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BAIÃO CANAL - Jornal

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OS PEQUENOS TAMBÉM SÃO GRANDES | Aníbal Styliano | Saudades do futuro!

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Ao longo de décadas, fomos assistindo ao desaparecimento de clubes por todo o país,por incapacidade financeira, por falta de apoio e de legislação adequada. O número efetivo de praticantes federados, no total das diversas modalidades, no nosso país, deveria envergonhar os governantes!

Foram vários os clubes que chegaram a atingir a principal competição profissional do nosso futebol, cobrindo quase todas as regiões do país, que desapareceram ou estão em vias de extinção ou “modernização”, com as SAD que afastam os adeptos do convívio natural com quem dirige os clubes, por ação de ilustres programadores para quem a bola “atrapalha”, embora eleitos em processos onde a democracia é palavra desvalorizada.

A tendência é para destacar os mais poderosos, desviando as atenções da coragem, esforço e determinação de inúmeros clubes de formação que raramente são indicados como essenciais. Identificados, com exigência de certificação (?), mas sem apoios substanciais: mais uma historinha para adormecer.O tempo ditará as suas decisões… o panorama não deixa grandes expectativas.

Num passado recente, havia dirigentes, mas desconheciam-se os “investidores nacionais e internacionais”. O mundo globalizou-se, as fronteiras pulverizaram-se e a distância (e também os princípios) acabou. Embora numa União que se designa Europeia, em vez de caminhar para a Europa dos cidadãos, avança-se para egoísmos nacionais. O futebol revela também esse caminho, bastando analisar o que se passa com os clubes milionários para os quais não há limites, para já. Começam-se a vislumbrar riscos de falências mas há sempre criativos que “inventam a lâmpada” de um novo e jovem craque, que a publicidade cobrirá com investimentos imparáveis, até um dia… Recorde-se que o futebol é o principal elevador social para sair da pobreza: basta ser escolhido por um grande clube e pronto! Ao passo que a saída da pobreza está calculada, para as famílias mais carenciadas, num prazo de 5 gerações. Assim se constroem “especificidades” que subvertem a concorrência.

Nesta nova normalidade, surgem dirigentes que se acham acima das leis e investidores para os quais a bola é incontrolável e que não conhecem, nem querem saber, pormenores legais: se for entrave, muda-se a legislação. Especialistas trabalham com toda a sua competência e empenho para superarem limites, barreiras, num circuito sem obstáculos, para os interesses dos investidores. “A FIFA é ingovernável” afirmou há anos atrás Poiares Maduro. Hoje, quem tutela o futebol, encara-o essencialmente como negócio, mesmo como indústria global. Com a publicidade e o marketing, controlam e centralizam as atenções nos clubes poderosos, mesmo que alguns corram para se afastarem dos riscos de incumprimento, enquanto se aproximam inconscientemente do precipício. Jovens de regiões interiores têm como ídolos não os jogadores dos clubes onde fazem jogadas únicas, golos fantásticos e defesas brilhantes, mas antes o tal jogador que custou muitos milhões, que vive num palácio imaginário e se esquece que o amanhã pode ser brutal. Os dramas humanos são mais do que os golos e recordes dos melhores jogadores do mundo… Por isso, o clubismo deve começar na proximidade. Só o que se conhece ganha sentido. O resto pode ser uma enorme desilusão assim como uma utopia ao serviço de quem trata o futebol apenas como negócio. O futebol é herança da Humanidade e espaço intemporal de memórias que agrega gerações. Começar pelo meio onde se vive é o primeiro passo para evitar quedas e alienação que podem deixar marcas graves. Não é o dinheiro que faz o futebol ser apaixonante, apenas os jogadores e a bola o conseguem fazer, com o apoio dos treinadores e a paixão dos adeptos.

 

Aníbal Styliano (Professor e Comentador)

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