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BAIÃO CANAL - Jornal

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Natércia Teixeira | As cores vibrantes…do Outono

natercia teixeira.jpg...Iniciamos a caminhada encosta abaixo.
A manhã terminava serena...o Verão também.
O Outono chegava e com ele um novo ciclo...da natureza e da minha vida.
Cores vibrantes desfilavam aos nossos olhos e contrastavam com a decadência que o calendário anunciava...tons fortes de castanhos avermelhados e laranjas dourados rodeavam-nos...o tapete de folhas caídas era uma mensagem briosa da terra que se vestia a preceito para um fim anunciado...uma homenagem à passagem do tempo e da vida; a que se viveu e àquela que se seguirá.
Seguíamos o trilho, eu caminhava atrás de ti e observava-te…pensava nas implicações da minha decisão...aquele não era o momento para falar sobre isso, a minha preocupação era chegar a casa o mais depressa possível por causa do Eros.
Chegámos à margem do Paiva em poucos minutos e continuamos até tua casa...pouco tínhamos conversado e nada sabia sobre os teus planos para as próximas horas, pelo que achei por bem perguntar:
  -  Preciso de ir... pensas fazer o quê?
  - Acompanhar-te.
A resposta apanhou-me desprevenida.
  - A casa?! e depois, voltas cá ou segues para Lisboa?
  - Minha querida…não tenciono regressar a Lisboa sem ti!
Sem tempo para argumentações, aquiesci.
  - Está bem Emanuel...vamos conversar sobre isso depois, agora tenho mesmo de ir.
  - Temos! deixas o carro e eu levo-te.
Anuí:
  - Fazemos como quiseres...
  - Muito bem...gosto dessa atitude...obediente.
Um sorriso provocador bailava-te no olhar... arqueei as sobrancelhas e revirei ostensivamente os olhos enquanto passava à tua frente em direção ao portão da casa. 
Senti um puxão no cabelo que me deteve e soltei um grito.
A tua voz zombeteira ecoou nas minhas costas:
  - Tinha de te parar! e não grites!  Estavas a ir tão bem!
Encarei-te, mas fui incapaz de me zangar...o teu ar de menino travesso, travou-me o ímpeto e fez-me sorrir...estavas claramente a meter-te comigo...e a divertir-te com isso.
Apressei-te:
  - Mexe-te que não tenho tempo para brincadeiras!
  - E quem disse que estou a brincar? 
Encolhi os ombros e suspirei.
A resposta não se fez esperar:
  - Tenho mesmo de te ter por perto para te disciplinar!
Entrei para o meu carro a tempo de não me desmanchar a rir.
Precisava sair da frente da tua entrada para te deixar passar.
Feito isto, fechamos o portão e partimos rumo a minha casa.
Era quase hora de almoço quando chegamos, o Eros recebeu-nos à porta em euforia.
Tinha conseguido aguentar imensas horas sozinho, mas estava no limite da tolerância.
Apressei-me a descer as escadas com ele à trela.
Dei-lhe tempo e liberdade para esticar as pernas e enquanto isso ponderava sobre a conversa que iriamos ter.…uma dualidade de emoções contraditórias, atormentavam-me.
Depois de quase meia hora na rua, o Eros quis regressar a casa.
Escutei a tua voz da entrada...parecias algo exaltado ao telemóvel.
Quis dar-te privacidade e fui diretamente para a cozinha alimentar o Eros.
Uns minutos decorridos e a conversa que estavas a ter terminou.
 O silêncio instalou-se na casa.
Achei por bem dar-te uns momentos a sós e fiquei sentada à mesa da cozinha a ver o Eros comer.
Sem que tivesse dado pelos teus passos...estavas parado atrás de mim.
Puxaste uma cadeira e sentaste-te à minha frente...parecias irritado e tenso.
  - Está tudo bem? Perguntei
A resposta saiu rápida e segura:
  - Sim…vai ficar.
De chofre, atirei para o ar:
  - Vou contigo para Lisboa!
Tinha planeado escolher a hora certa para ter aquela conversa...tinha planeado uma longa e extensa introdução...uma explicação pormenorizada sobre as minhas condições...tudo o que saiu foi uma única frase...descontextualizada.
Olhaste-me.…não parecias surpreendido… mas o teu olhar, discretamente, iluminou-se.
  - Claro que vens! é onde pertences.
Aquelas palavras...diretas ao coração...arrepiaram-me.
Tinhas tocado o mais profundo desejo e motivação da minha alma, o fundamento da minha decisão, aparentemente incoerente e alucinada: a busca da realização do desejo primordial de pertença.
Foi a minha vez de te olhar…nos olhos e na alma e buscar a confirmação que era em ti que morava um pedaço de espírito compatível com o meu…que o reconhecia e aceitava tal como era.
Aceitar acompanhar-te pressupunha acreditar nisso...acreditar também que as afinidades que nos uniam, ultrapassariam sempre as diferenças.
Estranhamente invadia-me uma sensação de calma...o nervosismo da minha atabalhoada comunicação tinha desaparecido e as minhas reservas e apreensões apresentavam-se agora esbatidas naquele salto de fé.
Em silêncio...com os meus pensamentos, devo ter passado a ideia de estar inquieta e angustiada com a decisão.
A pergunta surgiu, para me apaziguar:
  - Confias em mim?
Limitei-me a encarar-te…desconheço a resposta que viste no meu olhar.
Envolveste-me num abraço...nele senti-me segura…em casa...rumo a um mundo que queria sentir como meu.
Da janela avistava uma cerdeira a perder as folhas...também ela em fase de transformação...como eu, a iniciar um ciclo...como eu, vestida das cores vibrantes do Outono da vida.
 
In Grãos de Pimenta Rosa
Natércia Teixeira
Pimenta Rosa: benefícios para a saúde e como consumir

 

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