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BAIÃO CANAL - Jornal

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MARIA ODETE SOUTO | Voltamos à escola

Odete Souto

Estamos de regresso à escola e a um novo ano letivo. Para o pessoal docente e não docente, este regresso já aconteceu. O ano letivo começa no dia 1 de setembro e estamos todos/as a trabalhar, pelo menos, desde esse dia.

Quando recebemos os/as alunos/as já temos muito, muito trabalho feito. Algum necessário, muito necessário mesmo. Porque esta coisa da escola e da educação não é de atirar para lá, de qualquer forma. É preciso planificar, refletir, avaliar, reformular, construir projetos, antecipar situações, reunir conselhos de turma, departamentos, conselho pedagógico, fazer a primeira abordagem sobre as pessoas alunos/as que vamos receber, pensar e articular estratégias de atuação, criar critérios de avaliação, formativa e classificatória, gizar projetos e planos de atividades, estabelecer metas,  enfim, uma panóplia de coisas inimagináveis para o comum dos mortais, mas que são absolutamente necessárias na preparação de um ano letivo. E é preciso estudar. Sempre e ao longo de toda a vida.

Tal como uma família quando pensa a vinda de um filho tem uma série de procedimentos que acontecem desde a sua conceção até ao seu nascimento, planeados e executados com amor, empenho, alguma ansiedade e até mesmo insegurança, assim acontece na Escola. Sim, porque a Escola é uma grande família, uma tribo, se assim quiserem, onde estão pessoas interligadas, em relação e que tem a missão sublime de acolher e formar pessoas. E estamos todos/as a aprender, embora com papéis diferentes.

Quando recebemos os/as alunos/as já temos muitas horas e muitos dias de trabalho, algum dele também inútil. Mas que nos exigem e que lá vamos fazendo, a contento ou com sacrifício. São grelhas e grelhinhas, boxes, plataformas, rúbricas e domínios e ponderações e papelada, muita papelada que desvia, tantas vezes, a atenção e as nossas energias daquilo que é essencial numa Escola: as pessoas e, muito particularmente, os/as alunos/as e a educação/formação das crianças e dos/as jovens que vamos receber na escola, e que lá vivem a maior parte do tempo das suas vidas enquanto tal. E são eles e elas que dão sentido à escola e é por eles/as e para eles/as que nós existimos como professores/as.

Na sexta-feira, na minha escola, receberemos as nossas crianças e os/as nossos/as jovens, para partir com eles/as numa nova caminhada. E, como todos os anos, confesso-me ansiosa por esse dia, mas, também como sempre expectante. E há muitas perguntas que me assaltam, para além de todo o trabalho previamente feito. Como estarão? Como virão? O que fazer? Como fazer? E pergunto-me, muitas vezes, no meio de tanta planificação e tanto critério e tanta regra e tanta papelada onde fica a liberdade e o lugar da criança? E não há forma de fugir a isto. Não há como não ter um “nervoso miudinho” para receber os nossos alunos e as nossas alunas, da mesma forma que os pais e as mães o têm ao verem os filhos e as filhas irem para a escola. Estamos todos/as do mesmo lado.

Referi o tempo interminável que gastamos a preparar e a planificar, e tudo isto vai ser disponibilizado aos/às respetivos/as encarregados/as de educação, em nome da transparência e de poderem acompanhar os/as educandos/as. Mas desenganem-se. O foco disto tudo tem que ser o/a aluno/a e a pessoa que o habita. E, por isso, um plano é um plano e tem que ser adaptado em função das circunstâncias. Todos/as somos circunstâncias.

Aos alunos e às alunas que voltam à escola, que vão começar um novo ano letivo, desejo as maiores felicidades. A vida é um desafio, todos os dias. E estamos desafiados/as a caminhar. Aqueles e aquelas que vão ser meus alunos e minhas alunas, contam comigo, cada vez com mais dúvidas sobre este caminho e a forma de caminhar. Mas com a certeza de que a dúvida é o princípio da sabedoria.

Aos pais e às mães que entregam os filhos e as filhas à Escola, acreditem que trabalharemos com os vossos filhos e as vossas filhas e daremos o nosso melhor. E que a essência das coisas está no sentido e no valor que lhe damos e, por isso, precisamos de valorizar a Escola e o conhecimento. E que a Escola não pode nem deve ser mais a escola dos nossos avós. E que a aula não pode ser a aula que recebemos no nosso tempo, e que… e que… O mundo mudou e a escola tem que mudar. Mas há princípios e valores, regras e limites, que são essenciais para que possamos construir uma sociedade mais justa, mais humana e mais fraterna. E a educação começa em casa.

Estamos a recomeçar um ano letivo e eu fui contactada por uma minha ex-aluna, que seguiu o seu caminho e transitou para uma outra escola e um outro nível de ensino. Quis falar comigo, dar-me nota de como estava e de como estavam a correr as coisas. E saber como estou. E que quer fazer uma visita. E estas coisas são tão importantes e mostram-nos o quanto podemos ser importantes na vida deles e delas.  Fiquei de coração cheio, como sempre.

São estas coisas que nos fazem acreditar que ainda vale a pena ser Professor/a.

Um bom ano letivo para todos/as e sejam felizes, sabendo que a felicidade não é um porto a que se chega, mas uma forma de navegar.

 

Maria Odete Souto