Eduardo Roseira | O VALOR DO TEMPO
O VALOR DO TEMPO
A propósito do Dia Mundial da Criança
Neste Dia Mundial da Criança, quero-vos falar do valor do tempo.
Vivo na Beira Rio de Gaia, numa casa de janelas apontadas para a ponte Luiz I e com vista para as margens ribeirinhas do rio Douro.
E tal como muitos de vós, estive em 2020 e neste ano de 2021, por mais que uma vez, alguns meses sem sair de casa, sem conviver com os meus familiares e amigos e as poucas saídas foram para bem perto e apenas para o essencial.
Todos nós fomos obrigados a tal, pelo bem da nossa e da saúde dos outros.
Custou, claro que custou, mas tenho que vos confessar, que muito à minha maneira de ser, tive de encontrar o lado positivo dos dias em que estive em casa, cumprindo com o meu dever de cidadão, evitando sair.
Por exemplo, dei conta, de que o nosso rio Douro, está cheio de diversos tipos de aves, que eu desconhecia e nunca delas me tinha apercebido. Numa casa em ruínas, sem telhado, mesmo ao lado da minha, dei conta que lá dentro começou a aparecer uma enorme e linda árvore, cheia de folhas verdes, o que antes me parecia uma coisa a cair de velha, passou a ser uma imagem de beleza, ou seja, uma frondosa árvore a sair daquelas feias ruínas.
Mas meus amigos, aqueles meses sem sair de casa, deram-me para regressar aos meus tempos de criança e jovem e comecei a rir-me de mim próprio, mas passo a explicar:
Quando em mais novo fazia umas asneiras, o meu pai dizia-me:
- Menino, já sabes, este fim-de-semana não há idas ao cinema?
– ou então, cortava-me o Sábado e o Domingo, sem poder sair de casa para andar de bicicleta, jogar à bola com os amigos e, pior, sem poder ir ter com a namoradinha.
Ai, aqueles dois dias, pareciam-me dois meses, de tanto que me custava aquele castigo.
E meus amigos, naquele tempo, não havia redes sociais, telemóvel, o próprio telefone era coisa de luxo e onde eu vivia, em Moçambique, não havia televisão, portanto aqueles dois dias pareciam-me dois anos…
E foi este regresso aos meus tempos de criança que me ajudaram a passar melhor aqueles meses fechado em casa e assim, passei a dar valor ao tempo.
Tempo que tem um valor importante nas nossas vidas, se o soubermos aproveitar bem, especialmente por sabermos que quando regressarmos aos dias normais que aí vem, o contacto que tivermos com os nossos amigos, vai-nos saber melhor.
Podia agora falar-vos mais sobre o valor do tempo, mas ninguém sabe ao certo o seu valor, por tal finalizo com um poema de Ruy Belo, que nos fala d’ “O VALOR DO VENTO”, que diz assim:
“Está hoje um dia de vento e eu gosto do vento.
O vento tem entrado nos meus versos de todas as maneiras e
só entram nos meus versos as coisas de que gosto
O vento das árvores, o vento dos cabelos,
o vento do inverno, o vento do verão.
O vento é o melhor veículo que conheço.
Só ele traz o perfume das flores, só ele traz
a música que jaz à beira-mar em agosto.
Mas só hoje soube o verdadeiro valor do vento
O vento actualmente vale oitenta escudos....pois…
Partiu-se o vidro grande da janela do meu quarto.”
Nota: No poema onde se lê “…oitenta escudos…”, podem trocar por “…oitenta euros…”, que de certeza que o poeta Ruy Belo, não se importará da substituição da moeda antiga, para a actual.
Desejo-vos que vivam e disfrutem o melhor que podem todos os momentos das vossas vidas, com os vossos familiares, professores e amigos, seja em dias de vento ou mais calmos. Lembrem-se que a vida é linda demais para perdermos tempo, só porque o dia é de vento e se partiu a janela do nosso quarto.
Eduardo Roseira