SUCESSOS E INSUCESSOS DA E NA ESCOLA | Odete Souto
Fala-se, frequentemente, dos problemas da escola, do insucesso e do abandono escolares, como se isto fosse algo que se reduzisse à classificação dos/as alunos/as. E feita esta análise, coloca-se a tónica no/a professor/a que não ensina, no/a aluno/a que não aprende, nos pais que não acompanham os/as filhos/as, enfim, um conjunto de visões simplistas, tentando individualizar as causas de um problema que é em si complexo, e que só pode ser analisado na sua multidimensionalidade e complexidade. É evidente que, sendo a educação constituída de factos e de senso comum, os discursos do senso comum têm que ser valorizados, mas procurando sempre percebê-los em contexto, discutindo e reflectindo sobre os seus fundamentos, os fins a que servem e aquilo que legitimam.
Facilmente se percebe que as leituras sobre a escola, sobretudo a pública, centram-se essencialmente nos dados estatísticos do “insucesso” dos/as alunos/as e nos do “abandono precoce” da escola, parecendo querer reduzir a função da escola à obtenção de resultados positivos e ao cumprimento de uma escolaridade obrigatória de doze anos.
O “sucesso” define-se, em termos comuns, como êxito, como um resultado feliz, no sentido em que obteve bons resultados escolares, isto é, boas classificações. O “insucesso”, ao contrário, reporta-se à falta de eficácia, ao fracasso, a um mau resultado. Também na escola se centra a noção de sucesso e de insucesso nos resultados que são classificações e níveis positivos ou negativos em fichas de avaliação, em exames, na avaliação de final de período, de ano ou de ciclo. Ficam de parte todos os “sucessos” alcançados por cada aluno/a, ao longo do processo, não se tendo em atenção a desigualdade que existe no ponto de partida, limitando a avaliação ao ponto de chegada. Acredito que o sucesso não é igual para todos/as. Considero que há muito mais sucesso no caso de alguém que parte em desvantagem, seja ela cultural, económica, social, familiar, e consegue resultados quantificáveis médios do que noutros casos em que a partida é bastante vantajosa e se atingem resultados ditos de “excelência”.
Para além disso, na prática, ficam de fora os sucessos que não são quantificáveis, relacionados com a formação integral dos/as alunos/as, o seu desenvolvimento pessoal, a formação da sua identidade, da sua cidadania, as relações que estabelecem com os outros, formal e/ou informalmente.
Maria Odete Souto ( Professora )
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