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BAIÃO CANAL - Jornal

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DUAS DE LETRA | Lourdes dos Anjos | CACHOPAS , MOÇOS E AVÓS (2004)

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Quando a vida não era mãe nem fada madrinha
Quando as cachopas nasciam mulheres
com direito a dois furos nas orelhas e uma linha.
Quando os moços nasciam homens
de mãos calejadas sem direito a meninice
quando o choro era dor e nunca uma perrice
quando o pai era dono, rei e senhor
quando a mãe era só parideira sem direito ao amor...
eram tristes tempos de vidas cheias de pobreza
onde a primavera não tinha data para nascer
e era pecado recusar a cruz e o sofrer.
Hoje as crianças já nascem crianças
com direito a berço feito de mimo e amor
com pai e mãe partilhando o parir , a alegria e a dor.
Mas com tão rápida e enorme mudança
vive-se um fantástico e efémero "faz de conta"
compra-se uma vida feita á pressa e meia pronta
inventam-se tempos com algum tempo d'ilusão
e esquecem-se a honra ,a moral, e a retidão.
Deixa-se pelo caminho o equilíbrio e a humildade
enquanto se destrói o sonho de natural igualdade
As cachopas e os moços dum tempo sem meninice
são , hoje, avós mergulhados na negra noite da velhice
e muitos dias sem abraços, sem sol, sem esperança
num retorno doloroso ao seu tempo de ser criança
E enquanto os que tudo tem sempre exigem mais
morrem de solidão os velhos PAIS DOS SEUS PAIS.

Eduardo Roseira | A MALDIÇÃO DOS TELEMÓVEIS

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Toca o telemóvel, são quase duas horas da manhã, coisa rara, eu dificilmente tenho o “télélé” ligado a tal hora.

Olho para o visor – número desconhecido – não atendo porque desde sempre tenho por costume não o fazer, pois não dou ouvidos a pessoas que se escondem no anonimato.

O “anónimo”, (aquela hora não devia ser um vendedor?), volta a insistir por mais duas vezes – Irra que é chato! – penso para comigo – Não estranho de quem seja a chamada, pois todos os meus amigos e familiares sabem bem que não atendo quando surge – número desconhecido – no visor, portanto posso ir dormir descansado.

 

Já é Sábado, amanhã não trabalho e só volto a fazê-lo daqui por oito dias – féééérias – ah!, coisa boa, descanso e mais descanso, e para que ninguém me aborreça desligo o telemóvel, férias são férias.

 

Durmo até tarde, a única coisa que tenho em que pensar, além de preparar o saco de viagem, é para onde hei-de ir nestes próximos dias. A escolha é fácil, ou seja, vou para perto porque os euros são poucos para a viagem, quanto ao resto é ir até à praia e entreter-me com a leitura de poesia e uma ou outra revista de viagens com paisagens paradisíacas… e sonhar…sonhar…sonhar.

Por falar em viagem e sonho, já me contentava com uma ida a Paris, só que o que se gasta na passagem de ida e volta, dá-me para uns bons dias de férias por cá, no campismo….

Revejo mais uma vez o saldo bancário e decido que amanhã bem cedo parto de viagem e vou acampar em Vila Nova de Mil Fontes, está decidido!
…………………………………………………………………………………..

Já Domingo,acordo às seis horas da manhã, hora de partir para o meu destino, como estou de férias e nunca fui “escravo” do telemóvel só o volto a ligar nesse momento.

- Ena!? – tenho o aviso de seis chamadas não atendidas, do – número desconhecido – e um SMS que dizia o seguinte:

- “Migo, tenho um n.º de tlm novo- 960 123 321. LigueiéneXs – parto pra paris às 5 da manhã, volto dentro 5 dias. Keres vir, dou-te boleia. Ficamos em casa do meu irmão. Liga-me, bjs, lena”........

eduardo roseira