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BAIÃO CANAL - Jornal

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OS PEQUENOS TAMBÉM SÃO GRANDES | Aníbal Styliano

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Final da época e recomeço

 Campeonatos resolvidos, férias para relaxar, reforçar laços familiares, mantendo cuidados alimentares e de movimento sem pressão, diversão quanto baste e o tempo a fugir a grande velocidade. Como um banho “sagrado” junto dos mais próximos, a confiança cresce. Manter a coerência e tentar sempre avançar com qualidade, seriedade, intensidade, lealdade e rigor. Seja nos campeonatos distritais, no campeonato de Portugal, nas diversas ligas nacionais, sabe-se que só se pode dar o máximo. No futebol não há lugar para amuos, mas podem surgir momentos tristes e é nessas alturas que a amizade se torna invencível. Da época finda importa reter as aprendizagens mais úteis, os lances que temos de aperfeiçoar e aprender a “ler o jogo” cada vez melhor. Pensar rápido permite antecipar alternativas e as memórias gestuais fazem-nos companhia. Mas o futebol tem de ser acompanhado de outros sabores. Ler, ver jogos, falar com família e amigos ajuda a postura mais alinhada e a cabeça mais livre.

O que mais complica é a simplicidade aparente do jogo. Visto da bancada parece fácil o passe certeiro; ao nível do solo, a dificuldade torna-se real. Se o treinador se mantém, há rotinas que ajudam a passar para nível superior, caso não seja assim, importa adaptar com rapidez, questionar ocupação espacial e criar dinâmicas diversificadas para alterar projeto de jogo em campo. Ao contrário da escassez de referências, a componente técnica é essencial e merece trabalho intenso. Quando a bola e o jogador formam uma unidade é mais fácil atingir objetivos. A cultura tática, a organização posicional e preenchimento de espaços, a atacar e a defender, quanto mais ampla, mais opções para sair com perigo para o adversário e reduzir o risco para a nossa equipa. A disponibilidade e as capacidades da dobra é essencial para manter a coesão da equipa. Mas o futebol exige mais. São imprescindíveis as compensações, a leitura, o filme, a escrita a tecnologia, e outras atividades, para aumentar a capacidade de se surpreender e criar rotinas de sucesso, como aptidões de decisão. Decifrar o jogo do adversário, identificardinâmicas, descobrir pontos fortes e mais fracos, ou até adivinhar os lances porque repetitivos, permitem maior velocidade e um compromisso entre a razão, a inteligência e a realização. Mas nada é linear. Por vezes, parece que desaprendemos e nada sai como queríamos. Há fases assim e para as superar só com mais trabalho, melhor relação com a bola, criando novas saídas e passes mais longos, desde que exemplares.

Como um relógio, a equipa tem várias peças, diferentes umas das outras, mas complementares e a funcionar em conjunto como uma única realidade. Todos têm de compreender essa exigência. Por vezes, há momentos de descontrolo, de falta de ligação que não devem ser continuados, mas travados a tempo. E assim, começa a época. Mecanismos apurados, vontade no máximo, o plantel é vasto e a luta pelo lugar, deve ser intensa, séria. Não arranjar desculpas mas criar soluções. Estar sempre preparado para entrar (ou sair) em qualquer momento. No futebol jovem a presença das famílias pode ser um apoio à equipa mas também um problema que afasta. Por isso, na primeira sessão, o mister deve reunir com os familiares e indicar os processos e as regras a seguir. Coerência no que se diz e honestidade no que se faz. Na formação joga-se para treinar e melhorar, nos escalões seniores treina-se para jogar e vencer. Claro que a vitória tem um sabor único que nos abre um sorriso agradável. Porém, das derrotas ou empates, retiram-se elementos fundamentais para construir um modelo de jogo cada vez melhor e mais eficaz. Começar no clube da proximidade pode ser uma vantagem, que ajuda a entender a finalidade do jogo e da amizade em grupo. E os clubes mais humildes são campeões nisso, porque acarinham, aceitam, motivam sem desvalorizar e assim impedem desistências e abandonos lamentáveis. Foi com diretores atentos aos pormenores e às reacções de cada um que aprendemos a intensificar a vontade de aperfeiçoarpara nos tornarmos jogadores. Foi nos escalões de formação que construímos raízes de amizade que ainda hoje se mantém e que são importantes porque nasceram connosco. Foram tantas as aventuras, inclusive alguns sócios que nos davam prendas por cada golo (dinheiro) e que partilhávamos com toda a equipa, ajudando a alegrar a cara do dono do café onde o dinheiro se transformava em bolos…E mesmo antes do almoço. Só não gostávamos quando o adversário se atrasava muito e os árbitros, após o tempo de tolerância, queriam dar o jogo por concluído com a nossa vitória por falta do adversário e nós pedíamos aos árbitros que esperassem mais um pouco, porque o que mais queríamos era jogar. E conseguimos muitas vezes a atenção dos árbitros e o jogo, apesar de atrasado acabava por se realizar. Nada é tão mau como ganhar por falta de comparência, não tem gosto, apenas desgosto.

Mas esse já é outro episódio.

 

Aníbal Styliano (Professor e Comentador)