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BAIÃO CANAL - Jornal

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Nacional! E esta... quem sabe?

 

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Cláudia Vicente, do Turquel B, e Marta Rosa, do Campo de Ourique, integraram as fichas de jogo de equipas masculinas na terceira divisão nacional, algo permitido nos escalões secundárias da modalidade

As guarda-redes Cláudia Vicente (Turquel B) e Marta Rosa (Campo de Ourique) tornaram-se pioneiras no hóquei em patins, ao integrarem as fichas de jogo de equipas masculinas na terceira divisão nacional, e esperam que mais casos se repitam.

láudia Vicente foi suplente na vitória caseira do Turquel B sobre o Campo de Ourique, por 4-3, no passado dia 5 de outubro, em jogo antecipado da quinta jornada da Zona Sul A. Quatro dias depois foi Marta Rosa a sentar-se no banco de suplentes da formação lisboeta, no triunfo diante do Nafarros, por 3-1, na terceira ronda da mesma série.

“Gostava que as atletas femininas integrassem os plantéis masculinos desde os primeiros momentos da temporada”, afiançou a guarda-redes do Campo de Ourique em entrevista à Lusa, ainda que admitindo que, “a breve prazo, não seja previsível que isso aconteça”. A mesma ideia é corroborada por Cláudia Vicente, que afirma esperar “ser chamada mais vezes” aos jogos do Turquel B.

Os regulamentos, refira-se, determinam que a utilização de atletas femininas em encontros masculinos apenas é possível nos escalões secundários da modalidade.

Sobre o jogo com o Campo de Ourique, Cláudia Vicente, proveniente de uma família de hoquistas, assume ter notado “alguma” diferença, mas “mais em relação aos adversários”. “Reparei que estavam algo surpreendidos por estar uma rapariga numa equipa masculina e que estavam a comentar baixinho que podia ser eu a jogar”, revelou à Lusa, destacando que esse tipo de comentários foram “feitos de forma positiva”.

Para a internacional portuguesa, a exceção à regra naquele jogo foi “apenas” o facto de não se equipar ao lado da equipa, juntando-se aos colegas depois.

Sobre eventuais preconceitos e comentários negativos que, segundo a mesma, “infelizmente existem”, a titular da formação feminina do Turquel mostrou-se muito contente por não ter sido o “seu caso”. “Em Turquel, as pessoas já estão habituadas a verem as raparigas jogarem com os rapazes. Na formação isso acontece regularmente e, mesmo em seniores, é muito comum haver essa interligação”, referiu, revelando que várias colegas da equipa feminina integram regularmente os treinos do Turquel B e que há jogadoras que, por vezes, participam nos trabalhos da equipa principal, que compete na zona sul da segunda divisão nacional.

Relativamente à “ideia pré-concebida” de que o hóquei masculino é mais competitivo e intenso do que o feminino, a jovem, de 23 anos, considera que “é real e vai sempre existir”, ainda que possa “tornar-se cada vez menos evidente”. “Não podemos querer equivaler uma guarda-redes como eu a um guarda-redes como o [Ângelo] Girão [do Sporting], temos capacidades distintas”, afirmou, exemplificando com a diferente “rapidez de reação a um remate”.

No entanto, Cláudia Vicente destacou que as diferenças poderão ser “encurtadas” caso se aumente a aposta no escalão feminino. A jogadora, que se prepara para representar a seleção portuguesa feminina no Mundial de hóquei em patins – que decorre entre 7 e 13 de novembro, na Argentina -, assume que há ainda um “longo caminho a percorrer” relativamente à igualdade de géneros no desporto, salientando, todavia, que têm sido dados passos extremamente importantes nesse sentido.

Esta é, de resto, uma ideia partilhada por Marta Rosa, que considerou que o facto de a sua chamada para o referido encontro não ter sido tema de conversa na palestra pré-jogo ou durante o mesmo foi demonstrativo da igualdade e do respeito que as hoquistas femininas têm vindo a conquistar ao longo dos anos.

“Da bancada não ouvi qualquer comentário depreciativo. Pelo contrário, as minhas colegas disseram-me que [durante o aquecimento] ouviram adeptos a dizer que a guarda-redes defendia bem”, gracejou, notando que a única diferença foi, à semelhança de Cláudia Vicente, a de ter se de equipar noutro espaço.

Marta Rosa, de 31 anos, disse à Lusa que as principais diferenças entre o hóquei masculino e feminino são “a velocidade na execução dos movimentos e a força imposta em cada lance”, contando que “se sentiu exatamente igual a todos os colegas de equipa”. A jogadora, também ela com uma família ligada à modalidade, aponta os salários como fator mais diferenciador entre homens e mulheres.

No masculino, refere, “todos os jogadores da primeira divisão, e alguns da segunda, recebem um salário, enquanto no feminino isso apenas acontece com duas equipas”, salientando ainda que, ao contrário do que acontece no masculino, a maior parte das jogadoras tem formação a “nível superior”, mas não recebem. “Trabalhamos de dia e jogamos à noite”, asseverou a experiente atleta, que trabalha na área financeira.

Para o futuro, a guarda-redes espera que o hóquei feminino se desenvolva cada vez mais e que surjam mais oportunidades para as atletas competirem nos campeonatos masculinos: “Ajudaria ainda mais à evolução de cada uma”.

Marta Rosa, natural de Alenquer, confia ser possível as jogadoras singrarem num patamar mais alto no masculino, ainda que seja mais fácil acontecer na posição de guarda-redes, precisamente aquela em que se tem vindo a destacar entre as mulheres, mas também já entre os homens.