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BAIÃO CANAL - Jornal

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Rita Diogo | Preconceito e violência, duas faces da mesma moeda?

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Na sequência da minha crónica anterior na qual abordei o bullying enquanto forma de violência que, deve ser combatida por todos nós, hoje trago-vos uma perspetiva que considero complementar sobre a violência assente no preconceito e na discriminação.

Se pensarmos sobre a formação da palavra “preconceito”, surge de imediato “pré + conceito”, ou seja, o conceito criado à priori, antes de sabermos mais sobre algo ou alguém, antes de recolhermos informações sobre algo ou alguém. Preconceito é um "juízo" preconcebido, manifestado geralmente na forma de uma atitude de discriminação perante pessoas, lugares ou tradições considerados diferentes ou "estranhos". O preconceito faz parte do domínio das crenças, na medida em que assenta numa base irracional e não no conhecimento que é fundamentado no argumento ou no raciocínio sobre algo. O preconceito implica sempre um conhecimento inadequado ou um juízo falso. Os preconceitos são generalizações inflexíveis, rígidas e equivocadas.

O preconceito está intimamente ligado à intolerância e à discriminação, sendo que discriminar significa, de um modo abrangente, “fazer uma distinção”. A discriminação nega às pessoas os seus direitos naturais ou legais pelo simples facto de serem membros de um grupo desfavorecido e estigmatizado. A discriminação reforça os preconceitos e os preconceitos fornecem as racionalizações que justificam a discriminação.

O preconceito é uma das mais perversas estratégias de opressão que rege o processo discriminatório nas sociedades. A violência do preconceito, além de produzir o isolamento entre os indivíduos, introduz a desconfiança entre os pares. Sob o desígnio do preconceito, os indivíduos tornam-se cúmplices do processo social que os engana e violenta. O preconceito, usualmente incorporado e acreditado, é o reprodutor mais eficaz da discriminação e da exclusão, portanto da violência. Supõe que o indivíduo portador do preconceito pode causar algum prejuízo ao sujeito vítima do tal preconceito.

Um dos mais nobres princípios da democracia é garantir os direitos e as liberdades individuais e a superação das discriminações, referentes a status, género, sexualidade, nacionalidade, religião, cor de pele, etnia entre outros. Cada um tem o direito, mas também a responsabilidade, de travar situações discriminatórias. Por mais pequenos que possam parecer, os insultos, as agressões, os comentários, os discursos de ódio, não podem ser aceitáveis. A experiência do insulto, da violência, da exclusão é tão comum que pode passar despercebida. É o traço comum da “piada”, do gracejo acerca da diferença e também da indiferença em relação a isto a que nos devemos opor. Nesta perspetiva, podemos também considerar a empatia. Quando temos dificuldade em nos identificarmos com os outros, quando exorcizamos as diferenças, quando catalogamos as pessoas por meras características e damos a esta categorização uma tónica negativa e pejorativa, cristalizam-se os preconceitos. A reduzida empatia também potencia o desenvolvimento de preconceitos. Não esqueçamos que a empatia é de alguma forma seletiva, na medida em que é mais fácil desenvolvê-la quando há identificação, quando reconhecemos um pouco do outro em nós, ou um pouco de nós no outro.

Falamos de preconceitos religiosos, em relação à mulheres, contra pessoas de outra nacionalidade, sexual e de género, de preconceitos sociais, étnicos e raciais... e tantos outros que em nada contribuem para o exercício e promoção da cidadania. Falamos de situações de violência norteadas pela não aceitação das diferenças, pelo desrespeito pelo outro, pela assunção de uma falsa supremacia. Falamos de situações de violência que são justificadas, vinculadas, suportadas e têm a sua base em preconceitos. Nenhum de nós será livre de usufruir dos seus direitos enquanto estes forem negados ao seu próximo.

Rita Diogo - Psicóloga Especialista em Psicologia Clinica e da Saude 

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