AGENDA CULTURAL | Dia 26 de Junho em Mesão Frio: Abertura da Exposição "Diálogo Familiar" entre desenho e pintura de Arnaldo e Noly Trindade
Mesão Frio recebe Exposição “DIÁLOGO FAMILIAR”, de Arnaldo e Noly Trindade. A inauguração (26 Junho) contará com a participação da cantora Minda Araújo e amigos, sendo convidadas diversas individualidades do âmbito da Cultura.
A exposição está relacionada com o livro DIÁLOGO (FAMILIAR) ENTRE DESENHO E POESIA, que deixamos como sugestão de leitura.
No livro, Arnaldo é o pai, e Noly o filho. Como na vida. Mas há outro Trindade, o avô Januário Augusto Trindade, a quem é dedicada a obra. A belíssima pintura da capa deste livro já indicia o caminho escolhido e a caligrafia a acompanha-lo.
A entrada é livre, devendo ser cumpridas as medidas adotadas pela DGS, visando garantir a segurança e bem-estar dos visitantes.
A exposição poderá ser visitada de segunda a sexta, das 9h00 às 13h00 e das 14h00 às 17h00, na Biblioteca Municipal de Mesão Frio, situada na Avenida dos Combatentes, nº506 - Mesão Frio.
Como a segurança e o bem estar são fundamentais para nós, esta iniciativa decorre ao abrigo das orientações da DGS, cumprindo todas as normas de segurança e proteção.
Aguardamos a sua visita
Arnaldo Trindade
Arnaldo Trindade foi um conhecido editor na indústria fonográfica das décadas de 1960, 1970 e 1980 em Portugal. Foi o fundador da editora discográfica Orfeu.
Crítica de Risoleta Pinto Pedro ao livro "diálogo familiar" de Arnaldo e Noly Trindade
UM LIVRO FEITO COM O CORAÇÃO NAS MÃOS
Sobre o livro: DIÁLOGO (FAMILIAR) ENTRE DESENHO E POESIA
Um pai, uma filha, um avô… ou um pai, um filho e uma neta… ou uma neta, um pai e um avô?
Não importa. Quando se abre o livro, somos surpreendidos pelo desaparecimento de Gutenberg, quero eu dizer, os velhos tipos que nos vêm contando histórias e dando notícias desde o aparecimento da tipografia, são aqui substituídos pela caligrafia, essa primeira escrita do tempo da inocência, de quando nos debruçávamos sobre o caderno de duas linhas com uma caneta a pingar tinta, a língua de fora num esforço concentrado de coordenação, reproduzindo os gestos dos copistas medievais. Quando a escola, antes de se transformar numa fábrica, ainda era um convento, para o melhor e para o pior.
A capa, com seu título e autoria escritos manualmente, já o indiciava, mas poderia ser estilo, efeito gráfico, originalidade editorial. Não é. Já lá vamos. Voltemos antes aos nomes apresentados como dos autores: Noly e Arnaldo Trindade. Este apelido diz-nos muito. Para além de ser encantador como pessoa, todos o conhecem como prestigiado editor das artes do som. É dizer pouco, mas diz mais do que se aqui nos limitássemos a desfilar a obra, o que deixamos ao critério de quem, não conhecendo, tiver curiosidade por mais. No livro, Arnaldo é o pai, e Noly a filha. Como na vida. Mas há outro Trindade, o avô Januário Augusto Trindade, a quem é dedicada a obra.
No interior, tudo, desde a ficha técnica até ao que arrisco nomear como posfácio, é caligrafado. E sem termos a pretensão de penetrar na motivação de quem fez esta opção, vale a pena debruçarmo-nos sobre o étimo da palavra “caligrafia” que vai ao grego (“kalligraphia”) buscar a raiz “kallos”, que traz o conceito de beleza da raiz indo-europeia “kal”, onde significa belo; “graphein”, tem a ver com o que é escrito ou gravado, palavra que passou a aplicar-se também ao registo de som. O que aqui se torna muito significativo. Com esta explicação, talvez me possa aventurar a acreditar que a belíssima pintura da capa já indicie o caminho escolhido e que a caligrafia prossiga estes passos. A opção pela estética é, aliás, a marca do trabalho fonográfico de Arnaldo Trindade, sempre marcado por enorme rigor num tributo à beleza, rigor sem o qual esta soçobra.
Numa espécie de ante-prefácio sem esse nome, Noly apresenta-nos a génese do livro. Entremos então nele com este primeiro texto. Ficamos a saber que presidiu ao nascimento deste livro um exercício de que um cabalista, ou Platão no seu “Fedro”, ou uma criança, não desdenhariam. Aqui mostra como olhou algumas palavas como se pela primeira vez, e como lhes reagrupou as letras. A propósito disto, anexo a esta crónica o endereço de um texto que escrevi em tempos sobre o nosso tão extraordinário quanto ignorado filósofo da linguagem, António Telmo e os processos de manipulação das palavras:
https://www.antonio-telmo-vida-e-obra.pt/news/voz-passiva-63/
O que Noly descreve no seu texto como explicação ou apresentação do que se segue no livro, é a operação a que começou por se entregar, decompondo palavras e criando polissemias. Mas existindo um sentimento prévio a esta decomposição que era o peso das palavras, foi pelo desenho que procurou expressá-lo. O que conseguiu. Temos então palavras, as mesmas decompostas, desenhadas e, cumprindo o prometido no título da capa “diálogo (familiar) entre desenho e poesia”, os poemas, onde entra o pai, artista dos sons e poeta, o que não deixa de ser algo muito parecido.
O prefácio, esse sim, assim nomeado, do editor Rui Vaz Pinto, e se me é permitido, um talvez posfácio de Jorge Cordeiro, são como lampiões que tal como o candeeiro presente em todos os desenhos, iluminam o que deve ser iluminado.
Na contracapa um ponto não final, mas de exclamação, sem a forma gráfica que lhe conhecemos, e sim com palavras:
“um apelo d'humanidade”. Assim termina este manuscrito impresso envolto numa capa como numa iluminura. Iluminado. Por tudo isso aqui especialmente recomendado.
Quarta-crescente” seguinte, nº472, em 2021-05-12 (http://www.unicepe.pt/
quartas_14/q_472.html ), Risoleta Pinto Pedro tem o post scriptum que segue:
(Na última crónica “trouxe” aqui um adorável livro elaborado num contexto de família, mais especificamente, a família de Arnaldo Trindade. O livro é dedicado ao seu pai e criado em colaboração com Noly... seu filho!, e não filha, como eu erradamente supus, apesar de nada me induzir a isso, apenas a minha fantasia. Vá-se lá saber porquê.