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BAIÃO CANAL - Jornal

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SAÚDE | Rita Diogo

Rita Diogo

Resiliência, um recurso a potenciar em cada um de nós

Nunca gostei de me centrar nos aspetos negativos da vida, no que concerne à saúde mental não poderia ser diferente. Prefiro tentar compreender aquilo que nos protege, aquilo que existe dentro de nós e que nos ajuda a lidar com situações difíceis e desafiantes. O objetivo desta crónica é alertar as mentes mais curiosas para um processo psicológico essencial na promoção de vivências positivas e saudáveis em meios e contextos profundamente negativos.

Comecemos por tentar perceber do que falamos quando nos referimos à resiliência. De uma forma abrangente, dizemos que a resiliência é um conceito da psicologia que se traduz na capacidade do indivíduo enfrentar obstáculos e dificuldades. Enquanto conceito psicológico, o termo resiliência começou a ser utilizado a partir da década de 80. Pode dizer-se que se caracteriza por um conjunto de processos sociais intrapsíquicos que possibilitam ter uma vida ‘sã’ num meio ‘não-são’. Estes processos realizam-se ao longo do tempo, resultando da combinação entre as caraterísticas do indivíduo e do seu ambiente familiar, social e cultural. Definimos aqui a resiliência de uma forma lata e transversal, como a capacidade de operacionalizar conhecimentos, atitudes e habilidades no sentido de prevenir, minimizar ou superar os efeitos nocivos de crises e adversidades. Consequentemente, descrevemos um indivíduo resiliente como aquele que, tendo que enfrentar uma situação adversa, é capaz de utilizar os seus próprios recursos a ponto de desenvolver as competências de que precisa.

Assim, entende-se a resiliência numa perspetiva dinâmica, uma vez que varia ao longo do tempo (conforme as circunstâncias) e resulta do equilíbrio entre os fatores de risco, os fatores protetores e a própria personalidade. A resiliência não pode ser entendida como absoluta ou adquirida, mas sim como uma capacidade resultante de um processo dinâmico e evolutivo que varia conforme as circunstâncias, a natureza humana, o contexto e a etapa do ciclo vital, variando também de diferentes maneiras nas diferentes culturas. Existem duas componentes essenciais: uma é a capacidade que põe em  prática os mecanismos de proteção; outra é uma capacidade que permite enfrentar positivamente as contrariedades e os fatores indutores de stresse. Podemos dizer que a resiliência faz parte de um processo evolutivo que pode ser promovido em todas as fases do ciclo vital.

As estratégias para promover a resiliência enquadram-se na procura de alternativas que permitam ampliar os recursos pessoais e grupais para fazer frente a situações adversas. Ativar a resiliência é uma forma de garantir a qualidade de vida. A resiliência implica a existência de algumas condições pessoais, tais como a autoestima consistente e segura, a persistência para enfrentar acontecimentos desafiantes, a empatia e a reciprocidade, a criatividade e a flexibilidade de pensamento. Todos nós almejamos possuir estas competências tão necessárias a fim de sobrevivermos às crises e de nos mantermos mentalmente saudáveis em contextos adversos. Somente após a ocorrência de um acontecimento negativo é que percebemos que conseguimos responder à dor de uma forma construtiva, assertiva e saudável. Ao invés de ficarmos estagnados e cristalizados no lamento, conseguimos desafiar certos paradigmas mentais e emocionais rígidos e disfuncionais baseados no medo, na vergonha e na culpa. A resiliência é o que explica que as situações de crise possam contribuir de forma tão importante para o desenvolvimento e crescimento pessoal de cada um de nós. O impacto que estas crises têm é mediada pela resiliência. As crises exigem que nós tenhamos e/ou que possamos construir estratégias para promover atitudes que nos alavanquem diante de tal cenário.

E, assim, termino a minha crónica como a comecei, prefiro compreender aquilo que nos protege, aquilo que nos faz crescer como pessoas interventivas e com capacidade de pensar sobre tudo aquilo que nos coloca em perigo. Uma crise que abala a nossa estrutura é também aquela que nos faz mudar e que nos possibilita sermos mais fortes.

Rita Diogo, Psicóloga 

 

 

 

 

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