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BAIÃO CANAL - Jornal

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NÃO SE CONHECE UMA PESSOA... | Natércia Teixeira

Não se conhece uma pessoa até se ter tido uma discussão com ela.
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Pessoalmente prefiro ter duas ou três para ter algumas certezas… sou convictamente crente que o tempo e apenas ele nos dá vislumbres de verdade sobre alguém.
O tempo e a cólera!
Nestes tempos, de mais tempo livre, de muito pouco tempo de reflexão e de muita cólera a
servir de catarse à frustração, sucedem-se episódios que seriam hilariantes, não fossem
deprimentes, por serem demonstrativos de mentalidades perigosas.
Andamos com os nervos à flor da pele, preocupados e deprimidos, mas essas não podem ser as únicas explicações para muitos andarem nesta saga de destilar veneno para todo o lado, que nos intoxica a todos.
Globalmente a intolerância está a minar os alicerces dos direitos e liberdades elementares das pessoas, sejam figuras publicas ou pessoas anonimas, as primeiras apenas estão mais expostas por inerência, mas o sentimento de intimidação é transversal e o enxovalho também.
Opiniões, são motivos de guerrilhas verbais, as argumentações são feitas com base no ataque pessoal e isto só nos conduz a um caminho de empobrecimento intelectual.
Opiniões são apenas pontos de vista pessoais e subjetivos, concordar ou discordar não
concede o direito a ninguém de tecer juízos de valor sobre alguma coisa que vá além do
assunto sobre o qual alguém se pronuncia.
Quero com isto dizer que se, hipoteticamente, alguém se afirma como sendo simpatizante de Salazar, é aceitável apelida-lo de fascista, não é aceitável invocar o comportamento moral da mãe para o atingir.
Se alguém faz um post numa rede social com os animais de estimação na cama, isso não tem de ser tomado como uma afronta aos que não têm boas condições de habitação, ou que
sequer a têm.
Se alguém se afirma como crente, ou agnóstico, não tem de ser catalogado de limitado
intelectualmente pela convicção que advoga.
Se alguém dirige uma reclamação a uma qualquer instituição não tem de ser acusado de
mesquinhez e falta de consciência.
Há que perceber os limites da liberdade que temos, há que perceber que também temos a
liberdade de ignorar o que nos parece absurdo, não comentar, passar adiante e seguir com as nossas vidas, é que mesmo sem expressarmos nenhuma opinião sobre o que os outros pensam o mundo segue o seu curso.
Há que perceber que uma discussão é apenas uma troca de pontos de vista, não é uma batalha e se alguém agride, expressa muito mais sobre si próprio, do que esclarece sobre o ponto de vista que defende.
Iluminado foi Garcia Márquez que à cólera juntou amor e criou uma incrível história de
resiliência, perseverança e esperança…Amor em Tempos do Cólera, um balsamo para a alma e para a vista…mesmo com o Bardem, fisicamente, muito longe do seu melhor.
Um livro e um filme inspiradores nestes tempos de desesperança.

E sei…os livros estão caros, os serviços de streaming exorbitantes…é só um comentário, não
faz de mim pedante nem de ninguém juiz.