Eduardo Roseira | PORTUGAL 47 ANOS DEPOIS DO 25 ABRIL
Era eu miúdo, “obrigaram” os meus pais a partir para terras portuguesas do Império, acenando-lhes um futuro promissor.
O Estado português, “vendeu” aos meus pais, a mim e minha irmã, assim como a muitos portugueses que optaram pelas terras de áfrica em busca de melhor futuro, a defesa de uma “Pátria Una e Indivisível”, com uma guerra imposta.
Mais tarde, ofereceram-me um futuro risonho e de esperança chamado democracia, chamado 25 de Abril, era a Revolução dos Cravos, o tempo de renovada esperança e o acreditar num futuro melhor para todos os portugueses e africanos que teriam nas mãos a construção do seu próprio país. Porém, logo me abandonaram duplamente:
- 1.º - Como cidadão português, quando me devolveram ao remetente, com o carimbo de retornado;
- 2.º – Como ex-combatente, que obrigatóriamente fui, em defesa de uma causa que me diziam justa e nacional;
Eu porque sempre me guiei desinteressadamente, pelos lemas da Solidariedade e da Liberdade, apesar destese doutros abandonos, ainda acreditei nas promessas e no meu país, só que ao longo dos anos, questiono-me sobre o que é que nos deram em nome da tal democracia?!
Desemprego, corrupção e mais um sem fim de falsas promessas e constantes retiradas dos valores ganhos com a revolução, na saúde, educação, justiça e outros tantos, cuja lista é enorme.
Mas quem sou eu para estar aqui a queixar-me, perguntarão todos vós.
A minha resposta chega-vos através das palavras dum HOMEM, proferidas em 1984, ou seja, DEZ anos depois da revolução do 25 de Abril:
“Passados dez anos, será interessante assinalar a evolução dos comportamentos de muitos dos intervenientes, em especial os políticos e militares que conseguiram passar de um regime a outro, sempre na crista da onda, e que, com as lutas pelo Poder, ajudaram a dificultar a evolução desejada. Por outro lado, não acreditando em democracias musculadas nem no sebastianismo, resta-nos, na orgulhosa situação de implicados no 25 de Abril de 1974, criticar os muitos que pagam o idealismo e a generosidade dos Capitães de Abril com o mesmo comportamento que caracterizou o regime nascido em 28 de Maio:
- a corrupção;
- a incompetência;
- o compadrio;
- o circo do Poder.
Até quando?”
Estas palavras são do saudoso Capitão de Abril, Salgueiro Maia.
Agora com os meus 70 anos de idade, embora muito desiludido, não me quero abster e muito menos render, mas sinto todas as liberdades e direitos ameaçados e por talpergunto:
- Valerá a pena acreditar em mais alguém?...
Mas eu, como sou feito de esperança e poesia, agarro-me e acredito nestes versos de José Carlos Ary dos Santos:
Se Abril ficar distante,
desta terra e deste povo,
a nossa força é bastante
p’ra fazer um Abril novo.
Eduardo Roseira
Abril de 2021