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BAIÃO CANAL - Jornal

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OBLIQUIDADES (9) | JAIME MILHEIRO

Jaime Milheiro

 

 

Neste planeta forjado nas zonas mais recônditas do universo e inadvertidamente trasladado para o subsolo do meu quintal, funcionam ainda alguns tenebrosos espantos.
Bons exemplos serão as enormes eloquências dos passarões televisivos sobre os males que hão-de vir e sobre as catastróficas pragas que estarão para surgir, desvendadas por profetisas e profetas que disso fazem iluminadas profissões.
Plenos de sapiência astrológica e de transcendência cosmológica, burlões e burlonas em jeito de bíblicas figuras estrondeiam cabotinas alarvidades, enxameando-nos de imperativas conclusões.
Sem contraditório afirmam, sem vergonha nos auguram, abrigados no dono do dinheiro e nas públicas audiências. Anunciam doenças desconhecidas, preconizam soluções encanecidas, configuram maleitas destemidas. Denunciam amores e desamores, desvendam pessoas num baralho de cartas ensebado, de forma nem sempre muito inteligente diga-se de passagem, com inúmeros seguidores...

                              (Até o covid se deve sentir estupidificado,
                               com tão bruxuleantes proclamações…)

em malabarismos que ao fim de cinco minutos a si próprios se amarrotam e despachadamente se contradizem.

Levitando sobre vulgaríssimas ocorrências que transformam em epifanias... catapultando efémeras trapalhices em desinformações despudoradas…
afastando quaisquer distinções entre primarismos e construtivismos...
denegando o que naturalmente acontece e que a ninguém aquece nem arrefece...
alimentando esconsas virtudes em pesporrências trauteadas...

                                  (É espantosa a subserviência dos humanos
                                   ao temor dos afogamentos celestiais...)

decretam tontices sem nome, em arrogantes respaldos.

O que levará tanta gente a comprar as mediocridades impingidas?
O oposto…
o conhecimento, a alegria de existir, a autenticidade na troca, a ausência de ilusionismo, que corresponderá ao saudável relacionamento civilizacional e representa o melhor que somos na arte de viver e na complexidade de conviver…

                                       (Todos os antropóides
                                       cultivam a verdade na existência,
                                       todos os doentes ansiosamente a rebuscam…)

dificilmente encontra espaço em tais programações e será sempre de curta duração.

Comparativamente, lembraria que as mais tóxicas bactérias por todos corpos cirandam, mas apenas nalguns se fixam. Fazem parte de nós. Ninguém as ensina, ninguém nos ensina. Só o próprio poderá aprender a pensar-se e a governar-se, tentando ser pessoa e não caricatura de pessoa.
As bruxas da televisão sabem como se movem e porque se movem….

                                              (Afrontando a inteligência e a lucidez,
                                               no mais ignorante primitivismo...)

em plena consciência dos prejuizos que causam, nunca separando a verdade da mentira, a pessoa do pedregulho, a exploração do divertimento.

Jaime Milheiro (psiquiatra e psicanalista)