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BAIÃO CANAL - Jornal

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SOCIEDADE E CULTURA | O Amigo: um ser que a vida não explica. | Natércia Teixeira

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Amizade é por definição, uma relação afetiva, a princípio sem características romântico-sexuais entre duas pessoas.
Em sentido lato é um relacionamento humano baseado no conhecimento mútuo, afeição e cooperação, suportado na lealdade e altruísmo.
Surge fruto do instinto de sobrevivência.
Explanado o conceito e como nada que envolve sentimentos é linear são múltiplos os exemplos de afetos que surgem entre seres aparentemente antagónicos, cujo denominador comum será talvez e apenas a plasticidade mental e emocional.
Quanto às motivações e pressupostos que a suportam, nem as primeiras são objetivas nem os segundos estanques.
Exemplos que me lembro… “Amigos para Sempre” a narrativa de uma amizade improvável entre um homem tetraplégico rico e um ex-presidiário, que o dito Senhor escolhe para seu cuidador, apesar da total inexperiência do rapaz.
Ou a história de Madame Rosa, uma prostituta aposentada, sobrevivente de Auschwitz e um rapaz árabe de 14 anos, órfão, que a Senhora a contragosto acolhe e que acaba por se tornar
seu amigo e seu amparo no fim da vida.
Relatos enternecedores de amizades improváveis…ou apenas imponderáveis.
Explicações para o sucesso desses encontros, havê-los-á com certeza: científicos, sociológicos e psicológicos… abstratos também.
Fico-me pelo que me parece… e parece-me evidente que existe uma simbiose perfeita de fatores que conspiram para o êxito de algumas amizades… como também os há,
determinantes, para o fracasso de outras.
Idealmente uma amizade perduraria no tempo e sobreviveria à distância e às contrariedades, infelizmente não somos nem vivemos num mundo perfeito e cristalizado, a dinâmica da vida
impõe-nos mudanças para a nossa própria evolução, aceitar a impermanência das coisas parece-me ser um excelente argumento para viver o que se nos apresenta sem conflitos.
Não percebo a necessidade de grandes questionamentos ou motivos para duas pessoas nutrirem uma simpatia mútua, apreciarem a companhia uma da outra, mesmo que esporádica
e sentirem-se agradadas pelo conforto que a simples existência do outro proporciona.
Intrigam-me os que entendem a amizade como algo estático ou meramente utilitário e o “amigo” como uma coisa suscetível de ser moldada a necessidades ou caprichos motivados por uma mais ou menos obvia necessidade de afirmação de poder.
Aborrecem-me os que vivem de melindres… ora por se acharem desconsiderados, ora por se julgarem preteridos, no entanto incapazes de descer do pedestal onde se instalaram e
perceber o real significado de reciprocidade.
Dito isto meus amigos, numa amizade ou há competência para se despir a alma, expor fragilidades e aceitar diferenças ou só se conseguirá, eventualmente, um conhecido,
certamente solidário na dor…não tão certo generoso nas vitórias.

Seja qual for o entendimento que se tenha; destino para os esotéricos, sorte para os crentes, conexão de almas para os espiritualistas, feromonas para a ciência… Vinícius de Moraes
parece-me ter a definição perfeita:
O Amigo: um ser que a vida não explica.