Campanha de Segurança Rodoviária “Taxa Zero ao Volante”

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A Campanha de Segurança Rodoviária “Taxa Zero ao Volante”, da responsabilidade da
Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR), da Guarda Nacional Republicana (GNR) e
da Polícia de Segurança Pública (PSP), decorreu nos dias 17 a 23 de agosto e teve como objetivo
alertar os condutores dos veículos para os riscos da condução sob a influência do álcool.
Esta iniciativa incluiu cinco ações de sensibilização da ANSR, realizadas em simultâneo com as
operações de fiscalização realizadas pela GNR e pela PSP, nas localidades de Lisboa, Almada,
Figueira da Foz, Amarante e Faro. Contou ainda com a participação dos serviços da
administração regional da Região Autónoma dos Açores completando o trabalho de fiscalização
que tem sido realizado pelos comandos Regionais da PSP.
Inserida no Plano Nacional de Fiscalização de 2023, a campanha foi divulgada nos meios digitais
e através de um comunicado de imprensa enviado para a comunicação social no dia do
lançamento da campanha.
Neste período foram sensibilizados 479 condutores e passageiros, a quem foram transmitidas
as seguintes mensagens:
 Com uma taxa de álcool no sangue de 0,5 g/l o risco de sofrer um acidente grave ou
mortal duplica;
 Os acidentes que decorrem da condução sob a influência do álcool são particularmente
graves;
 Conduzir sob a influência do álcool causa perturbações ao nível de aspetos cognitivos e
do processamento de informação que acarretam, entre outros efeitos, uma menor
capacidade e rapidez de decisão, aumento do tempo de reação e descoordenação de
movimentos.
Durante as operações das Forças de Segurança foram fiscalizados presencialmente 48.909
veículos, tendo sido registado um total de 13.691 infrações, das quais 884 relativas à condução
sob o efeito do álcool.

Número de
veículos
fiscalizados

Total de
Infrações

Infrações relativas à
condução sob o
efeito do álcool
GNR 35 127 9 273 710
PSP 13 782 4 418 174
Total 48 909 13 691 884

No período da campanha registou-se um total de 2.694 acidentes, de que resultaram 6 vítimas
mortais, 63 feridos graves e 903 feridos leves.
Relativamente ao período homólogo de 2022, verificaram-se menos 23 acidentes, menos 8
vítimas mortais, menos 3 feridos graves e menos 56 feridos leves.
Os acidentes com vítimas mortais ocorreram nos distritos de Vila Real, de Braga, de Viseu, de
Setúbal (2) e de Évora.
As 6 vítimas mortais, 5 das quais do sexo masculino, tinham idades compreendidas entre os 28
e os 81 anos.
Estas vítimas mortais resultaram de 2 colisões entre veículos, envolvendo: 1 ligeiro de
passageiros, 1 ligeiro de mercadorias, 1 pesado e 1 agrícola/tratocarro. Verificou-se ainda 1
colisão de velocípede com obstáculo na via, e ainda 3 despistes (2 veículos ligeiros e 1
motociclo), 2 dos quais em curva.
Os acidentes com vítimas mortais ocorreram em 2 estradas nacionais, 2 arruamentos, 1 estrada
municipal e 1 outra via.

 

 

Bombeiros feridos em Baião com evolução favorável

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Os Bombeiros que feridos em incêndio em Baião, mantêm-se internados no hospital de Penafiel com "evolução favorável", segundo fonte hospitalar.

"Todos os internados [estão] com evolução favorável", precisou fonte contactada!

O bombeiro com ferimentos mais graves foi submetido na terça-feira a uma cirurgia e encontra-se, atualmente, a recuperar, em cuidados intermédios.

Os dois restantes estão no internamento de cirurgia, em observação, de acordo com a mesma fonte do hospital.

 

Lourdes Dos Anjos | Duas de letra

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SER PROFESSORA -Ser eterna aluna da Vida e do Amor.
 
