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BAIÃO CANAL - Jornal

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A Escola do futuro e a pandemia | Maria Odete Souto

Odete Souto

 Completa-se a 16 março, um ano sobre o encerramento das escolas, por força da pandemia. Nessa altura, as escolas, de todo impreparadas para tal realidade, como de resto toda a sociedade, desdobraram-se em esforços e em apenas um fim de semana, de loucos, particularmente para os/as professores/as, foi possível, alterar todas as formas de trabalho, aprender, batalhar, investigar, colaborar e, na segunda-feira, estar em ensino à distância, a trabalhar online.

Faz parte da nossa essência de ser professor/a, trabalhar com e para os/as alunos/as enão poderíamos deixar que acontecesse de forma diferente. Estávamos a meio de um ano letivo e não os podíamos perder de mão, de olho, dos nossos horizontes e do nosso labor. São a nossa razão de ser.

O tempo foi correndo e com ele as incertezas de regresso e daquilo que poderíamos esperar. A angústia ia aumentando, porque tínhamos consciência que não conseguíamos chegar a todos/as, que a qualidade das aprendizagens deixava muito a desejar e que as assimetrias e desigualdades se iam acumulando. E o cansaço ia-se abatendo sobre tudo e todos/as, sem respostas para o futuro, inclusivamente, no que tocava à avaliação externa, isto é, aos exames. E eis que, finalmente, a tutela se pronuncia, e foi com algum alívio, que todos: alunos/as, pais, professores/as, receberam a notícia da suspensão dos exames do 9º ano e a alteração dos do secundário.

Terminou o ano letivo, sem terminar. Uma coisa muito estranha, porque a vida das escolas é presencial, feita de afetos, partilhas, conflitos e superação. É vida e aprendizagem. E a cada final de ano letivo, há sempre um tempo de maior intimismo, de confidência, de preparação do voo, quais aves migratórias. E não foi possível este voo livre e mais ou menos com rumo. Não foi possível preparar a partida…

Fez-se planos e legislou-se. Era preciso recuperar as aprendizagens, disse-se e escreveu-se. E acreditou-se.

Mas não. Não se recupera assim. Era preciso regressar ao presencial, acolher, avaliar todos/a e cada um/a e começar a caminhar, não deixando ninguém para trás. Todos/as sabíamos que ia ser difícil. E foi.

Vivíamos e vivemos um tempo de incerteza, e tínhamos colhido algumas lições. A escola não era a mesma. Tudo estava diferente: as pessoas, os espaços, a organização escolar. Mas estávamos lá. E ninguém queria o regresso ao confinamento e ao ensino à distância. Mas aconteceu.

Estávamos mais preparados. Mas não podemos ignorar que também mais cansados e mais conscientes das fragilidades de tudo isto. Acumulamos o desgaste do final do ano anterior.

Não era tempo de cruzar os braços e lá fomos à luta, de novo. À distância…

Neste momento, em que os números da pandemia nos dão alguma trégua, é com muita satisfação que vejo haver um plano para reabertura das escolas, a começar pelos mais pequenos, afinal os mais suscetíveise que estão numa fase de crescimento em que a socialização e o brincar são determinantes. E são também aprendizagens escolares. Aprende-se tanto a brincar!

É também com muito agrado que vejo, da parte do ME, o assumir o cancelamento das provas de aferição e das provas finais de ciclo de 9º ano (vulgo exames). Da mesma forma, prevê que os/as alunos do secundário terminem este nível de ensino com a avaliação interna. Coisa diferente será o acesso ao ensino superior.

Aprendeu-se alguma coisa, ou melhor, aprendeu-se muito e é importante que se transforme isto em oportunidade de mudança. De mudança da Escola e do acesso ao Ensino Superior.

Percebemos, hoje mais do que nunca, que temos um mundo em transformação e que é para a mudança que a escola tem que preparar. Que é sempre possível mudar e, por isso, devemos caminhar implicados, mas sem a preocupação de fazer tudo, e tudo perfeito. É importante simplificar e aprender a aprender. É importante perseguir sentidos e aproveitar o digital, não como a solução milagrosa para tudo, mas como uma estratégia e um instrumento de aprendizagem.

Sabemos que nada substituiu os/as professores/as e o presencial. Mas sabemos também que o online pode ser um complemento de tudo isto.

Neste tempo tão exigente para todos/as é preciso confiar nas escolas e nos/as professores/as. É preciso inovar. É preciso partilhar, estudar, aprender.

É importante que se faça aferição das aprendizagens adquiridas, dos danos, de tanta coisa que só poderá ser feita ao longo do tempo.

Mas é também preciso que se valorize os/as professores/as e a carreira docente. É preciso que se adeque os horários laborais para que o trabalho colaborativo e a articulação pedagógica seja um facto. É preciso que haja tempo para formação.

As exigências colocadas hoje aos professores e às escolas obrigam a formação e atualização constantes e a muitos níveis.

Por isso, ao fim de um ano tão exigente para todos/as espero, muito sinceramente, que disto se retirem lições a todos os níveis.

Que os pais e encarregados/as de educação entreguem os seus filhos nas escolas, nas creches, nos Jardins de Infância, com confiança. Que esses mesmos e toda a comunidade percebam que não vencemos a pandemia e, por isso, que todos precisam de cumprir regras sanitárias, já largamente divulgadas, e que o facto de se verem sem os filhos não sirva para irem conviver sem qualquer precaução.

Que as escolas se organizem por forma a constituírem-se como comunidades de aprendizagem que incorporemas culturas locais e a realidade e individualidade de cada criança que habita o aluno, assumindo uma interação transformadora, sem nunca perder de vista as competências essenciais e o perfil do aluno.

Que o reconhecimento e respeito pelos professores e pela escola seja uma realidade e não se traduza em meia dúzia de parangonas colocadas num qualquer pasquim para se desfazer nos primeiros pingos de chuva.

Por fim, sigamos com esperança e responsabilidade.

 

Maria Odete Souto

 

 

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