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BAIÃO CANAL - Jornal

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CARTA AO INVÍSIVEL | Eduardo Roseira

Eduardo roseira

Baião, 11 de Março de 2021(a)

Olá,

Começo por te dizer que só escrevo cartas aos meus amigos e familiares, mas desta vez tenho que abrir uma excepção e dirijo-me a ti que te sei, mas não conheço, mas acima de tudo porque tenho necessidade de desabafar e de gritar bem alto, por mim e pelos que já não tem voz para fazê-lo. 

Nem imaginas o quanto me estou a conter para te dizer as palavras que me vão na alma. Escrevo-te com mais educação do que aquela que tenho, numa contenção que me custa imenso, pois queria tanto dizer-te tudo o que penso sobre ti e chamar-te todos os insultos que sei e outros mais que, garanto-te, não seriam de difícil invenção.

Como é que um garoto, com pouco tempo de existência, pode ser tão irresponsável e causador de tanto mal, sem olhar a raças, credos, idades e abalar todos os continentes?

Às vezes sinto que estou a fazer parte de um filme de ficção do Spielberg ou a sonhar, mas nem preciso de me beliscar para te dizer que não sou nenhum “ET” e sei que estou bem acordado para a realidade que tu és, realidade que nos cerceou a liberdade em todos os aspectos.

Não te posso perdoar o facto de termos que viver enjaulados, quando a criatura animalesca que tu és, continua à solta.

A palavra ódio nunca fez parte da minha maneira de ser, mas crê que eu odeio-te por tudo o que nos tiraste, ao impedir-nos de dar um simples passeio à beira mar, ou noutro qualquer lugar, de mãos dadas com as pessoas que mais amamos:

- A namorada, a esposa, os filhos, os netos e os nossos velhinhos pais.

Não te posso perdoar, o ter-nos impedido os abraços, os apertos de mão, os carinhos e até a despedida aos entes queridos que mataste e nos impediste de acompanhar na hora da partida para o seu descanso eterno.

            Seu ladrão de vidas e de tempo. Roubaste-nos familiares, amigos e um ano da nossa vida.

      Ao leres estas minhas linhas, espero que tenhas reparado que nunca disse o teu nome, pois os maus, os assassinos como tu, não são merecedores de ter nome, nem número sequer.

            As despedidas nas cartas que escrevo aos familiares e amigos, terminam carinhosamente com beijos e abraços, mas de ti, não me despeço sua praga dum raio-que-te-parta…

                                            

PostScriptum: - O que eu queria mesmo, era encontrar-te cara-a-cara e poder enfrentar-te meu, meu… “sei lá o quê” invisível…para ficares a saber como é a gente deste país!

Eduardo Roseira

 (a)– Ano um do primeiro confinamento.