Antigamente, talvez há mais de duzentos anos, quando a minha carreira começou, os alunos não tinham apoios psicológicos nem pré-primária nem pais que os soubessem ensinar a fazer os trabalhos de casa.
Quando tinham dificuldades de aprendizagem, havia a palmatória, as proibições de ir ao recreio, as palavras difíceis vinte vezes cada uma e ainda os sermões paternais que ajudavam a missa docente.
Era assim tudo muito indecente naquele tempo de há quase dois séculos atrás…
Quando a canalha não ia, nem assim nem de outra maneira, andava na escola até aos 16 anos e depois ia para a costura, ia servir para casa duma senhora com posses ou aprender qualquer profissão de segunda classe e, pronto, o futuro era apenas só presente e muito triste.
Neste rosário de “padres nossos” fiquei com muitos amigos que hoje quase são da minha idade e me ensinaram muitos segredos da pesca do sável, da matança da lampreia, do jogo do pião, da forma de ajudar o parto das porcas e das ovelhas e também como se faziam os temperos dos chouriços e as receitas de muitos bolos tradicionais que os mais pobres inventavam de forma maravilhosa.
Uma dessas meninas, que deve ter hoje mais de 60 anos, saiu da escola com 15 anos bem avantajados, mal escrevia o seu nome mas fazia contas de cabeça quase tão rapidamente como eu.
Para ganhar “alguma coisita” foi vender fruta pelas portas com a mãe, e zangava-se muito sempre que a velha raposa enganava as freguesas com o peso ou a qualidade das laranjas ou das maçãs. Também não percebia porque raio a mãe teimava em vender muito artigo a quem pagava aos soluços, ainda que lhe explicassem que se iam metendo pelo meio das parcelas umas “croas” que davam para os juros da divida.
Não concordava, zangava-se, dizia uns quantos palavrões, vinha até junto da sua professora pedir conselho e lá continuava a sua cruz até ao calvário acompanhando a velha mãe.
Dizia que gostava de ser “senhora sua“, ter uma casinha pequenina numa rua onde ninguém a conhecesse, longe de todos os pobres como ela e pronto…ser gente.
Muitas vezes a contrariei e muitas outras a ajudei a sonhar.
Um dia largou a giga da fruta e foi para a feira. Depois arranjou um companheiro e fez um filho; depois ficou só com esse filho para criar. Depois , se calhar proibiram-na de sonhar e depois…
Um dia encontrei-a numa esquina duvidosa de uma rua ruinosa da cidade. Fui ter com ela dei-lhe
um abraço
 
grande e ouvi, sem nada perguntar, a minha menina dizer que estava ali porque esperava uma cunhada que trabalhava num armazém das redondezas.
Fiz de conta que era verdade.
Fiz de conta que não percebi.
Fiz de conta que acreditei.
Dei-lhe outro abraço agora mais forte e não fui capaz de segurar umas lágrimas atrevidas e azedas que se escaparam da cela dos meus olhos.
Muitos dias depois, na minha caixa do correio, tinha uma carta cheia de erros, muitos erros, com letra de imprensa (a única que aprendera a fazer e mal feita) dizendo que não perdoava o pecado de me ter feito sofrer e lhe tinha custado muito ver aquelas lágrimas enchendo o rosto da professora que tanto admirava.
A vida sempre lhe tinha dificultado a tarefa de aprender a ler e a escrever na escola mas, muito rapidamente, na rua, tinha -lhe ensinado como se acrescentava ao seu nome, a azeda palavra “Puta!”.
Não sei por onde hoje anda, nada mais consegui saber dos seus pesadelos e das suas raivas, mas tenho a certeza que vou levar comigo o rosto da menina que queria ser séria e caminhar por caminhos largos e sem sombras, de mão dada com a alegria, sem cheiros de ervas ruins nem sombras de vampiros.
Se calhar abril continua a ser um tempo de tempestade e eu também tenho culpa!
SER PROFESSORA AINDA É, PARA MIM...SER ETERNA ALUNA DA VIDA E DO AMOR...E SABER O GOSTO AMARGO DOS TEMPOS DO VERBO SOFRER

TREINADOR ME CONFESSO | De Jorge Araújo | Presidente da Team Work Consultores

JorgeAraujo

Apoderemo-nos de algumas velhas teorias que ainda hoje nos podem ser úteis, não renunciemos a elas. Os criadores modernos que fogem da teoria, têm nessa atitude o seu primeiro calcanhar de Aquiles.

Enrique Vila Matas, Perder Teorias, Teodolito, 2010

 Não basta que os treinadores queiram ter sucesso

Precisam lutar por isso, com base em parâmetros bem objetivos, o primeiro dos quais é a realidade, o contexto em que vivem e se desenvolvem.

