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BAIÃO CANAL - Jornal

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CANTINHO DO LEITOR | As Bengalas de Gestaçô | Arlindo Pinto

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Gestaçô – Baião terra das bengalas

É verdade que eu com 11 anos já trabalhava no Porto, assim que acabei a instrução primária comecei a trabalhar numa “oficina” das bengalas

Como miúdo era normal que fizesse os serviços mais simples como: raspar e lixar os futuros cabos de guarda-chuva e bengalas e ajudar alguns serviços, quando requeriam duas ou mais pessoas

Naquela altura, década sessenta este trabalho corria de “vento em popa”na freguesia, de certeza que haveria umas duas centenas de pequenas oficinas e, creio que todaselas possuíam pouco pessoal, até parecia que só queriam aprender para em seguida abrir mais uma oficina em sua casa, o que dava para entender que o negócio dava para todos.

Vou tentar explicar como era feito um cabo para guarda-chuva. A madeira principalmente cerejeira depois de desfiada em tábuas, com espessura de 3 cm,estas ficavam ao sol e chuva durante muito tempo, a madeira só era utilizada quando estivesse bem seca. Primeiro trabalho seria riscar as tábuas com atenção redobrada (os nós não serviam, porque os cabos ou a bengala iria partir aquele sítio), seguidamente vamos serrar as tábuas com a serra biscaia (serra enorme com as medidas de uns 2 metros de comprimento por 1,2 metro de largura, serrava bem com 2 pessoas), vamos fazer uma rima de bocadinhos, com o comprimento de uns 40 cm e 3x3cm. Seguidamente vamos ter a parte mais bonita “a verga” principalmente se estiver frio.Faz-se uma boa fogueira e num pote bastante grande de 3 pés quase cheio de água, onde são metidos os bocadinhos de madeira, há uns ferros de molde especifico  tipo¾ de lua que são metidos na mesma fogueira, depois de bem quentes são metidos num torno. Seguidamente vai-se pegando num dos bocadinhos de madeira com a ajuda de uma chapa de ferro com uns 60 cm de comprimento,4 cm de largura e uns 3 mm de espessura (a madeira bem amolecida, os ferros no torno bem quente) a madeira dobra com bastante facilidade, com a ajuda de um grampo de arame, a chapa e a madeira repousam até arrefecer completamente, a chapa só é tirada quando estiver completamente frio (normalmente no dia seguinte) e está o cabo dobrado. Seguidamente com uma enchó arredonda-se o cabo, depois vai à lima grosa (neste momento faz-se com facilidade o modelo desejado), depois vai à lima média, depois o raspador, depois lixa de vários grãos e, para terminar há os vernizes, com os tons desejados. Um cabo ou bengala, o tratamento é o mesmo, como é fácil de entender para fazer uma bengala o trabalha é imenso e moroso

Estava a acabar a década sessenta quando surgiu a primeira fábrica de cabos de plástico em Avintes – V.N.de Gaia (não sei se ainda existe?), como vendiam o cabo quase a metade do preço. a nossa indústria das bengalas começou em decadência, existindo presentemente um número muito diminuto de oficinas, fazendo cabos para guarda-chuva de luxo e, com certeza que ainda se fazem muitas bengalas (principalmente para a queima das fitas)

Também fazem bengalas personalizadas (incluem 2 ou 3 letras de preferência douradas)

Há bengalas a servir de adorno e decoração por diversos cafés e restaurantes de Baião e em muitos outros locais.

Ancede faz todos os anos a CORRIDA DA BENGALA, e todos os participantes inscritos recebem uma bengala, oferecida pela Câmara Municipal (tenho um colega de trabalho com 60 anos que participa todos os anos, tem cerca de 20 bengalas, já me disse quesão todas diferentes), no ano 2019, foi efetuada a 22ª corrida.

Está contado como se fazia antigamente (lembro-me que não existia uma única ferramenta elétrica), para comprovar existe o Museu na Casa das Bengalas, situado na Rua Soeiro Pereira Gomes, em frente à Escola EB1/JI dos Carvalhais, a escassos metros do edifício da Junta de Freguesia.

Arlindo Pinto (arlindopinto51@gmail.com)

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