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BAIÃO CANAL - Jornal

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Rita Diogo | Tomar decisões, um processo racional ou emocional?

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Num dia normal, cada um de nós toma um grande número de decisões, das mais simples às mais complexas. Na maioria das vezes, nem refletimos sobre este processo, decidimos e está feito! A decisão não é um fim em si mesmo, pode dizer-se que é apenas uma etapa, pois uma decisão colocada em prática cria uma nova situação, que pode gerar outra decisão ou processos de resolução de problemas. Uma tomada de decisão é iniciada por uma situação de frustração, interesse, desafio, curiosidade ou irritação.

A tomada de decisão diz respeito ao processo de escolha de uma opção entre várias, isto dito de forma bastante simples. Na verdade, a tomada de decisão é um dos processos mais complexos da neuropsicologia. Sabemos que, em termos neuropsicológicos, podemos considerar que a tomada de decisão se refere a um processo cognitivo de escolha que envolve análises emocionais e racionais de nossas experiências passadas, considerando os riscos e suas implicações para o presente e para o futuro. Assim, quando tomamos uma decisão, analisamos aspetos distintos de cada escolha em relação aos possíveis resultados finais, sendo que estes aspetos podem ser a valência dos resultados (ganho ou perda), a sua magnitude (grande ou pequena), o tempo para ter o resultado esperado (imediato ou não) e a probabilidade de o resultado acontecer (alta ou baixa). O conhecimento sobre os processos que nos fazem tomar decisões é de extrema importância para compreendermos os mais variados aspetos do comportamento, desde comportamentos típicos e saudáveis aos comportamentos psicopatológicos.
Durante muito tempo, as teorias explicativas da tomada de decisão consideravam que todos os processos de escolha seriam conscientes, deliberados e tenderiam a buscar o máximo de satisfação e os melhores resultados possíveis, considerando que nossas escolhas são feitas de modo racional. No entanto, tudo isto foi sendo questionado devido à emergência de estudos e análises psicológicas e neurocientíficas. Atualmente, temos a noção de que tomada de decisão inclui componentes motivacionais, emocionais e ecológicos. Sabemos, pois, que as emoções ajudam-nos a definir as nossas escolhas, muito para além de uma análise meramente racional. Se pensarmos na quantidade de vezes que ingerimos alimentos não saudáveis, mesmo sabendo que nos farão mal, facilmente percebemos.
Podemos conceptualizar a nossa análise em função da racionalidade e da intuição. A diferença entre racionalidade e intuição está na quantidade e qualidade de informação de que dispomos, por um lado, e das opiniões, sentimentos e vivências, por outro. Quanto maior a base de informação, mais racional é o processo. Quanto maior a proporção de opiniões e sentimentos, mais intuitivo se torna. A racionalidade e a intuição são atributos humanos complementares e não concorrentes.
O processo de tomada de decisão é uma atividade passível de erros, pois ela será afetada pelas características pessoais e perceção de cada um. Na tentativa de minimizar esses erros e chegar a um melhor resultado, devemos efetuar um processo organizado e sistemático. Sugere-se para tal algumas etapas: Identificar um problema existente, enumerar alternativas possíveis para a solução do problema; selecionar a mais benéfica das alternativas; implementar a alternativa escolhida; reunir feedback para descobrir se a alternativa implementada é capaz de solucionar o problema identificado.
Decidir implica ponderar a informação existente, num determinado espaço de tempo. Distinguir a informação plausível daquela que é tantas vezes enviesada é fundamental e uma tarefa igualmente complexa.
Há poucos dias fomos chamados a votar. Votar em eleições democráticas não é mais do que um processo de tomada de decisão. Como sabemos, a abstenção nas eleições portuguesas continua a ser elevadíssima. Fica a questão, porque será se declina esta tomada de decisão tão importante, tão fundamental?

Rita Diogo (Psicóloga especialista em Psicologia Clínica e da Saúde)  

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