Que referências importantes retirar do meio ambiente, tendo em vista a definição da estratégia que os conduzirá ao êxito? Que cultura e valores se apresentam como dominantes? A cultura e os valores representam a respetiva mística social, uma verdadeira cola que junta pessoas ao redor de objetivos e interesses comuns, dando origem a um estado de espírito coletivo que muitas vezes é decisivo para a obtenção do sucesso.

Segue-se a ideia fundamental que quem joga são os jogadores e não os treinadores ou os dirigentes. A motivação e a famosa concentração de que todos falam hoje em dia, decorre quase sempre, pela positiva e pela negativa, do tipo de enquadramento em que os treinadores e os dirigentes os colocam. Como tantas vezes tenho insistido, já nos anos cinquenta McGregor, autor de obras de referência acerca do tema da Motivação, afirmava que todo o ser humano é motivável e motivado por natureza e que, quando assim não atua, a responsabilidade não é na maioria das vezes sua mas sim do modo como é liderado.

Como pessoas e seres humanos que são, os jogadores não fogem a esta regra. Dentro de uma estratégia clara onde se percebam os objetivos a atingir e as regras de vida coletiva a respeitar e estejam envolvidos e responsabilizados na respetiva concretização e ajudam a que o todo seja maior que a soma das partes. Quando assim não acontece, naturalmente desmobilizam, cada um pensa mais em si que nos interesses da equipa.

Ideias bastante simples e com as quais estamos na generalidade todos de acordo.

 São fundamentais uma estratégia e uma liderança que tragam consigo o reconhecimento da autoridade de quem dirige

Todos os dias ouvimos, lemos ou assistimos a ocorrências várias comprovativas da falta de estratégia e de liderança com que por vezes atuam clubes profissionais e treinadores, empresários e políticos.

 Como se a realidade que os rodeia não existisse e os resultados e o sucesso que perseguem não justificasse outros cuidados que não o de se mostrarem exclusivamente concentrados em si mesmo.

A nível individual e coletivo buscamos o sucesso e o reconhecimento social como um suporte motivacional de decisiva importância. Para o conseguirmos, lançamo-nos dia-a-dia na procura de eventuais panaceias que nos conduzam ao êxito que almejamos. Até que descobrimos que não existem receitas verdadeiramente capazes de nos proporcionarem o sucesso. Mas sim um caminho que devemos prosseguir paulatina e obstinadamente. Onde a estratégia que utilizamos e a liderança que exercemos desempenham uma ação decisiva.

Trata-se de primeiro encontrar na realidade as referências e os modelos que nos permitam delinear uma necessária estratégia de ação. Depois apontar um princípio estratégico mobilizador de tudo e de todos, o guia orientador da intervenção da generalidade dos membros da organização a que pertencemos. Juntar-lhe valores, cultura quanto baste. Por fim levar à prática formas de liderança capazes de respeitarem questões decisivas em tudo o que se refira ao trabalho com pessoas. Quem é dirigido precisa de adquirir confiança em quem o lidera. Por via de uma autoridade reconhecida mais que imposta assente em competência, honestidade e coerência.

Também perceber que os resultados a obter dependem acima de tudo da mobilização de tudo e de todos ao redor de objetivos e interesses comuns. Que requerem uma estratégia de ação conforme com a realidade social vigente e um grande respeito pela cultura e os valores vigentes. Numa interação turbulenta, dinâmica e o mais flexível possível, respeitadora da necessidade de colaboradores cada vez mais criativos e autónomos, capazes de gerirem o inesperado e formados segundo a tese que, se jogamos conforme treinamos, temos de treinar como se joga.

  1. O treinador tem de ser capaz de mobilizar a motivação daqueles com quem trabalha

Mesmo quando a qualidade do candidato a treinador revela uma informação e formação acima da média, ele tem de ser capaz de provocar, através da sua ação, o interesse e motivação dos que aprendem e treinam, pois não há progresso nem êxitos possíveis sem a participação motivada dos atletas.

A profissão de treinador tem de ser exercida de modo estimulante para a autonomia futura dos atletas sob a sua responsabilidade, acreditando nas capacidades daqueles que fazem parte do seu grupo de trabalho e devolvendo-lhes competências.

Obviamente, cada treinador deve atuar de acordo com as suas características e limitações, sem nunca esquecer a responsabilidade que lhe está atribuída quanto à formação social e emocional dos atletas com quem trabalha e à melhoria gradual destes, no âmbito dos conhecimentos relativos à modalidade a que se dedicam.

