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BAIÃO CANAL - Jornal

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Jaime Milheiro | OBLIQUIDADES

OBLIQUIDADES VIII

 Jaime Milheiro

Postados numa cultura onde a violência das ideias  releva  obscenidades primárias e simultaneamente  pastoreia   odiosas desenvolturas  sobre quem    se  afaste da cartilha,  restar-nos-á   fugir?

Quando  as grandes confrarias enaltecem as  superficialidades das suas próprias  encomenda e  a maioria das pessoas  com razão se julga  manipulada, restar-nos-á emigrar para outro Planeta?

Quando no alcatrão das rotundas a  civilização  enxovalha inúmeras  sensibilidades opinativas e  causticamente  arrasa quem não se cola ao pavimento….

                                               (Até que novas ilusões se anunciem

                                               e novas patranhas façam furor…)

como poderão os cidadãos separar o viver do existir?

 Haverá baleias no  rio Douro?

Debaixo do nosso rio sem fim, debaixo da  nossa esperança sem foz, haverá  

grandiosos movimentos  à espera de libertação?

Como poderemos repelir os novos obscurantismos para que as águas  removam as impurezas  do lodaçal?

Poderemos conceber estratégias isentas de destrutividade nestas enlouquecidas vindimas que sem contraditório se propagandeiam...

                                               (Não basta  virar a folha,

                                                 será preciso  entender,

                                               carimbar outros rumos….)

  mesmo reconhecendo que estagnar  não quererá dizer aceitar?

 Não será obrigatório fugir.

Violências e  injustiças sempre fizeram  parte   das humanas organizações.

Teremos de  acrescentar  pensamento crítico difundindo  aprendizagens com interioridade e denunciando a precariedade das raízes e a  descalibragem das matizes. 

Em todas as épocas se  levantam ideologias de passagem.

Bem ou mal intencionadas, aparentemente seguras, há ilusões que terminam  nas gerações seguintes.  Porventura úteis como degrau, não cabem no que somos e não passam de charadas epocais, almanaques de soberbas, bengaleiros de (des)crenças…

                                            (Viver basifica, existir densifica...)

destinadas a  sacristães sem emenda interessados na merenda.

Mentir por ideologia é  fenómeno comum. 

Há uma significativa distância entre a biologia pura e dura (indispensável ancoradouro da espécie), a construção estrutural da pessoa e as racionalidades  susceptíveis de  aparecimento e desaparecimento.

Politicamente, religiosamente, culturalmente, sexualmente, até cientificamente,    maus actores agitam  conceitos e   práticas...

                                                (Quem  não mais que  a pele  mostra

                                               nunca profeta   será… )

 multiplicando dogmatismos  de teor conventual.

Silicones biológicos, psicológicos,  socioculturais, nunca sustentarão  mudanças. 

A condição humana só fixa o  que  “corpo estranho” não for.

Artifícios de espelho não se fixam, porque fermentos não trazem. Jamais se transformam em dados adquiridos, ao contrário do que afirmam os  seus “fracturantes” angariadores…

                                               (Eles próprios apenas

                                                pontos intermédios

                                               entre  o viver e o  existir …

quando consideram os seres humanos máquinas de parafusos reguláveis à   medida...

quando   pretendem encaixotar nos outros as suas  próprias   limitações, num jeito de  sanguessugas a absorver portugas.

 

 

JAIME MILHEIRO

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