Para muitos jovens o ano não começa em janeiro, mas sim em setembro, com o início de um novo ano letivo. Depois de um período de férias, na maioria dos casos, sem horários, sem atividades estruturadas, com poucas rotinas, sem horários para dormir ou acordar, com horas a mais nos telemóveis, eis que chega setembro, rápido demais.
Começa a azáfama da compra dos livros e material escolar, da escolha das atividades extraescolares que se quer continuar e de que se quer abdicar, de conhecer o horário da escola e o nome dos professores. Nos frigoríficos colocam-se horários que compilam tudo isto, para facilitar a logística. Falamos da logística de encaixar o trabalho, a vida e as agendas dos pais, a vida da família, com todas as atividades dos miúdos. Quem leva, quem vai buscar e todo o stresse que isto gera, nos pais e nos filhos. Desengane-se quem pensar que isto é uma tarefa fácil, pois não é certamente, e se calhar todos os que estão a ler esta crónica se identificam com isto e sentem já alguma ansiedade a tomar conta de si. Pois bem, precisamos de tempo no meio disto tudo, precisamos de tempo para não fazer nada, de ócio, de prazer, de viver com mais calma. Miúdos na escola entre as 8h00 e as 17h00, música, teatro, futebol, ginásio, natação, etc, depois destes horários. Pais que são autênticos Ubers, a correr de um lado para o outro. É assim a escola atual. E, depois, ainda se exigem bons resultados aos filhos e aos pais.
Ninguém consegue aprender depressa, num ritmo assim acelerado, a aprendizagem implica tempo para pensar. O tempo para ser criança é único e não volta mais. Vamos tentar viver mais devagar para que o tempo não fuja, nem aos pais nem aos filhos.
As famílias têm alguns dias para preparar o regresso às aulas - período muitas vezes marcado pela adaptação a novas escolas, turmas, rotinas, disciplinas, etc... O que pode representar uma sobrecarga emocional para os mais novos e para os pais. A grande dificuldade neste regresso à escola é voltar às rotinas e aos horários mais rígidos para os filhos. Já para os pais é terem de voltar a reorganizar as agendas para encaixar os horários escolares e das atividades extracurriculares que os filhos têm. Neste reajuste para toda a família, é importante viver algumas etapas e momentos em conjunto: Os pais devem partilhar os momentos da compra do material escolar com os filhos, devem explorar os manuais das disciplinas juntos, no sentido de reforçar o sentimento de partilha desta nova etapa, tentando transmitir segurança e tranquilidade. Sobretudo, há um fator importante que os pais devem ter sempre em conta: os sentimentos dos filhos são comuns a quase todos os miúdos, são válidos, têm uma causa. Os pais devem validar a ansiedade e ajudá-los a superá-la, falando do motivo desta maior agitação, demonstrando disponibilidade e tempo para os ouvir neste processo do regresso.
Quando se trata de novos ciclos letivos ou, se os alunos vão mudar de escola ou de turma, é preciso ter uma conversa mais abrangente sobre os momentos de mudança na vida e que as mudanças podem ser difíceis mas são também oportunidades de fazer novos amigos e ter novas experiências. O regresso às aulas não tem que ser motivo de instabilidade, não tem que ser um momento desorganizador para pais e para filhos, pode ser afinal mais um momento de mudança em que o mundo de cada um pula e avança.
Desejo a todos e a todas um ótimo regresso às aulas.
Rita Diogo