Consciente que os resultados provenientes da intervenção do treinador têm profundos reflexos sociais pela influência educativa, (ou deseducativa!), que exercem nos jovens e nos adultos, quer sejam praticantes ou adeptos.

  1. Logicamente, não existem treinadores ideais

Não existem treinadores do tipo «que sabe tudo» e «nada o perturba», «homem sem defeitos» e comportamentos sociais e desportivos sempre irrepreensivelmente modelares. Tais modelos não passam de produtos imaginários, criados e alimentados por enquadramentos sócio desportivos alienatórios da realidade.

O treinador ideal, nem mesmo no domínio da utopia poderá ser descrito, não existindo um perfil único de treinador, mas sim uma série infindável deles, consoante as circunstâncias e suas respetivas necessidades de intervenção. Várias foram, até á data, as investigações cujas conclusões comprovaram que o treinador é um ser humano sujeito aos problemas e dificuldades de qualquer cidadão.

Ao treinador dos dias de hoje, exige-se-lhe um desempenho, onde, mais do que atuar de modo autoritário, ele veja a sua autoridade reconhecida, conhecendo-se a si próprio e às necessidades de realização, autoestima e segurança social que, como qualquer outro cidadão, norteiam a sua atividade. Desenvolvendo a sua ação com o objetivo natural de ter sucesso, (realização), «gostando de si próprio», (autoestima), necessitando, para isso, de pertencer a um grupo profissional socialmente dignificado.

Treinador me confesso.

Jorge Araújo - Presidente da Team Work Consultores

Arquivo

Júlio Isidro A MEMÓRIA NÃO SE ES...FUMA!

