O futebol português, com sotaques | Aníbal Styliano
Em qualquer ponto do Mundo, o futebol permite comunicar com emoções, com sorrisos e gestos.Há diversos países onde o Português é idioma partilhado: espaço de lusofonia, memória, futuro valioso e imparável.
O futebol dos países onde se fala português tem história, dificuldades, alegrias e protagonistas comuns, dribles, desmarcações, golos, fintas, simulações, passes, cortes, remates e defesas que são vividas, recordadas e sonhadas em português, com sotaques…
É um futebol vencedor: títulos mundiais e continentais (com seleções e com clubes), botas e bolas de ouro, inúmeros troféus e distinções coletivas e individuais, com importantes contributos do futsal e do futebol de praia.
Como língua e como futebol, com semelhanças mas também divergências, com história e com futuro, esperamos que superem fronteiras e reduzam distâncias, com afeto.
Partilhando ideias e conceitos, metodologias e estratégias, planeamentos e projetos, cada um dos países da lusofonia preserva as suas especificidades.Há uma matriz com identidade conservando raízes próprias.
O drible em África é magia, no Brasil é arte, em Portugal é paixão, em Timor é sonho de liberdade e, mesmo nos diversos locais onde o português é falado, é também memória com passado comum, cooperação, alegria, desafio e caminho para o encantamento do golo!
No futebol que fala português reside um potencial singular que pode contribuir para a evolução qualitativa da modalidade, com a liberdade do talento, com as condições que facilitam génios, sem complexos mas apego aos pormenores que nos distinguem.
Há na nossa língua, um imenso estádio de entendimento, um sentir matizado e profundo que conquista o título da amizade como exemplo solidário… Golo maior é impossível.Das vitórias, sinais de memórias; das medalhas, raiz; da língua, um mundo para saborearum futebol livre.
Tenhamos confiança no futebol que fala português.
A “Sodade” de Cesária Évora é aquela que nos preenche e nos une como destino irrecusável: do passado, do futuro, essencialmente do presente, num processo emotivo como só emportuguês se consegue entender e sentir.
Além da competência, a facilidade de adaptação dos treinadores que falam português é presente e reconhecida, em inúmeros locais, como destino de povos que ajudam a construir a casa global, fraterna.
Superando dificuldades, são muitas dezenas os treinadores (e jogadores) que, para além dos mais famosos, continuam a fazer trabalho fantástico ao serviço do futebol, mesmo sem a atenção dos holofotes mediáticos, em todos os Continentes e nos lugares mais recônditos. Temos em comum um desafio enorme para superar: ser exemplo de entendimento e de partilha, com transparência e solidariedade. O futebol que se exprime em português, tem em si mesmo o destino do sonho dos miúdos descalços, a jogar com bolas de pano improvisadas, em espaços de terra aos socalcos, libertando a imaginação, a criatividade e construindo momentos que se tornam eternos.
Aníbal Styliano (Professor e Comentador)
Arquivo