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BAIÃO CANAL - Jornal

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DUAS DE LETRA | Lourdes dos Anjos

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MEMÓRIA

 
 
Como quando era menina
Penteia-me, devagarinho, com a tua mão
Para eu adormecer, ensina-me uma oração
Fala-me de gente com feitiço que corria fado
Dos tempos frios e difíceis do teu passado
Dos filhos que carregaste no regaço
Do caminho percorrido passo a passo
Do pão azedo que o diabo amassou
E das lágrimas que o teu rosto enrugado secou
Enquanto falas, espreito para dentro dos teus olhos clarinhos
E, desfaço-te a longa trança de cabelos branquinhos
Dizes então, só para me experimentar,
Que não queres que te volte a abraçar
Porque cheiras a velhice e a bafio !...
E eu beijo-te muito enquanto tu ris e eu rio
Então, chamas-me baixinho, à tua maneira,
Cachopa mimalha, netinha tripeira.
Ai como sabe bem recordar,
A tua voz, o teu sorriso, o teu olhar.
Tão curto foi o meu tempo de criança,
Tão cedo carreguei a pesada herança
Da saudade que a minha avó me deixou...
O meu tempo d'envelhecer chegou veloz
E, nos lábios dos meus netos, oiço agora a minha própria voz
 
 
Lourdes Dos Anjos
 
 
 
 

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