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E agora digam-nos ao ouvido que antigamente é que era bom.
O meu pai era um fumador compulsivo. Lembro-me das suas belas mãos - de pianista como a minha avó costumava dizer - de unhas arranjadas, mas queimadas de castanho pelos muitos cigarros fumados desde os...dez anos de idade!
Partiu aos 74 quase sem respirar com enfisema pulmonar e DPOC, doença pulmonar obstrutiva crónica.
Gostava de ver a sua tranquila mestria a enrolar uma mortalha de papel Zig-Zag num pedaço de tabaco retirado com o polegar, de um pacote de onça de tabaco Francez.
Também tinha uma máquina de enrolar cigarros, mas preferia o ritual manual e o toque final com a língua a colar o rolinho de vício.
Costumava comprar o tabaco na casa Havaneza, no caminho de volta da rua de S.Julião, sede da Companhia de Seguros Tranquilidade, onde desperdiçou dois cursos superiores , de Filologia Clássica e Histórico-Filosóficas, como escriturário da secção de acidentes de automóvel, até à reforma legalmente compulsiva.
Na altura era acusado de escrever bem demais, os relatórios de acidentes numa linguagem pouco usual para peritos e mecânicos.
Se não fossem esses relatórios talvez nunca tivesse comprado o meu primeiro motor para um avião.
O senhor Parreira era um perito muito perito em amolgadelas, para-choques, faróis quebrados e até lesões mecânicas nos carros acidentados, mas não era bom de escrever. Fez um pacto com o meu pai para que lhe escrevesse os relatórios dos acidentes . E assim o senhor Isidro (nunca quis que lhe chamassem dr. porque era licenciado, não doutorado) teve uma ideia educativa para o rapaz.
O conceito era:- Faz do sonho realidade, com trabalho.
Pôs-me a sua máquina de escrever Royal à frente e disse-me:- tens aqui os relatórios que escrevi à mão para o senhor Parreira. Por cada um que bateres à máquina, recebes 25 tostões, dois escudos e cinquenta centavos
E, afixou na porta do meu quarto um horário de trabalho e diversão para conciliar, o estudo, a brincadeira e esta “luta” pela vida de um motor.
Custava 250 escudos, logo, bati durante meses, 100 relatórios.
Um dia, com os bolsos cheios de moedas, corri para a Rua José Desaguy em Alvalade, entrei na MOSIL e disse ao senhor Mosil ( que na verdade se chamava Moreira da Silva):- Boa tarde. Quero aquela Webra Mk1 de 2,5cc.
O senhor pôs o motor em cima do balcão e eu despejei todas as moedas que tinha nos bolsos.
Tudo certinho, fiquei teso mas feliz.
Assim tem sido a minha vida, quando quero alguma coisa, junto primeiro e a trabalhar, porque não sei fazer mais nada.
Ainda tenho o motor que trabalha lindamente depois de 65 anos. Material alemão…
Em férias, ia com o meu pai para a "repartição", almoçávamos no restaurante das Portas Amarelas e a volta era uma caminhada pela Rua do Ouro até aos Restauradores para apanhar o eléctrico.
Sempre era mais barato, 8 tostões até ao Arco do Cego e depois a penantes para a João Crisóstomo onde nasci numa casa de 10 assoalhadas com uma renda de 500 escudos, alta para a época. Só nós sabemos o que foi difícil aquele tempo, também de aparências...
O senhor Isidro fumava em todo o lado, até na rua, a caminhar ao meu lado.
Um dia, no Rossio, a nossa caminhada foi interrompida pela abordagem de dois "cavalheiros" a merecerem as aspas que utilizei.
-Por favor mostre-me a sua licença de isqueiro!
Parámos, o meu pai nem retorquiu, e mostrou aos bimbos de chapéu cinzento, uma espécie de carta de condução que eu nunca lhe tinha visto.
- Aqui está - mostrou o documento que o autorizava com um pagamento anual volumoso, a acender os seus cigarros, sem ser apenas com fósforos das caixinhas que eu coleccionava quando vazias.
É verdade, havia fiscais muito parecidos com outros que tais, a controlar os possuidores de isqueiro, como outros, ou os mesmos, a ouvir as conversas que se trocavam nos cafés ou na via pública. Os outros bufavam, enquanto estes...multavam. E com percentagem na multa!
Ao ver hoje o preço de tal licença, 48 escudos de selo ou parecê-lo, constato que com este dinheiro se podia almoçar ou jantar três vezes num restaurante razoável, ou fazer 48 viagens de autocarro a 1 escudo cada bilhete, ou encher meio depósito de gasolina, ou comprar 120 pães a 4 tostões cada, ou beber quarenta bicas a 12 tostões cada, ou comprar 48 jornais a 1 escudo cada, ou no meu caso, comer seis vezes um combinado ( salsicha, ovo, batatas fritas e um batido) no PicNic no Rossio, 8 escudos, quando vinha a pé do Clube de Aeromodelismo de Lisboa na rua da Boavista.
Nesse tempo , um VolksWagen carocha custava 60 contos e um ordenado de três contos era coisa para nos sentirmos remediados. Remediados, a expressão de um povo com poucos remédios....
Um dia, o meu pai mudou de hábitos tabágicos, aparecendo-me com um maço de Provisórios, creio que a custar menos do que dois escudos. E passou a usar só fósforos, para não dar mais gorgetas mal afamadas aos senhores que de cinzento, nos abordavam nas ruas.
E disse-me:- E esta, eu armado em pipi? Mas mais vale fumar Provisórios Definitivamente do que Definitivos provisoriamente.
PS -Se depois de conseguirem ler por inteiro esta epístola, e se quiserem contribuir com preços dos anos 60 e respectivos vencimentos, esta conversa ficará animada . Obrigado
 
