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BAIÃO CANAL - Jornal

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OS PEQUENOS TAMBÉM SÃO GRANDES | Aníbal Styliano

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A magia do tempo

Ninguém sabe como acontece… mas acontece mesmo.

Há um clube que se apodera do coração e da mente. A paixão surge sem explicação, de forma natural, espontânea.

O clube começa como extensão de família mais alargada; como em todas as famílias que se querem bem, aceitam-se as diferenças, compreendem-se as divergências, toleram-se as discordâncias, pois há um elemento essencial superior, mais forte: a identidade e a procura da felicidade.

O sucesso de um é sempre motivo de orgulho para todos. Inveja (a última palavra com que Luís de Camões terminou “Os Lusíadas” no século XVI) não entra NUNCA!

Depois, os diálogos, os convívios intergeracionais, perpetuam momentos, memórias, jogos, vitórias, lances únicos, passes impossíveis e golos imortais.

Ao recontar, com todos os pormenores, as imagens surgem na mente de quem ouve e de quem fala (como hologramas de última geração): reforça-se um património comum de valor incalculável.

Em miúdo, quando ouvia alguns nomes (Pinga, Hernâni, Pedroto, Jaburu, Carlos Duarte e muitos outros) incluindo de décadas anteriores ao meu nascimento, conseguia, de imediato, “vê-los, acompanhar as jogadas, os golos, as arrancadas, os dribles, as defesas e cabeceamentos, até pontapés de bicicleta”, não como filme de passado mas como se estivesse a acontecer ao vivo, em presença, e tudo isso graças à forma como os familiares e amigos me contavam os acontecimentos… com paixão, claro.

Fiquei a saber que era possível pulverizar limites e que o grande Einstein podia não saber jogar futebol mas sabia que era possível viajar no tempo…

O tempo reforça laços e tolerâncias mas também alarga a família. Eassim se começa a compreender os outros, a admirar proezas fantásticas de atletas de outros emblemas, que outras famílias nos abrem as portas, sem confusão, nem contradição, mas com desportivismo.

Paixão pelo clube é intensa, permanente, sem fanatismos redutores de quem não consegue partilhar.

Cada um tem direito à sua liberdade de opção…

Sem desvios, aprende-se a gostar de quem merece, de quem traz arte para o futebol, de quem procura cumprir a essência e a excelência do jogo. Essas influências passam para a nossa vida quotidiana como tesouro a perpetuar.

Mesmo nos estádios (ou simples campos de jogos) por mais afastados que possamos estar dos nossos ídolos, eles atingem dimensões enormes e chegam até nós com uma proximidade única.

As emoções dão largas à mística que representa sentir o clube como família (não só nas vitórias) e, desse modo, construir novas memórias e acrescentar mais sentido que, nada nem alguém, conseguirá apagar.

Esperemos que o exagero de transmissões televisivas (será que vão acabar por saturar?), dasapostas desportivas, do futebol-negócio e a carência de um plano global adequado para TODO o nosso futebol, não o prejudique gravemente.

Herança recebida, herança partilhada: dos clubes, sempre descobrindo e recontando os feitos dos ídolos, mas também reconhecendo outros que se perpetuam - são inúmeros os exemplos, felizmente para o futebol, uns mais antigos, outros bem recentes.

Aceito, com naturalidade, as divergências de opiniões… nunca compreenderei os fundamentalismos.

 

Aníbal Styliano, Professor e comentador