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BAIÃO CANAL - Jornal

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PCP | Um pouco de História Universal

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Decorre este ano o 150º aniversário do início da Comuna de Paris que foi formada como resultado do primeiro levantamento e revolução liderada pela classe trabalhadora, na história da humanidade.
Esta nova classe foi o produto da revolução industrial no modo de produção capitalista, sobre o qual Marx e Engels falaram pela primeira vez com mais destaque no Manifesto do Partido Comunista, publicado em Março de 1848.
Antes da Comuna de Paris, as revoluções na Europa e na América do Norte tinham como objectivo derrubar monarcas feudais e colocar a classe capitalista no poder político, enquanto o socialismo como ideia e objectivo começava a ganhar credibilidade entre a intelectualidade radical, tendo sido Marx e Engels os que primeiro identificaram a classe trabalhadora como o agente de mudança revolucionária, ou seja, aqueles que não possuíam meios de produção excepto a sua própria força de trabalho.
A Comuna de Paris verificou-se como resultado imediato da guerra franco-prussiana que foi iniciada por Luís Bonaparte, sobrinho de Napoleão, que havia tomado o poder num golpe de estado, por não concordar com a governação em curso.
Ele governou autocraticamente a França nas duas décadas seguintes que foram de excepcional expansão económica para o capitalismo na Europa e na América em que as recessões económicas foram poucas, distantes entre si e relativamente moderadas.
A França transformou-se de uma economia agrícola atrasada numa economia industrial em crescimento rápido, graças a Luis Bonaparte que lançou uma série de obras públicas e projectos de infraestrutura destinados a modernizar cidades francesas e Paris emergiu como um centro financeiro internacional em meados do século XIX, pois possuia um banco nacional forte e vários bancos privados agressivos que financiavam projectos por toda a Europa e no Império Francês em expansão, em que o Banque de France , fundado em 1796, se tornou numa poderosa instituição bancária central..
Com a orientação de Bonaparte, o governo francês coordenou várias instituições financeiras para financiar grandes projectos, incluindo o Crédit Mobilier , que se tornou uma agência de financiamento poderosa e dinâmica para grandes projectos em França, nomeadamente uma linha transatlântica de navios a vapor, iluminação a gás das vias públicas, um jornal, o sistema de metro de Paris, o aumento das linhas ferroviárias em oito vezes e a duplicação da sua produção de minério de ferro.
A população cresceu 10% e muito mais nas cidades, que então se tornaram centros urbanos da nova classe trabalhadora industrial; em 1855 e 1867, foi inaugurada uma exposição mundial em Paris a fim de rivalizar com a anterior Grande Exposição Britânica de poder industrial em 1851 e a cereja neste bolo de crescimento aconteceu quando Ferdinand de Lesseps organizou a construção do Canal de Suez.
No entanto, a política de guerra de Bonaparte e o projecto de redesenhar Paris com a contribuição do arquitecto Haussmann foram demasiado caros, a dívida nacional da França aumentou consideravelmente e a indústria francesa viu-se sob crescente competição internacional, principalmente britânica.
Neste contexto, entre 1848 e 1870, o défice do sector público triplicou, situação a que David Harvey chamou de «keynesianismo primitivo», tendo começado a perder força e obrigando o governo a recorrer à monetarização da dívida, na esperança de que isso continuasse a estimular o investimento e o crescimento.
Karl Marx chamou a isto «o catolicismo da base monetária e o protestantismo da fé e do crédito» , transformando o sistema bancário no «papado da produção», ou seja, em termos actuais a financeirização da economia que levou à recessão económica de 1859 a 1868, antes da guerra franco-prussiana que se tornou o catalisador da ascenção da Comuna de Paris, acompanhado pela desigualdade de riqueza e de rendimento que disparou no momento em que a classe trabalhadora se expandiu e as tensões sociais começaram a intensificar-se.
Bonaparte, em sua arrogância, precisava de uma guerra para desviar a luta de classes em casa e restaurar a hegemonia económica da França na Europa continental e pensava que o exército francês era superior ao da Prússia de Bismarck, mas subestimou o poder económico e militar alemão liderado pela Prússia, o que levou os franceses à derrota e humilhação,à captura de Bonaparte que abdicou e fugiu.
O governo burguês republicano tentou lutar, mas acabou por negociar um desfavorável acordo de paz, enquanto o exército prussiano sitiava a população faminta em Paris, situação que levou a Comuna de Paris, um conselho de delegados operários dos distritos, a surgir para tomar o poder político em nome da população.
Este texto não pode cobrir todos os eventos e temas nos curtos 72 dias em que a classe trabalhadora de Paris governou por meio de suas próprias estruturas democráticas, enquanto o governo burguês fugiu para Versalhes e exortou os prussianos a esmagar a Comuna, que não sobreviveu por muito tempo completamente isolada no País, tendo sido eliminada de forma sangrenta pelas forças do governo de Versalhes.
No entanto, outro poderia ter sido o defecho se tivesse sido assumido o controlo das alavancas financeiras do capital, nomeadamente, o Banque de France, opinião que dez anos após o esmagamento da Comuna, Karl Marx apontou ao afirmar que a Comuna de Paris poderia muito bem ter sobrevivido se o Banque de France tivesse sido conquistado e acrescentou que «Além de ser simplesmente a insurreição de uma cidade em circunstâncias excepcionais, a maioria da Comuna não era de forma alguma socialista e não poderia ser, não estavam reunidas as condições para tal, mas com um pouco de bom senso, porém, ela poderia ter obtido de Versalhes um compromisso favorável a toda a massa do povo, o único objectivo alcançável na época».
Olivier Lissagaray, animador literário, jornalista republicano e conferencista francês que participou na Comuna de Paris, comentou que «Todas as insurreições sérias começaram capturando a coragem do inimigo, a sua caixa registadora. A Comuna foi a única que se recusou. Permaneceu em êxtase diante do dinheiro da alta burguesia que tinha nas mãos».

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