Júlio Isidro

A escola e a possibilidade de sonhar

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Agosto já vai adiantado e as férias caminham para o fim. Ainda mal desligamos “da papelada”
e já nos vão chegando os sinais de que o novo ano letivo se aproxima.
Mas sim, deu para descansar. Deu para recarregar baterias e, em boa verdade, consoante se
vai aproximando o final do mês vão aparecendo as saudades da escola. Não da burocracia, mas
das pessoas. Das pessoas que habitam os alunos e as alunas, os professores e as professoras, o
pessoal não docente e toda a comunidade educativa.
Tenho a sorte de pertencer a uma escola que ainda nos deixa sonhar, de ter colegas que ainda
sonham, de ter pais e encarregados de educação que ainda acreditam e confiam em nós e a
escola vai valendo a pena. Traçamos voos com os nossos alunos e as nossas alunas e fazemo-
los acontecer. E vale a pena? Se vale!
Prometi, no final do ano letivo, depois de um ano extremamente desgastante, mas cumprido,
escrever sobre estas coisas do ensinar, do aprender e do aceder ao currículo, a propósito de
experiências vividas e é isso que vou tentar fazer.
Já várias vezes abordei a questão da escola e da sala de aula. Já várias vezes abordei a questão
do uso das novas tecnologias, enfim, um sem número de questões que se colocam à escola,
num tempo de mudança acelerada.
Hoje, prefiro fazê-lo a partir de uma atividade que realizamos com os alunos do 9º ano.
Estamos a falar de gente que viveu os anos de pandemia, que fez o 3º ciclo parcialmente
confinado, com tudo o que isto implicou, quer em termos emocionais e de vivências, quer em
termos de aprendizagem dos conteúdos das diferentes áreas disciplinares, isto é, de
desenvolvimento de competências tendo em vista o perfil do aluno no final do ciclo.
Sonhamos organizar uma viagem de final de ano, a Madrid, para os alunos e as alunas do 9º
ano, afinal o último em que os temos na nossa escola. E o sonho comanda a vida…
Começamos por falar disto aos alunos. Pedimos orçamentos, ajustamos itinerários e reunimos
com os pais e encarregados de educação. Envolvemo-los no sonho e nas formas possíveis de o
transformar em realidade.
Se é verdade que alguns não têm problemas financeiros, também é verdade que outros tantos
têm graves carências económicas. Se é verdade que alguns viajam, outros viram o mar, pela
primeira vez, no 8º ano, numa visita de estudo que eu organizei. Todos e todas tinham que
aprender, tínhamos que tirar partido desta realidade.
Planeámos, orçamentámos, projetámos, calendarizámos e realizámos atividades para angariar
fundos para a viagem. Implicámos tudo e todos. E trabalhámos conteúdos e competências das
diferentes áreas disciplinares.
Reunimos, várias vezes, com as partes implicadas: pais, mães, encarregados/as de educação,
professores/as e alunos/as. Mobilizámos outras parcerias da comunidade e a “coisa deu-se”.
Desde reprodução e venda de plantas até a recolha e venda de usados, rifas e sorteios, fez-se
de tudo, de forma séria e honesta. E conseguiu-se. Com trabalho, muito trabalho. E os nossos
meninos e as nossas meninas aprenderam que a vida se conquista e que com trabalho se
consegue. E a palavra solidariedade e entreajuda ganhou sentido.

Um sonho nascido no início do ano letivo, foi motor de muitas coisas e muitas aprendizagens
ao longo de todo o ano e concretizou-se numa visita de três dias, no final do mês de junho, a
Madrid. E sim, as novas tecnologias ajudam. Criámos um grupo no WhatsApp, com os pais, os
professores acompanhantes e a Direção, onde íamos fazendo o diário de bordo e colocando
algumas fotografias. Isso deu bastante conforto e segurança a todos/as.
Ao longo da viagem, nas muitas conversas que íamos tendo e das questões que nos iam
levantando, fomos percebendo que muitos conteúdos que tínhamos trabalhado em contexto
de sala de aula não tinham sido adquiridos. Não tenho dúvidas sobre as aprendizagens que
fizeram com este projeto e da qualidade das mesmas.
Uma visita que foi lúdica e cultural. Uma experiência que os há-de acompanhar para a vida.
As crianças e os/as jovens aprendem o que vivem. Aprendem com os livros e com as novas
tecnologias, mas aprendem muito mais e de forma consistente, quando, para além destes, lhes
são proporcionadas vivências e visitas. Ver um Miró ou um Picasso numa imagem de um livro
não tem nada que se compare com a visão deste num Museu. Falar das condições
bioclimáticas de uma região ou do relevo plano, não tem nada que se compare com a
observação in loco. Falar da gastronomia de uma região e prová-la são coisas
incomparavelmente diferentes. E poderia continuar a enumerar…
Daí que se torne absolutamente fundamental que a escola seja muito mais do que aquilo que
se passa no interior dos seus muros.
Reinventem-se os espaços/tempos de aprendizagem. Há muitas formas de aprender e de
ensinar. Sobretudo, dentro ou fora dos muros da escola, nunca se perca de vista que estamos
na gramática dos afetos e da empatia e que a relação pedagógica que se instituiu nesta
gramática é muito mais profícua.
A partilha, a corresponsabilização, a liberdade e o compromisso, a vivência, o companheirismo,
a cumplicidade só se aprendem vivendo. E ficam para a vida. E ajudam a viver.
Aos meninos e às meninas que seguiram para novos voos que tenham um mundo de sonhos e
de projetos e que os concretizem. Serão sempre um bocadinho meus…
No dia 1 de setembro, lá estarei de regresso à Escola, para me encontrar e/ou reencontrar com
as pessoas que habitam os elementos daquela comunidade escolar e para continuar a sonhar.

Maria Odete Souto

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