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BAIÃO CANAL - Jornal

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POLÍTICA | PCP de Baião

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Uma razão para o abstencionismo

A acção de Influenciar outras pessoas não é magia, é ciência e tanto pode beneficiar como prejudicar, se for manipulação; a persuasão nada mais é que uma estratégia de comunicação que consiste em utilizar recursos lógicos e racionais ou simbólicos para induzir alguém a aceitar uma ideia, uma atitude ou realizar uma ação, pois todas as nossas decisões são tomadas, primeiramente no inconsciente e só depois na consciência, normalmente acompanhadas de uma justificativa racional.

Quando pensamos na forma como culturalmente nos relacionamos com o poder as frases que tantas vezes ouvimos e que justificam para muitos a abstenção resumem-se a «são todos iguais» ou «são sempre os mesmos», definindo de certa forma o perfil de um povo que aceita as hierarquias e reconhece privilégios a quem detém o poder.

No tempo felizmente ido do fascismo, era relativamente fácil ouvir personalidades de nome a afirmar convictamente «não precisamos de votar, temos quem pense por nós», ou seja, trata-se da mesma cultura conservadora que, lidando mal com a incerteza do novo, prefere continuar no velho mas certo, salvaguardados obviamente os aspectos ideológicos.

O nosso País tem sido um dos mais abrangidos pela abstenção nas eleições presidenciais e nas últimas, há dias realizadas, muitos conterrâneos não exerceram o seu direito de voto, não participaram na decisão colectiva de escolher o nosso Presidente.

Para a juventude, no entanto, as motivações para a não participação parece residirem noutra linha de pensamento diferente da tradicional, pois na sequência de várias análises conclui-se que a escolha pessoal sobrepõe-se à ideia do dever cívico, ou seja, a partir da década de 80 do século passado a geração cresceu afastada dos regimes nazi fascistas e das guerras por eles provocadas, vive em democracia como quem respira e consequentemente relativiza o seu valor intrínseco.

Relativamente à Europa comunitária e segundo inquérito realizado aos jovens europeus, só 32% dos inquiridos consideram a democracia como um dos cinco valores sociais mais importantes e as possibilidades de efectiva participação na vida política são vistas como algo vago e pouco mobilizador, não querendo esta ideia significar que esta geração não tem causas, só que elas centram-se mais, por exemplo, nas questões ambientais ou de igualdade de género.

Os cientistas políticos olham para estas preferências justificando-as com a questão económica, nomeadamente o elevado desemprego entre os jovens, que os torna mais cépticos sobre a ideia de que a democracia funciona e gera bem-estar e os partidos tradicionais preenchem as lacunas de ordem social.

Resultará daqui também a preferência por líderes extremistas, abrangendo eleitorado jovem e ainda de outras faixas etárias, desiludidos todos com a falta de soluções para os seus problemas, quer de ordem social, cultural ou laboral.

Alguns exemplos actuais de subida ao poder de personagens sinistras podem corroborar esta ideia: Sebastian Kurz, primeiro ministro austríaco, aliás, demissionário por corrupção, Alexander Gaulander líder do partido alemão AFD recem eleito para o Parlamento, Marine Le Pen a francesa vencedora de eleições em França, Matteo Salvini vencedor em Itália, todos da extrema direita europeia e na Ucrânia um governo, aliás, apoiado por personalidades norte americanas, incluindo figuras nazis de relevo.

No nosso rectângulo à beira mar plantado será difícil saber para já se a abstenção contribuirá decisivamente para o desenvolvimento de políticas que vão prejudicar directamente os abstencionistas, apesar da chegada ao Parlamento das ideias fascistas, racistas e xenófobas, mas sabemos que as classes dominantes dispõem de instrumentos poderosos para garantir a separação entre o interesse de classe de cada cidadão e o seu sentido de voto.

Para sair deste imbróglio a Escola Pública ocupa um lugar de excelência, pois tem os meios necessários para um investimento efectivo nas ciências sociais e humanas como a História e a Filosofia, tão voltadas ao ostracismo, mas a Comunicação Social também possui cumulativamente um importante papel a desempenhar na maneira como aborda toda a discussão sobre os temas eleitorais, apesar de uma boa parte dos nossos jornalistas não dispor de uma cultura política suficiente que lhes permita uma abordagem séria dos temas existentes no espaço público e no Jornalismo, sujeito ao garrote do capital que se sobrepõe ao poder político, o que é lamentável porque os jornalistas continuam a desempenhar um papel fundamental na informação deontologicamente séria e mesmo na formação dos cidadãos.

Ficaria incompleta esta abordagem sem mencionar o tema da corrupção como sorvedouro do erário público e motivo de descrença na Justiça, por parte do eleitorado perplexo perante a impunidade de figuras ou figurões que usam e abusam.

Torna-se indispensável ainda não esquecermos a nossa Constituição, nascida com o 25 de Abril e daí acolhendo os melhores frutos, a Lei das leis, a qual se fosse cumprida como devia seguramente traria ao País e aos portugueses uma noção bem diferente sobre o exercício da soberania, assim como outra qualidade de vida.

No nosso País, alguns protagonistas políticos rejubilam com as lacunas observadas no sistema, sempre prontos a utilizar a ignorância alheia como factor de promoção artificial de méritos objectivamente não existentes, mas há outros que continuam a resistir com os trabalhadores e a população para novos avanços em direitos, rendimentos, melhoramentos dos Serviços Públicos Essenciais e de proximidade e mais Justiça Social, tudo para que amanhã possam falar os explorados e não os exploradores, como actualmente se verifica, para que o Sol nasça para todos e a todos acalente de igual modo.

Comissão Concelhia de Baião do PCP

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