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BAIÃO CANAL - Jornal

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MARIA ODETE SOUTO | MAIO

Odete Souto

“Maio, maduro maio,

Quem te pintou?
Quem te quebrou o encanto
Nunca te amou.”
José Afonso

Estamos em maio, um mês que começa com a celebração do dia do trabalhador. Um feriado
nacional, de que muito poucas pessoas conhecem a dimensão da conquista e da luta e, por isso, acham que é mais um feriado. Mas não é. E hoje, mais do que nunca neste virar de
milénio, é cada vez mais premente lutar pelo direito ao trabalho, pela regulamentação deste e pelos direitos dos trabalhadores e das trabalhadoras.
Mas maio é também o mês de Maria, de grande importância para os crentes. E é o mês do
coração. Claro que quando falamos do mês do coração é de um órgão vital que estamos a falar e é de saúde física. Mas também de saúde mental e emocional. Uma não existe sem a outra. E por isso, maio é, sobretudo, o mês do amor. Assim, como se fosse necessário e possível um mês para amar.
Revisitando o poema sublime de José Afonso “(…) sempre depois da sesta / chamando as
flores / era o dia da festa / maio de amores.” E não era por acaso. Tinha terminado a
quaresma, tempo de recato. Os dias crescem, há mais luz, mais calor e mais energia.
E hoje como antes, maio é o mês das flores, dos montes e campos floridos, das temperaturas amenas, das energias que brotam na natureza e nos corpos. O mês dos acasalamentos. O mês das lutas.
Foi em maio que, em Paris, emergiu o movimento estudantil que ficou conhecido por “Maio de 68” e que teve forte impacto na sociedade e na política de então. E trouxe para a ordem do dia valores humanistas. E foi um maio de esperança.
Estamos em maio. Vivemos ainda em contexto de pandemia e em crise sanitária. Mas vivemos também uma crise de valores, de desesperança, de descrédito nos políticos e nas instituições, acompanhado por um vazio ideológico. Ao mesmo tempo avolumam-se os problemas sociais.
Chegam-nos notícias da fome, da guerra, dos refugiados, dos radicalismos, dos problemas
ambientais, do desemprego. São tempos estranhos que implicam reinvenção, implicam sonho e implicam luta.
E temos jovens, muitos jovens escolarizados e sem futuro. Aqueles a quem tudo deram, tudo
prometeram e se encontram sem chão, perdidos.
Que mundo lhes deixamos? Que armas lhes demos? Que valores lhes transmitimos?
Tenho para mim que falhamos em muitas coisas. Mas demos-lhes conhecimento e este é arma mais poderosa e a única forma de poder. Neles e nelas se deposita a esperança de construção de um mundo novo.
Que maio se cumpra e que cantemos, com Zeca Afonso “… venham ver maio nasceu /que a
voz não te esmoreça /a turba rompeu.

Maria Odete Souto